Senhores Deputados, esta Sessão Plenária é dedicada à Prevenção Rodoviária e passo desde já a palavra ao Governo.
Dionísio Mendonça
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
Este Governo não se contenta com questões adiadas, pois não foi para adiar que fomos eleitos. Somos pessoas conscientes das nossas responsabilidades e das necessidades do país em matéria social. Estas questões bloqueiam o desenvolvimento e ameaçam deixar Portugal ainda mais para trás nesta Europa e neste Mundo de tanta competitividade.
Seria muito simples ir pelo caminho mais fácil, deixando tudo como está. Os adeptos deste tipo de política ensinaram-nos que isso só deixa ainda mais o país na pobreza e mais distantes dos nossos parceiros europeus. Impõe-se por isso um caminho que não seja de facilidades. Pretendemos olhar mais a fundo e entrar nas questões sociais emergentes.
Temos uma visão de futuro para dar a resposta mais adequada a todos os problemas. Nem que para isso se tenham de enfrentar os interesses corporativos.
Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados
O nosso caminho é no sentido da reeducação e sensibilização dos condutores portugueses, para garantir uma maior segurança nas estradas portuguesas.
Urge pedir a todos uma condução mais responsável e consciente. O futuro deste país passa pelo melhoramento das pessoas e pela evolução de mentalidades.
Combater a sinistralidade nas estradas é uma forma de caminhar nesse sentido. Assim, a proposta que submetemos a esta Assembleia assenta na adopção de medidas especiais para combater o flagelo nas estradas. Com estas medidas, o Governo pretende vincar a reabilitação, evitando a repetição dos erros. Medidas que visem apenas a punição apenas gastam dinheiro e recursos do Estado.
Nós queremos, isso sim, investir, obrigando todos os condutores com menos de 30 anos, titulares da carta há menos de 5 anos a irem de encontro às vítimas dos seus erros e que, infelizmente, ficaram com marcas para o resto da vida.
Só assim evitaremos que os maus comportamentos nas estradas sejam erradicados, ao invés de serem apenas punidos.
PALMAS
Em segundo lugar, vamos alterar as medidas coercivas à disposição dos tribunais, bem como a filosofia da sua aplicação. Com esta proposta, introduzimos uma especial atenção à prevenção do álcool e drogas. Este bloco de medidas terá o nome de “Medidas Especiais de Formação”. Estas consistem em formação e acção cívicas fundamentais para a assumpção do respeito nas estradas.
Este é o essencial duma proposta exigente, mas justa e equilibrada, seguindo a linha lógica da nossa acção em matéria rodoviária. Uma linha com o elevado sentido de justiça que tem marcado a nossa actuação. Estão os portugueses certos que o esforço que lhes está a ser pedido fará sentido no futuro.
Presidente Terá de concluir.
O Orador Nesta altura em que o País atravessa dificuldade sociais, um apoio expressivo da Assembleia da República a esta iniciativa do Governo será algo importantíssimo e dignificador do papel do Parlamento junto dos Portugueses.
Deixo esta proposta mas mãos da Assembleia e sei que ela fica em boas mãos.
Obrigada.
PALMAS
Dep. Carlos Coelho
Obrigado, senhor Ministro. Passo a palavra à senhora Deputada Rita Pato do Grupo Bege
Rita Pato
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmos. Senhores Membros do Governo Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
Existe uma pequena diferença entre “ir ao encontro de” e “ir de encontro a”
RISOS E PALMAS
Mas nós ouvimos com atenção a vossa apresentação e não queremos menosprezar a temática da prevenção rodoviária. Contudo, não podemos apoiar a vossa medida.
Não nos parece uma proposta viável, tendo em conta os parâmetros definidos para a sua aplicação. Em primeiro lugar, pretendem aplicar estas medidas a condutores alcoólicos e dependentes de drogas: isso suscita as nossas dúvidas pois sabemos que em cerca de 100 acidentes, apenas 1% são causados por excesso de álcool. Onde estão os restantes 99%?
PALMAS
Aliás, os dados dizem-nos que os acidentes mortais verificados há dois anos atrás por excesso de álcool (condutores entre 0,5 e 0.19 gramas/litro de sangue) foram zero! E os feridos foram à volta de 1%.
Será mesmo necessário implementar esta medida em condutores com dependência alcoólica? Não será melhor agir de forma firme e pragmática na resolução do alcoolismo? Este sim, afecta os jovens!
É também um facto que desde 2001 o número de mortos verificados em acidentes de aviação tem sido progressivamente mais baixo que o valor de decréscimo médio anual. Temos ainda dados que nos permitem afirmar que diminuiu o número de mortos e de feridos graves. Isto só vem confirmar que as medidas que nós implementámos no passado foram um sucesso.
Presidente Senhora Deputada, tem de concluir.
A Oradora Cuidado com a formação. Não contacte os alunos do Prof. Alexandre Picoto porque os alunos dele nada sabem.
RISOS e PALMAS
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado senhora Deputada. Tem a palavra para intervir o senhor Deputado Bruno Fragoso, do Grupo Roxo.
Bruno Fragoso
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmos. Senhores Membros do Governo Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
Os meus parabéns: é o primeiro discurso demagógico e vazio que eu ouço nesta assembleia
PALMAS
Foi difícil encontrar uma palavra que pudesse ser contestada nesta proposta. Mas, já que não fizeram o favor de elucidar a Assembleia sobre aquilo que hoje será aqui votado, eu tentarei elucidar aqui os senhores Deputados.
Sete meses após a publicação do Decreto-Lei 44/2005, este Governo tem uma preocupação necessária e meritória sobre a sinistralidade rodoviária. Os nossos parabéns, desde já.
Pena é que os vossos esforços tenham resultado nesta fraca e tortuosa proposta.
PALMAS
Os resultados conseguidos desde o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária de 2003 são visíveis. Não vale a pena arranjarem visões refinadas dos dados estatísticos porque eles não enganam e demonstram que estamos no caminho certo. Se for necessário, podemos utilizar o excelente trabalho da nossa colega.
PALMAS
É na promoção e desenvolvimento da educação rodoviária e no aumento da fiscalização que reside a estratégia óptima para aumentar a segurança nas estradas portuguesas. A título pessoal, prefiro ter condutores educados a ter condutores traumatizados e amarelos. A violência psicológica desta proposta é simplesmente hedionda e pode causar mais danos que benesses. Sejamos realistas. Um jovem apanhado por três vezes acima do limite máximo previsto e seja obrigado a passar (cito) “um mínimo de 176 horas ligado ao resultado de acidentes de viação”, não acha que é demasiado dramatismo?
PALMAS
Aplicamos este argumento às alíneas a) e b) do artigo 6 da proposta. Quanto aos restantes, são simplesmente aberrantes, à falta de melhor adjectivo. Nem sequer os vou repetir, seguindo o exemplo do senhor Ministro.
Presidente Queira resumir, senhor Deputado.
O Orador Perdoem-me o desabafo, mas este Governo é que deveria ter um mínimo de 176 horas de contacto com sinistrados, podia ser assim que tivesse mais respeito pelos condutores portugueses e mais respeito pelos profissionais a quem um segundo pode significar a vida de uma pessoa e um empecilho pode significar a perda de uma vida.
Devo dizer que com esta proposta puseram a carroça à frente dos bois.
Dep. Carlos Coelho
Obrigado senhor Deputado. Passo agora a palavra ao Governo para responder.
Alexandre B. Cunha Pereira
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
Permitam que responda às interpelações. Devo dizer que estão a ir demasiado depressa, meus senhores. E cuidado que podem capotar,
PALMAS
Com consequências gravíssimas para vós mesmos.
Senhora Deputada, a senhora falou em problemas de “aviação”? a senhora deve querer encontrar o céu nas estradas portuguesas!
RISOS E PALMAS
Senhor Deputado, o senhor tem tanta convicção no que está a dizer que precisa de ler o que tem à sua frente? Não acredita no que está a dizer?
Vozes MUITO BEM
O Orador O senhor faz-me lembrar o eng. Sócrates.
PALMAS
A única diferença é que o senhor tem uma folha e ele tinha duas placas tecnológicas.
RISOS
E deixem-se responder às duas oposições: é uma desonestidade intelectual gritante vir a esta Assembleia e depois do debate profícuo que aqui tivemos os senhores não alteraram um milímetro a vossa posição! Por favor, ganhem consciência do papel que desempenham nesta Assembleia.
PALMAS
Mais, eu estou ansiosamente à espera que um dia alguma dessas bancadas e também daquela [O ORADOR APONTOU PARA O GRUPO SURPRESA] concordem com alguma das propostas que apresentemos aqui.
PALMAS E PROTESTOS
Só assim é que vamos para a frente, com construção positiva.
Uma voz Comece a governar!
PROTESTOS NAS BANCADAS
O Orador Esta lei
Presidente Ordem na sala, senhores Deputados.
O Orador Esta lei assenta numa base, numa ideia para bem da nossa sociedade, com que os senhores até concordarão, que é diminuir a sinistralidade. Relativamente às estatísticas, ainda bem que falam delas: elas são um indicador, mas do passado! Os senhores são retrógrados, só falam do passado! Temos de olhar para o futuro! E é por olharmos para o futuro que queremos intervir na faixa etária mais preocupante neste capítulo.
PALMAS
Consultem a vossa documentação e verão que de cada vez que se introduziram restrições na lei a sinistralidade diminuiu! E é precisamente isso que queremos!
PALMAS
Tenham consciência do vosso papel aqui. Mais, o vosso autismo preocupa-me, pois não conseguem perceber os três pilares essenciais em que assenta a nossa proposta: a consciência, o civismo e a reabilitação.
É a consciência de que partilhamos a estrada com outras pessoas. O civismo: como os senhores têm grandes carros, pensam que podem fazer da estrada o vosso percurso automobilístico. É aí que temos de actuar.
Presidente Conclua senhor Ministro
O Orador Finalmente, todas as leis devem ter um pendor na reabilitação, para que mais ninguém volte a cair no erro. Quem cai no erro, depois de reabilitado, não cai novamente. E se matou alguém, passará a andar com muito mais cuidado nas nossas estradas.
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado. Passo a palavra ao Partido Surpresa.
Dr.Alexandre Picoto
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmos. Senhores Membros do Governo Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
Vou prescindir da minha intervenção para ler uma carta que me chegou às mãos.
«Pedi ao senhor Deputado Alexandre Picoto que lesse esta carta durante a discussão da vossa proposta. O meu nome é Maria, tenho 11 anos e escrevo directamente do Hospital São Francisco Xavier. Queria contar-vos a minha história. No passado dia 3 de Agosto, pelas 23.52h, a minha mãe apertou-me a mão pela última vez. Depois foi para o céu, disseram-me. Uns dias antes, pelas 07.30 da manhã, íamos levar o Pedro, o meu mano que tinha três anos, ao infantário. Ao chegarmos ao jardim da Estrela, um carro conduzido por um jovem que regressava de uma discoteca não respeitou o sinal vermelho e bateu na minha mãe, no meu mano e ainda me acertou. Dizem-me que o meu mano morreu logo e não sofreu. A minha mãe e eu fomos levadas para o hospital. Estiveram dois dias a tratar de mim e dizem-me que vou ficar bem, mas tenho de fazer fisioterapia durante alguns meses. Quando perguntei pela minha mãe, disseram-me que estava noutro lado e levaram-me até lá. A minha mãe, a minha querida mãezinha estava muito doente. Ela disse-me para eu me portar bem e que tinha de se ir embora e que eu teria de ajudar o meu papá a ser forte. No outro dia esteve cá um rapaz que queria falar comigo. Chamava-se João e tem 28 anos. Disse-me que foi ele que levou a minha mãe e o meu irmão para o céu…»
Presidente Senhor Deputado, tem de concluir.
O Orador Senhor Presidente, não percebo que não haja consideração por esta carta! «… senhor Deputado, não gostei nada de falar com ele. Ele pediu-me desculpa, disse que estava muito arrependido que queria que eu o desculpasse. Mas eu não consigo parar de ver a minha mãe a agarrar-me a mão pela última vez.»
Presidente Obrigado senhor Deputado
O Orador Desculpe senhor Presidente mas eu vou terminar.
Presidente Já terminou senhor Deputado.
PROTESTOS DO GS
O Orador Peço recurso para a Assembleia
Dep. Carlos Coelho
O senhor Deputado sabe que essa figura não está autorizada. O senhor Ministro José Maldonado tem a palavra.
José Maldonado
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República Exmas. Senhoras e Senhores Deputados
MUITOS PROTESTOS DO GS
Senhor Deputado, eu ouvi-o com toda a atenção e espero que siga o meu cordial gesto e ouça o que eu tenho para lhe dizer.
Senhor Deputado, o que o senhor faz nos seus tempos livres e as cartas que escreve a si mesmo sob efeito de narcóticos não dizem respeito ao estado da nação.
Vozes MUITO BEM
PALMAS
O Orador Senhor Deputado, foi sendo permissivos que deixámos bandidos como o senhor entrar neste hemiciclo.
RISOS
Como é que o senhor lê essa carta? Nós estamos aqui para legislar e fazer o melhor para Portugal. Nós queremos evitar as mortes nas estradas! O senhor por acaso sabe quantos morreram nas estradas no ano passado? 1135, senhor Deputado.
PROTESTOS DO GS
E tem havido um decréscimo de 40% senhor Deputado. Mas isso não é suficiente, não estamos dentro do padrão europeu. Como europeus que somos temos de nos enquadrar.
PROTESTOS DO GS
Presidente Senhores Deputados, ou se portam decentemente ou mando evacuar.
RISOS E PALMAS
Conclua senhor Ministro.
O Orador Senhor Deputado, vou explicar-lhe a nossa medida. Face ao figurino estático da multa, pretende-se com esta medida dar formação, mas não vamos gastar dinheiro dos contribuintes pois a formação será dada em centros de acolhimento a necessitados, lares de terceira idade, onde os jovens poderão desempenhar um papel importante. Será essa a sua contribuição.
PALMAS
Com a nossa medida haverá um duplo beneficio: não teremos custos para o estado e traremos vantagens sociais aos jovens, reeducando-os e permitindo um incremento de civismo.
Obrigado.
Dep. Carlos Coelho
Obrigado senhor Ministro. Vamos proceder à votação. Peço que levantem o cartão os Deputados que consideram que o Governo ganhou o debate (pausa), quem considera que foi a Oposição Um a vencedora levante o cartão (pausa), e quem considera que a Oposição Dois saiu vencedora levante o cartão (pausa).
Resultado final: 41 votos para o Governo, Oposição Um 2 votos e Oposição Dois 5 votos. Declaro vencedor o Governo.