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Revista de Imprensa
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Assembleia (simulação) - Tema: Prostituição
 
Dep. Carlos Coelho
Antes de iniciar formalmente os trabalhos, eu queria recordar as regras.
Primeiro, vamos ter cinco assembleias até ao intervalo para o café:
Assembleia 1 sobre Prostituição, Assembleia 2 sobre a Capital no Interior, Assembleia 3 sobre a Abstenção, Assembleia 4 sobre o Desemprego e Assembleia 5 sobre Natalidade.
Depois do intervalo, teremos as assembleias 6 a 10, cujos temas são os Símbolos Nacionais, a Prevenção Rodoviária, as Quotas para Mulheres, os Círculos Uninominais e os Subsídios para a Cultura, por esta ordem.

Cada Assembleia tem a duração de 17 minutos. O Governo tem 5 minutos para apresentar o seu programa, a Oposição Um fala por três minutos, a Oposição 2 fala por três minutos, o Governo responde por três minutos. Depois o Grupo Surpresa fará uma interpelação de um minuto e o Governo responde por dois minutos.

Terminado o ciclo de intervenções, perguntaremos aos grupos sentados da segunda para a última fila (os grupos que não participaram no debate, que designamos de “grupos neutros”), quem ganhou o debate: o Governo, a Oposição Um ou a Dois. É uma votação simples.

A disposição é a clássica. O Governo está de frente para vós e as oposições estão na primeira fila. Peço aos grupos de oposição que quando tomarem os seus lugares, os respectivos oradores se sentem onde a Magda e o António estão sentados (peço os dois que se levantem).

Como ouviram no falar claro, um discurso não é só voz, tem muito de interpretação: um discurso é visto e ouvido. Essa é a razão pela qual instalámos um ecrã para que possam ver as intervenções dos vossos colegas das oposições.

Um outro pormenor: há uma figura fundamental em qualquer Assembleia, que é a capacidade de recorrer das decisões da Mesa. Essa figura existe formalmente mas não é aconselhável que vocês a utilizem, pois o seu uso é altamente penalizado na nossa avaliação. As pessoas que constituem a Mesa merecem toda a vossa confiança e respeito, pelo que não vos passa pela cabeça recorrer das suas decisões.

RISOS E VOZES NA SALA

Bom, a verdade é que na gestão de tempo não nos é possível prever mais intervenções do que aquelas que referi.

Alguma dúvida relativamente a isto?

No final haverá uma votação secreta para o que, mais tarde, ser-vos-á distribuído o respectivo boletim de voto.

Para os avaliadores, conselheiros e afins, já devem ter convosco as fichas de avaliação de preenchimento obrigatório, uma de preenchimento facultativo (sobre as curiosidades das Assembleias) e outra que devem preencher apenas no final.

 
Dep. Carlos Coelho
Minhas senhoras e meus senhores vamos dar início aos trabalhos.

Estamos reunidos em Sessão Plenária para discutir o tema da Prostituição. Para apresentar a Proposta dou a palavra à Senhora Ministra Núria Gomes.

 
Núria Gomes
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia
Exmos. Senhores Membros do Governo
Exmas. Senhoras e Senhores Deputados

Em Portugal existe um flagelo: a Prostituição.
Esta absorve milhares de homens e mulheres no nosso país, constituindo um problema social inegável.
Este governo está atento ao problema.

Exmas. Senhoras e Senhores Deputados, apresento aqui uma Proposta de Lei de regulamentação da Prostituição. Esta proposta pretende legalizar a Prostituição permitindo que a mesma seja praticada em estabelecimentos autorizados para o efeito. É de ressalvar que apenas serão punidos os donos dos estabelecimentos que não se encontrem devidamente autorizados.

Os indivíduos que exerçam esta actividade estão obrigados a exames e rastreios periódicos, inspecções sanitárias bem como a acompanhamento psicológico.

O Governo incentivará as autoridades competentes em matéria de emprego a criarem planos de reconversão profissional. Para a formulação desta proposta ouvimos várias entidades e profissionais de saúde. Ainda assim o Governo está aberto ao diálogo e disponível para receber contributos para a redacção final do diploma.

Esta Governo tem consciência que se trata de uma matéria delicada. Estaremos longe de encontrar a solução ideal, mas não nos demitiremos das nossas responsabilidades.

A prática da prostituição, para além de degradante, colide com a dignidade da pessoa humana. Todos sabemos que cada um é proprietário do seu próprio corpo, mas nenhuma prostituta sente orgulho ou prazer na actividade que pratica.
Porém, não se trata aqui de uma questão de moral: queremos resolver um problema de saúde pública. A falta de assistência e controlo clínico aos que, por opção ou necessidade extrema, praticam a prostituição constitui em si um grave problema.
Contribui para a propagação de doenças infecto-contagiosas o que, directa ou indirectamente, nos afecta a todos.

Basta de fechar os olhos a esta situação. Não seremos cúmplices com aqueles que hipocritamente ignoram o problema e não o querem regulamentar. Este é um problema também social, passível de destruir a família.
É dever do Estado amparar os que se prostituem devido a necessidade extrema, concedendo-lhes apoio psicológico, clínico e de formação para que, de modo progressivo e de livre vontade abandonem a prostituição.

Mas o Estado, por outro lado, entende que a todos os indivíduos que não requeiram apoio específico para o abandono dessa actividade, lhes deve ser permitida a prática através de profissão liberal, com os direitos e obrigações inerentes.

Mas enganem-se também aqueles que pensam que o Governo pretende enriquecer com esta proposta: pretendemos sim evitar o tratamento de pessoas que venham a ser infectadas por doenças associadas a esta actividade.

Pretendemos que esta prática seja efectuada com condições mínimas, respeitando a condição humana, com apoio psicológico e social.

Queremos mudar a nossa sociedade para melhor, mudar mentalidades e contamos com o vosso apoio, senhoras e senhores Deputados, para solucionar um problema que pode comprometer o futuro das novas gerações.

Obrigada

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado senhora Ministra, tem a palavra a Oposição Um, pelo senhor Deputado António Braga de Carvalho
 
António Braga de Carvalho
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia
Exmos. Senhores Membros do Governo
Exmas. Senhoras e Senhores Deputados

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

Estranho muito que na primeira Assembleia Plenária estejamos a assistir a apresentação por parte do Governo de um tema tão polémico como a prostituição.
Onde pode isto vir a parar no fim desta legislatura!?

PALMAS

O Governo, no seu texto, escreve que não pode ser cúmplice de uma actividade humanamente degradante. Nesta bancada somos os primeiros a concordar, mas consideramos que ao legalizar a prostituição, conforme se pretende, o Governo é cúmplice duma situação de exploração das mulheres.

Vozes
MUITO BEM

PALMAS

Este documento viola uma declaração de 1949 sobre o tráfico de pessoas para exploração sexual. É que o texto que o Governo apresenta diz que, por uma questão de saúde pública, as pessoas que se dedicam à prostituição sejam obrigadas a rastreios e análises periódicas. Sabendo nós que grande parte das doenças transmitidas às mulheres pelos homens, será que vai fazer-se também um rastreio aos frequentadores dessas casas?

Vozes
MUITO BEM

PALMAS

O Governo fala também de estabelecimentos autorizados para o efeito. Mas não menciona como serão geridos, quem os vai fiscalizar, quem são os seus gerentes e tudo o mais. O Governo reconhece a prostituição como profissão liberal, mas nesta bancada pensamos que só isso já é discriminar a mulher.

PALMAS

Presidente
Queira abreviar, senhor Deputado, se fizer favor.

O Orador
Sim, senhor Presidente.
E eu pergunto, alguma mulher consegue assumir esta condição?
Não é este o caminho, meus senhores, o papel do Estado é perceber as causas que levam as mulheres que se sujeitam a tal humilhação. Estas têm problemas sociais e económicos graves, toxicodependência, alcoolismo, que cabe ao Estado combater com medidas e soluções encorajadoras.

PALMAS

Para terminar, peço ao Governo que pare e que pondere de forma séria

 
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado senhor Deputado

PALMAS

Para intervir tem a palavra a senhora Deputada Magda Borges, pela Oposição Dois.

 
Magda Borges
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia
Exmos. Senhores Membros do Governo
Exmas. Senhoras e Senhores Deputados

Pensarão V. Exas. que venho a este hemiciclo em representação do movimento anti-prostituição, mas estão totalmente equivocados.

Esta intervenção é em defesa da pessoa, da sua integridade e dignidade, em total repúdio da tendência assustadora que V. Exas. revelam de desmantelamento de pilares essenciais da nossa sociedade e da nossa matriz humana.

Esta intervenção visa defender as pessoas que são o rosto visível do negócio que V. Exas. querem regulamentar: prostitutas e prostitutos.
Argumentarão que a nossa visão representa a hipocrisia social, cheia de puritanismo, mas devo dizer que a hipocrisia é vossa dado que insistem em tratar de um problema abrangente e grave com a leviandade redutora de quem apenas olha ao lucro.

Quem são as instituições e personalidades que reivindicam a regulamentação da prostituição e que peso têm na sociedade portuguesa? V. Exas. dizem que há consequências nefastas para a saúde pública. E então as consequências sociais? Que modelo cultural queremos legar às novas gerações?

Não será vossa a hipocrisia de tentar reduzir tudo a uma perspectiva negocial? Os proxenetas passam a empresários do sexo e as prostitutas passam a profissionais do sexo. Mudam-se as expressões mas mantém-se o problema. Aqui reside a vossa hipocrisia.

Vozes
MUITO BEM

PALMAS

A Oradora
Qual a legitimidade do Estado representativo e democrático ao compactuar com uma situação tão grave que admite o apoio psicológico. Se requer apoio psicológico, porque é que se admite a prática?
Será que é porque a pessoa sofre um atentado hediondo à sua personalidade e dignidade?
Mais: que cursos formativos tem o Governo em mente para dar como alternativa aos profissionais do sexo?
E já que serão profissionais liberais, em que regime fiscal se enquadrarão?

Estamos numa clara possibilidade de caminharmos pela rua e vermos placas nos edifícios a anunciar espaços de atendimento destes profissionais, tal como os médicos, advogados ou contabilistas?

PALMAS

Para quando os spots publicitários a casas de prostituição?

Presidente
Queira abreviar senhora Deputada.

A Oradora
Minhas senhoras e meus senhores, não vamos aceitar que este Governo que governa todos os portugueses violente a grande maioria dos cidadãos cujo legado cultural se rege por padrões de respeito pelo próximo e pela dignidade humana.

O Estado é o rosto da sociedade e este Estado quer-nos virar a cara.

Que sociedade queremos construir para os nossos filhos? E que dirão os senhores Ministros se os vossos filhos vos disserem que querem seguir a sua vocação e enveredar pela prostituição?

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Muito obrigado senhora Deputada
Para responder tem a palavra a senhora Ministra Núria Gomes.
 
Núria Gomes
Senhor Deputado António Braga de Carvalho, não nos preocupamos em ser polémicos. Queremos é resolver os problemas!
E que solução apresentou V. Exa. aqui? Nenhuma. Apenas críticas!

PALMAS

E nenhuma construtiva. É preferível ficar em casa a ver televisão enquanto a prostituição se passa na rua?
Estamos abertos às suas propostas, desde que não sejam apenas de ignorar a realidade.

A nossa regulamentação é um meio transitório para adaptar as pessoas à nossa sociedade.

Falou-se também de formação profissional e esta, garantimos, será abrangente. Qualquer área pode ser a solução de saída da prostituição.

VOZES

Presidente
Não há diálogo, a senhora Ministra está no uso da palavra

A Oradora
O senhor Deputado não quer ouvir

Vozes
MUITO BEM

PALMAS

A Oradora
Cúmplice é quem não apresenta propostas e soluções concretas.
Devido ao curto espaço de tempo para resposta, abrevio dizendo que será criada uma entidade de fiscalização para os estabelecimentos onde se pratica a prostituição.

Presidente
Tem de concluir senhora Ministra.

A Oradora
Concluo dizendo que o senhor Deputado não contribuiu em nada para este debate.

 
Dep. Carlos Coelho
Será dado agora um minuto ao senhor Deputado Duarte Marques, pelo Grupo Surpresa.
 
Duarte Marques
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia
Exmos. Senhores Membros do Governo
Exmas. Senhoras e Senhores Deputados

Esta medida não é mais que querer aumentar a receita fiscal. Depois das alarvidades que têm cometido na vossa actuação, querem sanar o défice com os impostos resultantes desta actividade.

Isto é a promoção da prostituição numa fase sensível em que há muito desemprego. As mães de família vão querer ir trabalhar para estas casas.

RISOS E PALMAS

Pior ainda: neste momento de crise, em que a nossa balança está totalmente desequilibrada, isto vai levar à saída de divisas do País. Estão a ver o dinheiro a ir para Moçambique, para o Brasil?

RISOS

É grave!

PALMAS

E quando o mercado aumentar vão criar uma entidade reguladora para o sector?

RISOS

Vozes
MUITO BEM

Presidente
Senhor Deputado, tem de concluir.

O Orador
Vão convidar alguém do vosso partido para ser Provedor do Cliente?
E a fiscalização? E nas declarações de família? Quando no IRS aparecer “outros serviços prestados” o que vão perguntar as esposas?

Presidente
Tem de terminar

O Orador
Com tantas palmas, senhor Presidente, não tive tempo para falar.

Presidente
Tem mais 5 segundos

O Orador
E sobre a qualidade? O Governo garante a qualidade? O Primeiro-Ministro vai dar formação às senhoras?

Presidente
Muito obrigado.

O Orador
Sim, mas.

 
Dep. Carlos Coelho
Senhor Deputado, ou se senta ou mando-o retirar pelas forças de segurança.

RISOS E PALMAS

Tem a palavra a senhora Ministra para responder.

 
Núria Gomes
Senhor Deputado, como contributo, pode ser o senhor a fazer a experiência e comprovar a qualidade os serviços prestados.

RISOS E PALMAS

Relativamente à receita fiscal, hoje a lei já prevê a tributação de actos ilícitos. E também acontece que muitas pessoas que se dedicam à prostituição se colectam como massagistas, manicures, dançarinas.
Esta é uma realidade e nós só a estamos a esconder.

Relativamente à senhora Deputada Magda Borges, a quem não tive a oportunidade de responder há pouco. A senhora falou da dignidade da pessoa humana.
Nós estamos a preocupar-nos com isso, regulando-o. Para quê esconder?

Temos o caso holandês com resultados positivos.

Relativamente ao futuro dos nossos filhos, pergunto-lhe: se a sua filha enveredasse pela prostituição, preferia vê-la em espaços seguros e próprios ou a prostituir-se em qualquer esquina?

PALMAS

Senhoras e Senhores Deputados, terminou o debate.
Pelo Governo participou a Ministra Núria Gomes, pela Oposição Um o Deputado António Braga de Carvalho e pela Oposição Dois a Deputada Magda Borges.

Peço que levantem o cartão os Deputados que consideram que o Governo ganhou o debate (pausa), quem considera que foi a Oposição Um a vencedora levante o cartão (pausa), e quem considera que a Oposição Dois saiu vencedora levante o cartão (pausa).

Resultado final: 47 votos para a Oposição 2, zero votos para Governo e Oposição Um.
Declaro vencedor do primeiro tema a Oposição Dois, representada pela senhora Deputada Magda Borges.

PALMAS