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Revista de Imprensa
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Jantar-Conferência com o Dr. António Carrapatoso
 
Bruno Gomes
(Brinde)
UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO) Temos acompanhado com atenção as suas recomendações e a sua orientação, nomeadamente no Compromisso Portugal.
Infelizmente este Governo é que parece que não está atento.
É nosso desejo e fazemos votos para que um dia tenha a possibilidade de praticar as suas convicções na hercúlea missão de governar Portugal.
Obrigado.

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Senhor Dr. António Carrapatoso, quero começar por agradecer em nome de todos a sua presença.
Não é um militante do PSD, embora em muitos momentos da sua acção cívica tenha estado em convergência com o nosso partido. É um dos gestores mais brilhantes da sua geração e é com muito gosto que aqui o recebemos.
O senhor tem como hobby a leitura, as actividades desportivas e a natureza. Eu posso confirmar isso porque uma vez, estando eu a fazer BTT no Estádio Nacional o senhor passou por mim a fazer jogging (RISOS).
A comida preferida é a portuguesa, a italiana e a indiana.
Os seus animais preferidos são o cão e o tigre. Sugere-nos o livro “A democracia na América” e dois filmes: “O clube dos poetas mortos” e “O cinema paraíso”.
As qualidades que aprecia nos outros são a integridade, independência, inteligência, franqueza, a coragem, a coerência, a criatividade e a visão. Um homem exigente. (RISOS).

Dr. Carrapatoso, estivemos já aqui a conversar à mesa e pudemos notar as suas ideias acerca do papel do Estado, matérias que têm muito a ver com a ideologia de cada um.
Mas, independentemente de querermos mais ou menos Estado, todos temos uma visão sobre a eficácia do próprio Estado. E creio que a eficácia do Estado português não merece de ninguém uma análise positiva.

O nosso Estado é burocrático e centralista. Traz problemas à economia e a tantos outros sectores.
Uma das coisas que durante este dia falámos foi sobre a cidadania, nomeadamente a cidadania europeia. Uma das conclusões que tirámos é que esta, hoje em dia, é mais jurídica e política do que assente em factos concretos. Qual será o verdadeiro espaço do cidadão europeu?

Foi para responder a esta e outras questões que o convidámos hoje. Cabe-me, portanto, a primeira questão.

Estão aqui cerca de 100 futuros quadros políticos. Jovens que fizeram aquilo que o Dr. Carrapatoso já tem recomendado: arriscaram, concorreram e foram seleccionados. Este é o produto de uma selecção, a nata da sua geração, e gostariam de ouvir de si qual é a sua opinião acerca do desígnio que queremos para Portugal.

Qual é a sua ideia de Estado e do seu papel para o nosso futuro? E que projecto político poderemos esperar da sociedade civil? Aguardamos a sua reflexão inicial e depois iniciaremos o debate.
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
Antes de mais gostava de agradecer à Universidade de Verão do PSD o convite que me fizeram. É com muito gosto que estou aqui para falar convosco, de um modo bastante informal, e provocá-los com algumas ideias para ouvir as vossas reacções e responder com base nelas.

Tenho já uma pergunta para responder e esta tem pano para mangas.

Na nossa democracia ainda não surgiram projectos diferenciadores que me convencessem o suficiente. A nossa democracia ainda é muito recente e temos uma sociedade civil ainda pouco fortalecida. Temos poucos grupos de opinião, poucos “think tanks”.

A grande capacidade de inovação em alguns países tem sido a multiplicidade desses “think tanks”, muitos deles que apoiam ou dão contributos aos diversos governos. Estes grupos ajudam também a renovar os quadros políticos.

Acontece muitas vezes os governos não terem capacidade de renovação interna nem de apresentar reformas profundas para o País. E essas são prementes em Portugal para sermos capazes de atingir os nossos objectivos últimos. E qual é o objectivo último de Portugal? Para mim é a maximização da felicidade acumulada dos cidadãos.

Podemos transformar isto noutras palavras e dizer que é o aumento da qualidade de vida das pessoas, em particular dos mais desfavorecidos.

Por isso é que eu acho que um novo projecto político, diferenciador, tem de partir do cidadão e centrar-se nele. Ele tem de estar no centro das decisões.

A nossa sociedade ainda é muito controlada por interesses corporativos. E é normal que as sociedades tenham grupos e interesses corporativos, mas nas sociedades mais maduras, a sociedade civil é muito fortalecida, há grupos de pensamento, grupos de comunicação, líderes de opinião, com dinamismo que geram uma vaga de fundo da opinião pública no sentido da mudança e da reforma.

Mas, como em Portugal ainda não temos nada disso, estamos ainda muito sujeitos a quem tem esse poder corporativo e que influencia sobremaneira o rumo das coisas, mais do que seria natural. Isso vê-se logo no próprio Estado. O Estado devia resultar da vontade dos cidadãos, porque ele só existe porque existem cidadãos que querem que exista Estado. Por isso o Estado deve ter o papel que os cidadãos em conjunto acham que ele deve ter.

Os cidadãos deviam ter uma opinião sobre o Estado e sobre o seu papel. E têm de estar também disponíveis para suportar esse Estado e sustentar os custos desse Estado. E por vezes as pessoas não têm consciência das coisas, querem mais subsídio de desemprego, querem uma escola, mais disto e daquilo (que é legitimo e normal), mas têm igualmente que reconhecer que são elas próprias e as gerações futuras que vão pagar essas coisas.

O que vos quero dizer é que o novo projecto político deve começar a formar-se a médio e longo prazo. Um partido como o PSD tem uma particular responsabilidade mas a sociedade civil também a tem. Projectos como o Compromisso Portugal e outros têm de se mexer para delinear um novo projecto político.

Em geral os problemas que temos são a baixa qualificação dos cidadãos, a sua atitude, e (este é o mais grave) o enquadramento à volta de cada cidadão que o impede ou não incentiva a que ele retire o seu máximo rendimento. É que cada português podia desenvolver muito mais, apesar de só ter a quarta classe ou ser iletrado!
Poderia desenvolver muito mais. Onde? Nas empresas, no Estado, nos mercados, na sociedade em geral! Se tivessem os incentivos certos, mas a nossa sociedade não dá esses incentivos certos. Por outro lado, também não os reconhece quando têm mérito. A sociedade também não nos define claramente os objectivos que devemos atingir.

Porque é que os nossos cidadãos lá fora produzem tanto? É que estão noutros enquadramentos, noutros mercados, onde a exigência de produção é maior, etc. Sociedades mais evoluídas e que têm estruturas que sabem tirar partido das capacidades e valências de cada cidadão.

Portanto temos de agir nesta duas variáveis: a qualificação do cidadão e o enquadramento de exigência que nos incentive a dar o máximo das nossas capacidades.

O Deputado Carlos Coelho lança-nos o desafio do papel do Estado e do novo projecto político. Eu acho que essa é uma discussão que não tem sido feita e que não se quer assumir. É que nós temos um Estado que é o mesmo Estado do Estado Novo, praticamente. Mudámos o sistema político, mudámos o sistema económico (para sistema de mercado), mas o Estado não mudou. Não houve coragem para isso, não se quis lutar contra os tais grupos corporativos que defendem os seus interesses e não os interesses dos cidadãos em geral.

E não tem havido políticos que dêem uma nova visão que queremos do Estado, do papel do Estado, do Estado social, e daquela que deve ser a actividade económica e a acção dos cidadãos.

Para mim qual deve ser o papel do Estado?
O Estado deve ser o garante do interesse dos cidadãos e o garante da igualdade de oportunidades. É uma das primeiras bases do papel do Estado que depois tem de se traduzir num dado modelo social.
O Estado é um defensor da vontade e interesse dos cidadãos mas sobretudo da igualdade de oportunidades.

Depois deve exercer também funções de soberania: Defesa, Segurança, Justiça, etc.
Deve também garantir a prestação de serviços públicos, como a Educação. Eu disse “garantir”, o que não quer necessariamente dizer “fornecer directamente”.
Deve combater e erradicar a pobreza, coisa que não se admite que exista em Portugal, luta para a qual deve haver um programa claro!
Depois deve definir as regras do jogo em geral, prover a legislação, ser regulador e fiscalizador.

O Estado não tem de ser fornecedor geral de tudo, de serviços médicos, culturais, educação, etc. Pode dar ou permitir a terceiros essa tarefa, mas depois tem de conseguir regular e fiscalizar.

Nestas linhas estão traços diferenciadores de outras teorias de pessoas que acham que o Estado deve fazer muito mais que isso. Para mim o Estado deve definir regras de jogo e não estar directamente envolvido em actividades empresariais. Tem é de as regular e não permitir abusos de posição dominante. É que todos os dias vemos o resultado do Estado estar em actividades empresariais. E vemos que quase todos os dias vai mudando o modelo, de acordo com os Ministros e os Secretários de Estado.

E também acontece em outras áreas em que o Estado se envolve, porque não há uma definição nem um rumo. A juntar a isso as nomeações políticas que não se adequam a uma gestão profissional e de longo prazo. Até porque os nomeados nunca sabem se serão corridos ou não e ao longo do tempo são sujeitos a tudo quanto é pressão política.

Eu acho que o Estado não deve ser pesado, deve ser ágil, não pesando na economia. Mas o nosso Estado é paternalista, ineficiente, asfixia a sociedade civil. Porquê? Porque tem um peso de 50% e não tem os melhores métodos de gestão.
Assim, o desígnio é ter um Estado competitivo, que potencie a criação de riqueza e que liberte a sociedade civil e o cidadão.
Mais, o Estado não deve desconfiar do cidadão. Deve acreditar nele e responsabilizá-lo!
E o cidadão também não deve buscar o paternalismo do Estado. Deve responsabilizar-se pelo seu futuro, que é coisa que parece que não tem acontecido! Deve procurar ter auto-formação, ter uma cidadania activa, deve cumprir com as suas obrigações éticas e sociais.
E não é isso que se sente na sociedade portuguesa.

O cidadão em Portugal não é valorizado, não é bem tratado. O que é que ele quer, ao fim e ao cabo? Quer ter opções profissionais, alternativas de qualidade, quer ter opções de entretenimento e de ocupação do seu tempo livre, quer ter um ambiente saudável para viver, em termos de qualificação urbana e rural, quer ter uma sociedade de que ele se orgulhe. Mas, tendo o direito a ter isso tudo, deve pressionar o Estado para isso mas tomar para si tarefas de apoio ao Estado. Como? Melhorando as suas competências e capacidades.

O problema é que a sociedade não está organizada para isso. Habituou o cidadão a estar dependente do Estado, da sua empresa, do seu patrão ou seja do que for! Aliás, uma mentalidade que foi criada durante as décadas do Estado Novo, este pequeno paternalismo. As pessoas não se habituaram a assumir as responsabilidades do seu futuro porque havia sempre alguém que assumia esse futuro.

Isto deve mudar! E o novo projecto político deve dar incentivos a essa auto-responsabilização. Se, no entanto, for um projecto político demagógico então não fará as verdadeiras reformas, não fará a redução do peso do Estado, nem flexibilizará a lei laboral, nem mudará o sistema das reformas, etc etc etc.
Precisamos de um projecto de mudança! Mais: que saiba explicar as coisas aos cidadãos. Falar da lei das reformas não é fácil, por isso deve saber-se explicar as metas a atingir.

Infelizmente não temos tido equipas coesas e fortes a esse nível. As pessoas que vão para o Governo muitas vezes nunca se encontraram antes para discutir o rumo do País. É preciso ter um núcleo duro que vá para o Governo com um projecto de País. Um grupo que tem de saber e acreditar! E capaz de saber vender as suas ideias!

Sobre o modelo social, devemos definir o peso que o Estado deve ter no PIB e da Economia. Não sei se sabem mas o Estado pesa quase 50% do PIB, ao passo que nos EUA pesa 32%, na Irlanda 34%, em Espanha pesa 40%, no Reino Unido pesa 42%. A média europeia é 48%.
Nós que estávamos abaixo da média europeia em termos de peso do Estado, estamos agora a subir e a média europeia a descer.
A Suécia, há 15 anos, tinha um Estado a pesar 73% do PIB, hoje pesa 58%, mas a Noruega e a Finlândia estão nos 50%. Pesam o mesmo que nós mas dão aos cidadãos muito mais do que o Estado português.

É que temos também de definir os objectivos do peso do Estado e o sentido da despesa pública. Precisamos de uma ideologia de enquadramento. Não somos tecnocratas, somos ideólogos, temos uma visão de mudança da sociedade, centrada no cidadão, achamos que o Estado deve ter um dado papel, mas que deve ser competitivo. Caso contrário não estará a satisfazer o objectivo último que é maximizar a felicidade dos cidadãos.

Portanto descer o peso do Estado sim, mas de forma enquadrada. Porém, nem sequer estamos a esforçar-nos para isso.
O PS, agora com o Pacto de Estabilidade e Crescimento diz que quer descer o peso do Estado, mas os números que apresenta como metas para 2009 são de uma descida de 2% face à média europeia! Isso não é suficiente! Quando nós tivermos 46% já a média está abaixo disso! Assim, como é que conseguimos ter competitividade?

Devemos todos estar unidos nesse objectivo e distribuir responsabilidade. O problema é que em Portugal todos fugimos às responsabilidades! Encostamo-nos.

Por exemplo: em Portugal quem é o responsável pelos incêndios? Ninguém sabe! Mas devia haver um senhor qualquer que fosse o principal responsável.

O abandono escolar em Portugal é de 42%. Quem é o responsável por essa matéria? É que a média europeia é 18%. Nos países da adesão é de 13%!
E entre nós quem é o responsável? Não se sabe, até porque é um número enorme de gente!

E pelas Scuts? E agora pela Ota e TGV? Eu defendo que, acima de um determinado montante, deve haver um responsável que saibamos quem é a quem possamos “apertar o pescoço” pelas falhas. Nas empresas sabemos sempre quem são os responsáveis! Temos quadros, temos responsabilidades atribuídas, etc. Pessoas que ficam mal se as coisas correm mal e prémios se correrem bem!

É que a responsabilidade não serve para perseguir ou chatear ninguém! Serve para clarificar e para retirar o melhor de cada. Mas isso não se passa em Portugal.

Voltando aos números, para quê lutarmos pelos 46% quando podemos empenhar-nos pelos 42%? E depois definir em que áreas queremos ter essa redução do peso do Estado! O programa do PS fala em termos gerais mas eu queria lá ver especificados os departamentos em causa. É que sendo geral, é por esse motivo que a despesa pública foi aumentando sempre.

Virando a página, o Estado não tem concorrência directa, tem apenas a concorrência dos outros Estados e aí estamos já desfavorecidos pois temos um Estado muito pesado, depois os impostos são maiores, não há competitividade fiscal face ao exterior, temos menos investimento e menos criação de riqueza.

Imaginemos uma empresa privada: os trabalhadores têm contenção em reivindicar aumentos salariais. Se o fazem e a empresa aumenta os salários, ela pode ir à falência e os empregados perdem o posto de trabalho. Por outro lado o Estado não vai à falência, daí o à-vontade brutal dos sindicatos públicos. São os tais grupos que dominam o Estado. Daí que o funcionalismo público tenha os aumentos que tem! Até faz sentido que seja bem pago, mas tem de corresponder com eficiência! Mas isso não se vê!

Voltando atrás, temos de ser competitivos e evoluir nos indicadores de sucesso, como a taxa de abandono escolar, ranking das escolas, etc.
É bom que exista esse ranking (até para vermos onde devemos investir mais e melhorar) mas porque não um ranking das melhores repartições de finanças? Cada utente à saída responde a um inquérito! E depois há um prémio para os respectivos funcionários.
A própria concorrência deve ser instigada na função pública, deve ser mais eficiente e profissional. E devemos saber recrutar os seus quadros e avaliá-los.

Modelo Social. Este decorre do papel do Estado em garantir a igualdade de oportunidades, nomeadamente na Educação. Não podemos ter apenas 50% de jovens a acabar o 12º ano! Este Estado Social é uma anedota. Permitir um abandono escolar de 40%?

O Estado Social actual é anti-social, está descontrolado, ao sabor de certos grupos de interesses e não é sustentável no futuro. Nós temos de redefinir o Estado Social.
Devemos combater o abandono escolar, se calhar colocar as melhores escolas nas zonas mais degradadas, com melhores professores, melhores infra-estruturas, com sociólogos, psicólogos. Temos de garantir que haja gosto por estudar e qualificar.

O modelo social passa muito por isto! Se tivermos um país de gente com igualdade e sucesso escolar, no futuro minimizamos o risco de termos tanta gente a precisar de protecção social.

Outra vertente do modelo social é essa mesma protecção. Que protecção queremos dar? Combate à miséria e à pobreza! Esse deve ser um ponto essencial! Não podemos andar a subsidiar pessoas para terem telemóvel ou andarem de carro!

Falamos muito de luta de classes quando o importante é haver mobilidade entre classes: os que têm menos devem ter oportunidade de lutar por mais e os que têm mais não devem recear em dado momento ter um pouco menos.
Num mundo em que não há fronteiras, não percebo como podemos ter uma sociedade tão rígida. De classes, de formalismos, de hierarquias…

Ainda no modelo social, devemos ter consciência que o Estado deve assegurar serviços públicos, definir quais são, quais serão gratuitos, para quem serão gratuitos ou em que medida serão parcialmente pagos. E inserir o princípio do utilizador pagador.

No âmbito deste princípio, por exemplo, devemos ter ou não propinas? Eu defendo que sim! Até ao secundário, é a sociedade que beneficia em larga medida com a formação dos portugueses, logo deve ser tendencialmente gratuito.
No superior, o benefício principal vai para o próprio aluno! E os que não tenham possibilidade de pagar os estudos devem ser financiados, com retorno ao financiador quando o aluno se tornar um profissional. Qual é a utilidade disto? Evoluirmos! E termos gente capaz de dar força ao país e à economia.

Resumindo o modelo social: combate ao abandono escolar, definição dos serviços públicos a prestar, introdução do utilizador pagador, combate à pobreza.

Já agora, o que é a pobreza? Há vários critérios, mas qual será o adequado? Temos mil mecanismos: subsídio de doença, rendimento mínimo garantido, reformas especiais, uma multiplicidade que traz confusão e causa fraudes.
Há dias o governo teve a hombridade de reconhecer que temos uma fraude de 20 a 30%.
Essa é uma das causas da imigração desenfreada que temos. É gente que vive à conta dessas fraudes.

Por isso é que temos de redefinir os apoios sociais. Por que razão uma pessoa que perde o emprego tem de ter (ou abusar) de automóvel, telemóvel e outras comodidades? Se perdeu o emprego tem de baixar os gastos, para depois os levantar quando retornar à estabilidade. As pessoas têm de perceber quando devem abrandar.

Outra coisa que temos de perceber é que o sistema de reformas está em crise. E que a única regra que agora parece justa é que quem descontou mais e mais anos terá mais, se descontou menos e menos anos terá menos. Isto sem pôr em casa a dignidade de vida que cada pessoa tem de ter.

Aquilo que se passa hoje em dia é que temos gente com um nível de reforma muito superior ao que alguma vez descontaram e não precisam! Isso não pode ser!

Ainda dentro do modelo social eu defendo a flexibilidade dos trabalhadores. Penso que é muito melhor para eles. É uma forma de poderem buscar mais formação e de melhorarem. É também mais justo para os desempregados. Os empregados têm todas as protecções: os desempregados não têm nenhuma.
Outra benesse da flexibilidade laboral é o incremento de investidores. Actualmente pensamos 10 vezes antes de criarmos um posto de trabalho. Hoje é um tiro no escuro! Deve haver um novo contrato de trabalho! O nosso é brutalmente rígido! Se houvesse a possibilidade do empregador e o empregado chegarem a acordo sobre temas tão variados como horários e indemnizações, a economia ganharia imenso com isso!

O modelo social europeu está baseado em muitos tabus. A Alemanha está agora a olhar para esse problema, por exemplo.

Finalmente, como é que se cria mais riqueza?
Com um Estado mais eficiente, que não pese muito na economia, com um modelo que esteja a favor dos cidadãos e dos mais desfavorecidos, tendo serviços públicos de qualidade.
Mas só isso não chega, por isto por si não cria riqueza. Não é o Estado que vai criar riqueza.
Portanto devemos mudar também os factores de enquadramento da actividade privada.
O primeiro é a competitividade fiscal, bem como a sua transparência e clareza. A clareza por oposição à confusão dos vários impostos incompreensíveis.

Vejam as mais-valias das acções: ao fim de um ano não paga nada, mas o rendimento de trabalho, marginalmente, paga 42%.
Estas coisas permitem várias engenharias. Cria-se uma empresa e depois dá mais lucro vender a empresa em vez de vender o serviço!

Temos uma imensidão de taxas! Vejam que a Eslováquia tem uma taxa única de 19% e outros estão a seguir o exemplo. Dirão alguns que não é justo porque uma taxa abrange a todos por igual, mas veja-se que é uma percentagem do lucro.
O problema actualmente é que temos um enquadramento fiscal que inibe a criação de riqueza. Mais: leva a falcatruas e pouca motivação ao investimento.

Notem, falando novamente da competitividade, que a nossa taxa de gente com o 12º é de 50%. A média mundial é de 60%. Os países desenvolvidos têm 80%. Que hipótese teremos no futuro se não nos atirarmos a estes factores?
Eu defendo um programa especial para a conclusão do 12º ano! Um desígnio nacional, juntando professores no desemprego e tanta gente com necessidade de formação. Serão cerca de 500 mil os jovens que não terminaram o 12º nos últimos 10 anos! Porque não chamá-los de novo?

Isso sim é modelo social a sério! Não é conversa de chacha demagógica!

Em suma, para além de precisarmos de uma educação a sério, precisamos de uma Justiça que funcione, mercados abertos. Por exemplos, nos serviços de comunicações móveis temos competição e preços muito bons, especialmente numa dada empresa (RISOS), mas na televisão por cabo as tarifas aumentam todos os anos!
E se calhar o atendimento não é satisfatório.

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

É do interesse público haver mercados abertos e sem posições dominantes!

Outra discussão ideológica interessante é que esta concorrência também é benéfica aos trabalhadores, porque a concorrência entre empresas faz com que elas busquem os melhores ao seu serviço. E paguem melhor! O próprio empresário tem de se sujeitar à concorrência.

Importante é também criar as tais parcerias entre as Universidades e as Empresas. É que as primeiras não têm estímulo nenhum para se associarem às empresas e fazer projectos para as empresas.
Porquê? Porque são totalmente financiadas pelo Estado, não são avaliadas, os seus professores não são avaliados, caso uma Universidade lucre com uma parceria com uma empresa o Estado ainda pode vir a cortar-lhe subsídios porque dirá que já tem dinheiros que bastem, etc. Isso está errado!
Unir centros tecnológicos, universidades e empresas é essencial!

Podemos e devemos também incentivar alguns clusters, mas não deve ser o Estado a escolher os sectores. Pode auxiliar com escolas, com centros tecnológicos, com apoios, melhor definição das regras de jogo, mas dar aos privados a primazia da aposta no sector!

Por que razão o turismo não avança mais? Porque um projecto de turismo leva 10 anos a cimentar. E depois queremos apostar aí, criamos legislação, levamos anos a pensar nas coisas e temos resultados como a Quarteira!!!???

O “novo” projecto político passa por isto. Centrarmo-nos no cidadão, valorizá-lo, alterar o papel do Estado, novo modelo social, permitir que cada cidadão possa ser um empresário, ter os mercados a funcionar bem, ter um sistema de ensino que o qualifique!
Esta é a lógica! Criar as condições para ampliar o orgulho de sermos membros desta sociedade. Temos de acabar com o desânimo e com o pessimismo.

Temos de pôr mãos à obra para fazer os nossos concidadãos mais felizes.
Obrigado.

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Obrigado Dr. Carrapatoso.
Os que me conhecem sabem que eu não sou defensor do “Estado mínimo” mas há um factor aqui abordado pelo nosso convidado que me recordou um episódio da minha vida.
Há muitos anos, era eu Deputado em S. Bento, chefiei uma delegação parlamentar de 6 Deputados, que incluía o nosso Secretário-Geral e o Prof. António Barreto (na altura Deputado do PS) e visitámos várias bases da NATO na Europa.
Foi uma semana de deslocações e estivemos certo dia na Noruega. Lá, na altura, discutia-se o Orçamento de Estado, onde se previa um aumento para a Defesa. A nós deram-nos cópias (em inglês) do documento que o Governo apresentara no parlamento norueguês.
O texto explicava que o aumento das despesas (administrativas) para o Ministério da Defesa era para contratarem mais duas pessoas, e referia-se o âmbito das funções daquelas duas pessoas.

Na altura achámos que era um exercício de controlo parlamentar. “Aqui está um parlamento que fiscaliza a sério o Governo”. Mas daquelas coisas que esquecemos com relativa facilidade.

Uns anos mais tarde, estava eu com a Dr. Ferreira Leite e a sua equipa ministerial, que incluía o Dr. Castro Almeida, e analisávamos um acto administrativo que, pura e simplesmente, transformara milhares de professores em funcionários públicos. E não pude deixar de me lembrar do exemplo norueguês. É que se hoje o Parlamento nos pedir que digamos onde estão os funcionários que acabaram de ser contratados, nós não sabemos dar a resposta!

E sob o ponto de vista da responsabilização dos agentes políticos esta é de facto uma diferença essencial!

Vamos iniciar o nosso debate, pedindo a todos concisão nas intervenções para haver maior ritmo.

 
Carmo Castro
Boa noite a todos.
É como muito gosto que recebemos alguém tão importante nas nossas vidas – por causa das contas de telefone –

RISOS E PALMAS

Numa entrevista que deu ao Público no ano passado, o senhor falava da necessidade de acabar com a ideia de achar que Espanha é uma ameaça, devendo acolher o país vizinho como uma oportunidade para as pequenas e médias empresas.
Perguntamos nós: face ao alargamento comunitário e à entrada das empresas orientais no nosso mercado, esta sua opinião ainda é viável e que comportamento deve ser o nosso?
Obrigado.

PALMAS

 
Bruno Fragoso
Boa noite a todos.
A nossa pergunta é mais um desafio.
Estamos à beira de mais um congresso das telecomunicações e, como sempre, vai estar em cima da mesa, o estado do sector no nosso país.
Gostaria que nos antecipasse as críticas, ideias e desabafos que vai usar na sua intervenção.
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
Eu continuo a acreditar no que disse ao Público.
Temos de aceitar que a competitividade é boa. Quer entre empresas quer entre países! A vinda dos produtos chineses é boa para o consumidor português, porque compra mais barato. Dirão que é mau para o vendedor português. Eu não sei se é mau! Alguns vão melhorar com a pressão da concorrência!
Outros fecharão as suas actividades, vão ter de reafectar recursos e fazer outras coisas. É que se não houvesse esta mobilidade não haveria criação de riqueza.

A economia mundial está a crescer 5%, justamente devido à liberalização do comércio mundial. E se a economia mundial está a crescer 5% (não está em recessão), temos de nos deitar a pensar por que razão a Europa só cresce 2% ou nem isso!

Em Portugal temos sempre medo das baixas da economia na Europa e de sermos afectados por isso! Mas a economia no mundo está nos 5% e mesmo assim as nossas quotas de exportação são mínimas! Podíamos exportar muito mais.

Eu acredito na liberalização do comércio em termos mundiais e na abertura dos mercados, embora sempre com regulação que evite abusos de posição dominante e para evitar os entraves. Depois disso cada país tem de mostrar o que vale. Tem de haver estratégia. E qual é a estratégia?
- Um Estado que funcione bem
- Quadros capazes e qualificados
- Mercados abertos

Isso é que é estratégia. Com maior pendor para a preparação dos quadros humanos. E devemos estar sempre preparados para a concorrência que entre no país ou para ser concorrência nos outros países.

Mas não é isso que acontece! Ainda olhamos de lado para outros mercados e para Espanha sem ver lá um mar de oportunidades. É um mercado que vale 5 vezes mais que o nosso. Temos de saber segmentar o mercado, ver mercado onde existe, estabelecer os nossos braços lá, ter estratégias de marketing, etc.

Há gente, até na comunicação social, que tem uma paranóia com os espanhóis. E falam de invasão. E a verdade é que eles nem ligam muito a isto! Nem se lembram de Portugal! Não têm qualquer estratégia de tomar isto de assalto. Mas, mesmo que tenham, devemos ter um Estado forte e regulador, que impeça um estrangeiro (espanhol ou outro) de comprar o BCP e a Caixa, mas o mesmo travão deve ter um privado português que queira comprar ambas as instituições que valem mais de 50% do mercado bancário.

Não queremos cá posições dominantes. Queremos é gente que venha criar riqueza. E mesmo que não crie riqueza: desde que crie felicidade. No Brasil parece que é assim (RISOS). A malta anda mais ou menos feliz, come o seu feijão e dança o seu samba. Talvez isso é que seja o mais importante: a felicidade.

Em relação ao estado das telecomunicações eu não gostaria de estar a antecipar o que vou dizer

A Sala
OHHHHHHHHHHHHHHH
RISOS

António Carrapatoso
É sempre um evento interessante, há sempre umas piadas, estará lá o meu amigo Horta e Costa que tem passado maus bocados, por várias razões, sobretudo porque o Estado está sempre a querer meter-se na gestão das empresas.

É o que eu digo: o Estado não deve meter-se nisso. Dirão uns: mas é estratégia. Pois, mas estratégia a sério é preocupar-se com o abandono escolar!

PALMAS

Depois de termos uma taxa de abandono de 10% então sim, pode meter-se nas empresas. Até não me falem em estratégias! É esta a resposta que a malta merece.

RISOS

No tempo de Durão Barroso fez-se um estudo acerca dos sectores mais produtivos e chegou-se à conclusão que em primeiro lugar estavam as telecomunicações e depois os serviços financeiros.
São mercados que não são ónus para a sociedade, ao contrário de outras.

Penso que deve haver um “choque” de concorrência e não tanto tecnológico, nesse não acredito tanto. Mas regulado!
Este choque tecnológico não pode ser apenas o uso da banda larga! Se a malta não tem o 12º ano vai usar a banda larga?
Para mim o choque tecnológico passa sobretudo por aumentar a formação das pessoas (nomeadamente nas novas tecnologias), passa por levar o Estado a usar a tecnologia internamente e na sua relação com o cidadão (só isso mudará muita coisa) e passa por promover a concorrência: esta é a fonte da inovação.

Isto para dizer o quê? Que o sector dar comunicações não é um ónus, dentro dele o sector móvel é dos que funciona melhor, havendo nele muita concorrência, funciona relativamente bem, mas pode sempre funcionar melhor!

E neste plano a ANACOM deve estar permanentemente atenta a tudo, sobretudo aos preços praticados em Espanha para garantir cá dentro melhores preços e melhores produtos.

Sobre outras matérias, falarei na altura.

RISOS E PALMAS

 
Filipe Viana
Boa noite a todos e ao nosso convidado.
Dr. Carrapatoso, em que áreas de investigação devemos apostar para atingir o nosso objectivo de riqueza? E, já agora, também o nosso objectivo de emprego, visto que temos aqui tantos jovens em busca desse objectivo.
Obrigado.
 
Dep. Carlos Coelho
Filipe, mesmo assim foi discreto, hein!

RISOS E PALMAS

No ano passado, quando tivemos aqui o Dr. Balsemão houve uma participante que lhe pediu directamente emprego.

RISOS E PALMAS

 
Rita Pato
Boa noite. Estamos num contexto de pré-presidenciais e já temos dois candidatos anunciados da esquerda.
Considera importante que o próximo Chefe de Estado tenha sólidos conhecimentos do mundo das empresas para que contribua para um Portugal de excelência?

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
Sobre as áreas de aposta tecnológica, já o disse, penso que não deve ser o Estado a tomar esse risco. Isso compete aos investidores.
Ao Estado cumpre a definição de um enquadramento favorável. A começar por nos dotar de um sistema de ensino forte, nomeadamente nas novas tecnologias.

Deve também estimular a ligação Universidade/Mundo Empresarial. Mas tudo isso é uma acção transversal, que é mais importante que escolher uma dada área para apostar. Isso é com as empresas.

Agora, não pode ser cego! Deve apoiar quem tem sucesso ou quer ter sucesso! Nós temos textos e calçado, mas não temos nenhuma Zara nem nenhuma Nike! Devemo-nos questionar!

Quando o Michael Porter falou dos sectores tradicionais, muitos interpretaram-no mal! Ele estava a falar de lhes dar meios para competirem em melhores mercados. Sobre a tecnologia era isto que se me oferecia dizer.

Sobre as presidenciais, vou-me comprometer, já percebi.

RISOS

Bem, eu vou votar no Presidente da República mais compatível com a minha visão do modelo de Estado. Um Estado centrado no cidadão, em que o Estado (não sendo mínimo) pese menos, seja responsável, que acredita na sociedade civil e não desconfie dela, etc etc, as coisas que estive a dizer.

O que vos digo é que vou votar no candidato que (RISOS) tenha mais a ver com esta visão.

RISOS E PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Depois digam que os grandes empresários portugueses não têm respostas políticas.

RISOS E PALMAS

 
Ricardo Branco
Boa noite. Em nome do meu grupo trago uma questão relativa à produtividade dos trabalhadores.

Falta-nos muita formação para sermos mais competitivos e mais produtivos, mas mesmo um licenciado chega a uma pequena e média empresa tem de ter uma formação para iniciar lá a sua vida activa. E não estamos a falar de alguém que tenha o 9º ano ou o 12º.

Por outro lado, mesmo alguém que cumpre a sua tarefa não é valorizado no nosso país. Para aumentar a produtividade, não acha que isso deveria ser alterado?

 
Dep. Carlos Coelho
Próxima pergunta para o Ricardo Pato
 
Ricardo Rato
Rato, Ricardo Rato.
 
Dep. Carlos Coelho
Peço desculpa, enganei-me no animal. Um engano aceitável de roedor para roedor: de um Coelho para um Rato.

RISOS E PALMAS

 
Ricardo Rato
Boa noite, qual é a real importância de movimentos como o Movimento 560?

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
Sobre a produtividade: mas afinal qual é o papel dos empresários e dos gestores?
Podem acusar-me de ter vindo aqui “botar faladura” acerca do papel do Estado e não ter falado do papel dos gestores.
Bem, para começar digo-vos que a capacidade de acção de muitos deles é muito fraca! Urge melhorá-la.

Não há incentivo melhor do que dizer-lhes: se não gerem melhor a vossa empresa ela vai para o buraco!
Eles devem abster-se de pedir subsídios ao Estado! Deve, sim, exigir uma boa regulamentação, a definição de boas regras, melhor fiscalização, bom sistema judicial, fiscalidade clara e competitiva.

Devem aceitar a concorrência como um bem em si. Em terceiro lugar devem gerir melhor os seus recursos humanos. Na minha empresa costumo dizer que devemos satisfazer os accionistas e os colaboradores. São dois objectivos principais. Mas há demasiada gente de vistas curtas que não vêem as vantagens em tratar bem quem trabalha connosco.

Há quem não perceba os méritos de motivar e recompensar as pessoas! Quando uma empresa tem sucesso deve recompensar os trabalhadores. Isso faz-se nos EUA e vejam os resultados.

Portanto, eu concordo: há uma grande falta de sensibilidade das empresas. Mas só estão a dar tiros nos pés! Para mal delas mesmas! Até porque os empregados se vão embora! Mas para se irem embora tem de haver concorrência! E quando o empresário vê sair os seus para o concorrente terá a percepção que falhou na gestão e motivação do seu pessoal.
Tudo tem a ver com a competição e concorrência!

Sobre o Movimento 560, sei que é um movimento de jovens que querem combater o desânimo e descrédito da sociedade portuguesa e estão a ver caminhos de saída, caminhos de auto-estima.
Uma das coisas que dizem é que devemos comprar português.

Porém, nisso de comprar português já tenho mais dúvidas. Para mim, só devemos comprar português se for melhor. O nosso produto tem de vingar pela qualidade, senão nunca seremos competitivos lá fora!
As nossas exportações são 30% do PIB. Na Irlanda são 90% e 80% as importações.

Não é necessariamente bom comprar português se não for o melhor. Ajuda-nos mais a exigência e a racionalidade que o paternalismo! A exigência obriga à evolução.

Eu costumo dizer na Vodafone que temos de ser a melhor empresa portuguesa. Temos 1800 colaboradores. Só temos um ou dois estrangeiros. Somos 1800 portugueses. Valemos muito para o PIB, o PIB é a soma dos valores acrescentados de cada unidade produtiva. O que é o valor acrescentado duma empresa? São os salários que paga, os lucros e os juros! E nós criamos muito valor acrescentado! É isso que faz o PIB.

Temos de ter entre nós empresas bem geridas, que criem emprego e queiram emprego qualificado.

Se são portuguesas ou não, isso não interessa! No negócio da GALP foi quase um concurso para ver qual dos compradores era mais português, quase no ridículo de se dizer: aquele tem uma tia espanhola por isso é menos português! Isso só leva a golpadas!

Se eu fizesse uma privatização (e acho que o Estado devia sair da maior parte das empresas), eu criava regras claras. Regras como o preço, quanto se vai investir na empresa, a quantos postos de trabalho se comprometem, se vão investir nos nossos centros tecnológicos, etc etc. e cada parâmetro tem x valor para se ganhar o concurso.
Tudo junto é uma conta matemática e sabe-se logo quem venceu o concurso! Ao invés das evasivas, golpadas e indefinições do costume.

Portanto, acho louvável a existência de uma consciência colectiva de elevar o moral dos portugueses, o movimento 560 quer romper com o desânimo e faz muito bem. Apoio com simpatia, mas num pormenor estamos em desacordo!

Vejam que os salários reais aumentaram acima da produtividade, logo estamo-nos a endividar e a cavar a nossa sepultura. Estado, cidadãos, empresa e famílias a endividar-se. É preciso fazer alguma coisa para travar isto, mas não é necessariamente comprando português.

No entanto é positivo que as pessoas se organizem e exerçam uma cidadania activa.

PALMAS

 
Telma Gonçalves
Boa noite a todos.
Permitam que saúde de forma especial o nosso convidado: não é todos os dias que temos entre nós um dos melhores gestores deste país.

Pelas empresas por onde passou levou um ideal de trabalho, competitividade e liderança. Porém um líder deve saber rodear-se de uma boa equipa.

Como Peter Drucker, “as pessoas não se gerem, lideram-se”. São estas pessoas que, no silêncio, ajudam a construir e a consolidar o sucesso das empresas.
Nesta linha de pensamente, gostaríamos de perguntar de que forma lidera os seus colaboradores de modo a alcançar os bons resultados que todos lhe conhecemos.

 
Ivete Rodrigues
Boa noite a todos, em especial ao Dr. António Carrapatoso.
Um dos factores importantes para a economia é a capacidade e visão para investir em mercados estrangeiros.

O Dr. Carrapatoso, como membro do Conselho de Administração da Vodafone na África do Sul deve ser conhecedor das possibilidades de investimento nos países africanos, como Africa do Sul e Cabo Verde, (alguns dos mais estáveis). Dadas as relações entre Portugal e África, será que o mercado africano é olhado como um espaço atractivo, para além das áreas onde já existe ligação, como a banca e a construção civil?

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
Concordo inteiramente consigo: um bom projecto deve assentar numa boa gestão de pessoas.
O que é mais relevante num líder é ter visão e saber motivar colaboradores para trabalharem rumo a essa visão. Faz parte de ser um bom líder.

Isso e escolher os melhores colaboradores. Não só no momento de arranque mas no desenrolar de todo o projecto. Saber fazê-los participar activamente, saber delegar, responsabilizá-los, recompensar o mérito!

Muitas vezes os governos não sabem como fazer isso! Vejo muitas vezes os líderes gerirem muito a informação, não a querem partilhar (eu sei que em política não se pode partilhar tudo), e por isso não têm núcleos duros de gente confiante, motivada e lutadora!

Não me cabe a mim dizer se os meus colaboradores estão satisfeitos ou não, mas eu procuro que estejam. Faço-os participar.
Todos os anos, na empresa, fazemos uma coisa chamada enquadramento estratégico em que a Administração expõe aos directores todos os nossos objectivos globais e pomo-los a debate. E perguntamos quais os objectivos a que eles se propõem para ajudar nos objectivos globais.

É assim que se deve gerir uma instituição.

Também fazemos a medição do grau de satisfação dos colaboradores: o employ survey, um questionário interno com uma entidade independente.

Depois, todos os anos, faço uma acção com todos os trabalhadores da empresa, falo para umas 1300 pessoas acerca da empresa, objectivos, desafios e metas. Falo directamente com as bases.
E faço visitas regulares às diversas áreas da empresa e, todos os meses, organizo almoços com colaboradores mais jovens.

Um líder deve estar sempre a ouvir as bases, os mercados e os clientes. Um dos problemas dos políticos é que, às tantas, tornam-se autistas. A dada altura já não ouvem, não lêem!

O afastamento entre o topo do negócio e as suas bases pode matar o negócio.

Sobre os mercados externos, eles é que devem mostrar aos investidores que vale a pena investir lá. Os “lá de fora” é que têm de demonstrar que têm enquadramentos positivos: mão-de-obra minimamente qualificada, bons serviços, sistema fiscal competitivo, sistema judicial que funciona, segurança, etc.
O mais importante para Portugal não é que as nossas empresas invistam lá fora: isso só é importante na medida em que isso traga trabalho adicional para Portugal. O que é relevante é que existam negócios, empresas e projectos de qualidade em Portugal.

Isso é que dá valor acrescentado bruto! Os salários que pagamos! Também é bom investir lá fora se soubermos capitalizar cá dentro, com centros e exportação, tecnológicos, de serviços, etc.
Não estou a dizer que não é importante investir no exterior, atenção, mas não tem o mesmo nível de importância para o País.

Ao nível das localizações, temos boas condições de o fazer em Espanha (o vizinho mais próximo) e nos países de língua portuguesa. Devemos, portanto, aproveitar esses mercados.

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Dr. Carrapatoso, esta é a altura em que me despeço do nosso orador porque temos a tradição de dar a última palavra ao convidado da noite.

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

Agradeço-lhe a sua disponibilidade e a participação neste animado debate sobre o Estado, competitividade e uma nova visão para o País.

 
Susana Hermenegildo
Boa noite, em nome do grupo rosa queria agradecer a sua presença aqui.

Tendo como principal objectivo a redução da despesa pública para a evolução económica do país, o senhor entende que é primordial a redução dos excedentes da função pública? De que forma?

PALMAS

 
Gonçalo Godinho e Santos
Antes da pergunta quero fazer dois agradecimentos. O primeiro é em meu nome pessoal aos organizadores desta Universidade de Verão. Eu sou do distrito de Portalegre e saúdo os eventos que se fazem fora dos grandes centros, é uma forma de dinamizar os jovens de todo o país.
Agradecer também ao Dr. Carrapatoso pela agradável companhia que nos fez hoje.

Falou-nos da ligação entre as empresas e as universidades. De que forma, em seu entender, é que essa ligação deve ser feita?
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.António Carrapatoso
O problema dos funcionários públicos e do seu custo é dos mais sérios.
Como eu disse, a despesa pública é de 49% do PIB e os funcionários públicos pesam trinta e tal por cento desses 49.
São, grosso modo, 15% do PIB.

A outra grande rubrica são as chamadas transferências para as famílias, as pensões, subsídios de desemprego, doença, etc. São mais 23%. Só esta duas coisas juntas pensam 38%.
São duas coisas que temos de controlar a sério: o custo da função pública e o da Segurança Social.

Em relação aos funcionários público, deve haver um programa integrada para a sua redução. Se quer chamar a isso despedimento, eu não sou político, não sei se chamaria a isso despedimento, mas redução dos funcionários públicos

RISOS E PALMAS

E uma redução socialmente equilibrada. Como? Primeiro deve haver uma ideia do papel do Estado. Uma ideia dos objectivos, dos serviços, das funções e prioridades. Como há pouco aqui falámos.
Depois dessa análise feita, daí resultará uma dada organização (ou rede) e há que contabilizar o número de colaboradores de que precisamos! Um número que garanta eficiência e bom funcionamento. Não é reduzir por reduzir. É reduzir para termos um grupo à medida do que se pretende.

Se queremos passar do peso da despesa pública de 49% para 40%, o peso da função pública tem de passar de 15% para 11% (a prazo) Ou para 10%, como a média europeia…

A noção do PS é fazer crescer a economia para que os 15% se justifiquem!!! Mas assim é que a economia nunca crescerá.

Até porque, mesmo que a economia cresça, não faz sentido ter tantos quadros numa instituição!

Então, o que quero dizer com “plano integrado socialmente equilibrado” é: primeiro, ver as necessidades que existem e quantos são os funcionários de que necessitamos.
Depois, vem a parte social. Encontrar fundos para rescindir contratos e pagar indemnizações, encontrar empresas que dão lugares a essas pessoas que saem e ajudam na sua transição de vida, dar cursos de formação aos funcionários públicos para que possam vingar na sociedade civil, etc.
Em vez de estarem encostados à parede e desmotivados, vão estar empenhados, terão um fundo de maneio para recomeçar a sua vida e gente interessada em tê-los a trabalhar com eles.

Claro que muito sindicatos retrógrados não querem isso. São populistas e demagógicos. Querem hordas de funcionários, sempre a lutar por um aumentozinho salarial, fazem oposição às mudanças, a proteger a classe, sem saberem que estão a desproteger o futuro dos mais pobres, dos desempregados, do país em si.

PALMAS

Apesar de se armarem em grandes arautos da defesa do trabalhador. O que eles estão a defender é quem lhes dá votos!

É esse plano integrado que devemos pôr em prática. Talvez mantendo apenas 650 mil funcionários públicos. E temos de explicar que isso é o melhor para Portugal e que tudo será feito com custos mínimos para os trabalhadores. Sobretudo que os vamos ajudar a serem activos e a terem orgulho neles próprios.

Como é que há malta que defende um sistema que ao longo dos anos só deu maus resultados?

Em relação à ligação Universidades/Empresas, já falei um pouco disto.
Penso que passa por dar incentivos. Eu dizia que os portugueses têm poucas qualificações porque não têm os incentivos certos para se qualificarem, qualificando a sociedade em geral.

É o que se passa com as universidades. Sabendo elas que o Estado as dota de dinheiro garantido, não se esforçam em trabalhar com as empresas. Um exemplo que podia ser seguido: por cada euro que uma universidade recebesse de uma parceria com as empresas o Estado dava mais um euro. Depois, a avaliação de professores de acordo com projectos em que participem com as empresas. Investigação aplicada! Terão mais uns pontos por cada projecto. Mas esses mecanismos não existem.

Não há incentivos, não há estratégia! Assim dificilmente teremos projectos entre empresas e universidades. Acho que, apesar de tudo, as direcções das universidades deveriam ter outro perfil. Nos EUA e noutros países, o Reitor ou Gestor da Universidade é escolhido como um Director-Geral duma empresa. Segundo parâmetros rigorosos. Em Portugal é escolhido pelos alunos, funcionários e outros professores: os mesmos que o vão reeleger e a quem é preciso agradar.

Se eu fosse Reitor duma Universidade, quereria fazer dela a melhor de todas! Promoveria road-shows pelas empresas. Ia para a rua explicar quem somos, os que queremos, o que fazemos, o que oferecemos, etc. Bater a todas a capelinhas e arranjar contratos com as empresas.

Mas isso não acontece porque as universidades não estão preocupadas. Está na altura de se começarem a preocupar.

PALMAS

Obrigado.

Queria deixar-vos umas palavras finais de incentivo a todos vós: vale a pena empenharem-se pela nossa sociedade. Se cada um de vocês der o melhor nas vossas áreas de interesse já não é mau, é o mínimo que devemos fazer.
Mas, se além disso, cada um de nós se empenhar em ser mais activo e contribuir para a discussão em torno da melhoria da sociedade, estão a ser muito mais úteis.

Eu sei que é essa a vossa disponibilidade, e que é para isso que aqui estão. Este vosso fórum de cidadania activa é muito importante, porque o nosso país precisa de uma sociedade civil esclarecida e empenhada.
Precisamos de melhores políticos, de partidos que saibam formar listas de Deputados e de Autarcas, onde o mérito e a qualidade sobressaia face ao interesse e à mediocridade

PALMAS

É por isso importante que pessoas como vós comecem a criar uma dinâmica para este país que amamos mas onde é possível ser ainda mais feliz.

Obrigado.

PALMAS