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Revista de Imprensa
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Jantar-Conferência com o Prof. Doutor Pedro Lynce
 
Carlos Nunes
(Brinde)
Prof. Pedro Lynce, o senhor é um exemplo de seriedade e de coragem para todos nós, na acção política.
Quando foi Ministro do Ensino Superior eu era dirigente associativo - estava do outro lado, portanto – (RISOS) e tenho para mim que a forma como o senhor exerceu as suas funções é o melhor exemplo dessa seriedade e coragem.
E continua a sê-lo ao assumir a candidatura à Câmara Municipal de Alcácer, combate para o qual lhe desejo as maiores felicidades.

Em sua homenagem, peço que ergamos os nossos copos.

(Brinde)

 
Dep. Carlos Coelho
Obrigado Carlos pelo excelente brinde, muito embora me tenhas esvaziado de algumas das coisas que eu poderia agora dizer ao apresentar o nosso convidado de hoje (RISOS).

O Prof. Lynce foi meu colega no Governo, fomos ambos Secretários de Estado da Dra. Manuela Ferreira Leite, ele com a área do Ensino Superior e eu como adjunto da Sra. Ministra. Estabelecemos uma boa camaradagem, embora eu já conhecesse o Prof. Lynce (na altura em que ele era Director Geral do Ensino Superior).

E a imagem que tenho do nosso convidado é exactamente aquela que foi expressa no brinde: a imagem da seriedade, da coragem mas também a de alguém que fala com o coração nas mãos. Fala-nos com a simplicidade própria dos que falam daquilo em que acreditam.

Muitas vezes, dos professores catedráticos, esperamos imagens formais, discursos redondos, posturas mais estudadas, e menos a expressão autêntica dos que acreditam em causas e dispostos a trabalhar por elas.

O Prof. Pedro Lynce, em todas as funções que desempenhou e em toda a sua vida, é um testemunho de coragem e de simplicidade. Falando com diversos dirigentes associativos de todo o país, diziam-me que era um membro do Governo com quem era possível conversar, mesmo divergindo nas opiniões.
Os que o conhecem sabem que é assim, os que não o conhecem poderão perceber ao longo da noite que eu não estou a exagerar. Verão hoje um homem dotado de uma grande inteligência mas também de uma enorme coração.

O seu hobby é o desporto (rugby e futebol), migas de espargos com carne de porco é o seu prato favorito, o cavalo é o animal de que mais gosta. Sugere-nos a encíclicas de João Paulo II para leitura, e África Minha o seu filme de eleição.
A lealdade é a característica que aprecia nos outros.

Obrigado pela sua vinda, Prof.  Pedro Lynce. Cabe-me colocar a primeira pergunta.
Em Portugal temos um problema de competitividade, um problema ligado à qualificação dos nossos recursos humanos. Em qualquer que seja o nível de ensino no nosso país, os respectivos docentes são formados no ensino superior. O ensino superior tem assim uma função nuclear, base da inovação, formação e investigação. A pergunta que lhe faço é esta: hoje não somos um país fechado sobre nós próprios (ainda bem), e estamos integrados no Mundo e da UE. No nosso enquadramento actual e na necessidade de investirmos cada vez mais na nossa qualificação, o que é que a Universidade Portuguesa deve fazer?
É para esta reflexão que o convidamos.

PALMAS

 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Obrigado.
Eu gostava de vos ter cumprimentado a todos pessoalmente mas não tive oportunidade, por isso cumprimento-os a todos em conjunto.
Agradeço o convite que me fizeram para estar aqui e afirmar-vos duas coisas: não estou a fazer qualquer sacrifício, gosto imenso de estar aqui. Provavelmente vamos ter divergências no debate mas, como o Carlos vos disse, eu falo tudo na cara, sou incapaz de disfarçar concordâncias ou discordâncias. Dir-vos-ei tudo o que penso com toda a franqueza.

Temos a tendência de criticar as coisas que se passam na política, mas o importante é sermos honestos na nossa postura. E mesmo quando algumas coisas nos correm mal, eu sinto necessidade de vos dizer: continuem, apostem nisto! Os erros que porventura amanhã vos apontarão como políticos são os mesmíssimos erros da sociedade. São os que encontrarão na vossa profissão, entre os amigos, onde quer que seja.
Vale a pena lutar por ideias, lutar por projectos, porque têm sempre uma compensação que é a vossa consciência!

PALMAS

Quanto ao vosso Director, devo dizer-vos que uma das pessoas com quem tive muito gozo em fazer política foi precisamente com ele, com o Carlos Coelho.
Ele hoje aqui é o reflexo de uma figura que tem sido imensamente desgastada que é o Reitor: vocês fazem, fizeram ou vão fazer parte duma instituição que se chama Universidade e sabem bem o quão degradada está a personagem do Magnifico Reitor…

Quando o Carlos me pôs à frente o desafio de vos falar sobre Educação eu aceitei de imediato mas disse-lhe que queria apenas falar uns 15 minutos porque o mais importante são as perguntas. Responder às vossas questões. E sem ser politicamente correcto! Sendo honesto.

E sobre a honestidade, eu há pouco falava com o Daniel sobre o problema das propinas e lembrava-lhe que vi a JSD a nadar, sem força, sem argumentos. Eu tinha ali uns companheiros da JSD com quem reunia todas as semanas, gente boa, mas sentia que não estavam a ser capazes de passar a mensagem para o exterior. É nesta honestidade que devemos mergulhar.

Mas vamos à pergunta do Carlos. Ele pergunta qual é o caminho para o Ensino Superior: só há um, o caminho da excelência! E alguns de nós pensamos logo: mas temos escolas que estão muito longe da excelência! E ainda estamos a pensar em criar mais Universidades… Somos a rede do superior mais densa de todo o Mundo. (estamos a falar com toda a franqueza e a provocá-los para depois começarmos a debater).

Provavelmente pegámos na rede do secundário e transformámo-la no superior e a qualidade veio por aí abaixo.

Em Maio foi colocada a cereja em cima do bolo quanto ao processo de Bolonha: a avaliação internacional! A criação de uma agência de avaliação internacional (não são as nossas “agências” daqui).
Vejam que, se não corrigirmos o nosso caminho, teremos instituições de primeira e de segunda! E quando amanhã alguém disser: a minha instituição é de segunda, quero ver quem se levanta a dizer “ a culpa é minha porque quis uma Universidade sem ter para isso condições”.

Nós temos instituições a dar licenciaturas em que os professores são licenciados! Isto existe neste momento. E não estou a fazer a separação entre o público e o privado. Muitas vezes há essa tentação, mas não façam isso. Isso já passou! Isso foi nos anos 80!
Hoje a separação é entre as que têm qualidade e as que não têm! Não se preocupem com o resto!

E como é que vai ser medida essa excelência? Há dois caminhos. O mais importante (e vejam como estamos afastados da realidade) é o reconhecimento pela sociedade. É o acontece por toda a Europa. Alguém diz: “eu sou graduado pela Universidade de Oxford” e entra em qualquer sítio! E até pelos próprios trabalhos que eles fazem por si mesmos.

Dirão vocês: e não temos isso cá entre nós? Temos algo semelhante que é a avaliação dentro da própria Universidade. Mas esta avaliação valeu durante dois ou três anos, porque depois entrou no vício. Como é que ela funciona? Imaginemos que temos 10 instituições que dão engenharia. Cada uma dela indica um professor para a comissão de avaliação. Quando a comissão vai a uma faculdade fazer a avaliação, vão apenas 9, porque o da própria instituição não faz a avaliação a si mesmo. Mas como o relatório é feito todo em conjunto, “pataca a mim, pataca a ti”, a coisa fica toda combinada!
São os relatórios redondos. Assim não vamos lá.

Quando fui para Ministro, obriguei à quantificação dos relatórios. Mas como foi um problema…

Se forem à net ver uma classificação internacional, nas primeiras 500 não há nenhuma portuguesa… e isto sai periodicamente. E dá guerra por causa dos padrões. Os padrões são discutíveis mas para mim é inevitável que haja um ranking. E é absolutamente essencial lutar para figurar no ranking.

E depois temos a luta entre as Universidades e os Politécnicos. Uma luta complicada. A minha opinião actual é diferente da que tinha há uns 5 ou 10 anos. O que é que se passa?
Ponto 1: socialmente houve sempre uma clivagem entre os indivíduos formados no politécnico e os formados na Universidade. Isto é 100% rigoroso.
Ponto 2: puseram à frente dos politécnicos pessoas formadas em universidades. Por isso cada um quis transformar o seu politécnico na sua universidadezinha. E em vez que quererem ser um politécnico de primeira, quiserem ser uma universidade de segunda.

E vemos guerras permanentes entre as instituições. Urge pôr-lhes cobro! Penso que isso só se conseguirá no dia em que clarificarmos em definitivo as funções do Politécnico e as da Universidade. Até porque se calhar as nossas Universidades não são tão boas como as pintam e os Politécnicos não são tão maus como alguns dizem.

Por isso vamos deixar de falar do tipo de instituição e falar do ensino em si. Temos entre nós o caso da Universidade de Aveiro, um exemplo de sucesso. A UA tem tanto ensino politécnico como universitário. No diploma diz-se Universidade de Aveiro e está o problema resolvido.

Voltando à excelência: ou há coragem política para reformular a rede ou então será o mercado que acabará com ela.

Quanto a dinheiros, a verba do actual governo para o superior é mais ou menos a mesma que eu tinha. Há um compromisso internacional que diz que a verba com o superior não pode ultrapassar mais ou menos 1% do PIB. E todos os anos uma quebra real desse orçamento por causa da inflação.
Dirão vocês: o número de alunos está a reduzir.

Mas vamos a exemplos concretos. Estamos no Alentejo, vamos falar de agricultura. Imaginemos Engenharia Agrícola: Évora com 5 alunos, Elvas tem 3 e Beja tem 4. A única solução (na minha perspectiva) é a criação da Universidade do Alentejo, onde houvesse, eventualmente os três pólos mas sem repetição das matérias. E fazia-se o melhor aproveitamento dos meios que temos (professores, recursos, etc). Este é um dos caminhos, caso o Interior queira ter esperança e possibilidades.
Dirão: mas assim vão despedir professores! Eu prefiro pagar ajudas de custo a um professor para ir de Beja a Évora dar aulas a 12 alunos do que pagar-lhe para ir a Beja, Elvas e Évora dar aulas espartilhadamente. Estamos com instalações subaproveitadas, é necessário fazer reformas e não conseguimos!

O maior de todos os problemas será, a meu ver, a rede. Para nos aproximarmos da Europa temos de mexer na rede do superior, a par com o repensar do politécnico e do universitário.

Dou-vos um exemplo. Não sei se está aqui alguém de Bragança…

Uma voz
Eu!

Pedro Lynce
Muito bem. Quando tomámos posse no Governo o Dr. Barroso disse-me que tinha prometido uma Universidade em Bragança. E isso foi público. Aliás, já todos prometeram Universidade em Bragança.
Na altura eu disse-lhe: muito bem, mas quer uma Universidade com qualidade ou sem qualidade? Se quer uma com qualidade façamos lá um pólo da Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro. Assim estaremos a pouco e pouco a acabar com o politécnico.
E eu falo contra mim mesmo porque o meu pai é de Bragança. Acho que não vale a pena estarmos a criar igrejinhas, uma capela para cada um. Parece que todos nós queremos ter uma capelinha para comandar!

Vejam que tanto assim é, que ficámos prejudicados na obtenção de verbas de investigação no último quadro comunitário de apoio porque não nos conseguimos juntar num esforço comum. Isto é impressionante!
Porque é que não conseguimos juntar esforços? Há universidades que nos dizem: “mas nós temos capacidade e autonomia porque todos os anos entram alunos”, sim, é verdade, mas entram com médias negativas!
É isso que queremos?

No outro vi uma página inteira de publicidade num jornal feita pelos politécnicos em que diziam que queriam dar doutoramentos, defendiam que os alunos pudessem entrar com negativas, etc. Digo-vos que assim nem vale a pena dedicarmo-nos à avaliação internacional. É a apologia do ensino de segunda.

Em tantos e relatórios internacionais, o que se lê é que Portugal só tem capacidade para ministrar o 1º Ciclo. Esta é a mensagem que neste momento se passa. Será verdade? Se não deitarmos rapidamente a mão à nossa rede, isto será verdade!

E quando sair o primeiro ranking, se nós estão estivermos integrados nele depois será difícil recuperar. Quando eu e o Dr. David Justino estivemos numa reunião internacional onde se falou de ranking, falou-se também de rating que é o seguinte: considerar que estamos todos no nível zero e depois ver quem é que progride mais. Esta proposta de rating não teve aceitação quase nenhuma!

Outro problema que queria falar é o incentivo à reorganização interna. Uma universidade tem de ter uma estratégia de desenvolvimento a 10 anos e actualmente não temos na universidade ninguém que seja responsável. Somos todos irresponsáveis. Toda a gente se descarta. As reitorias descartam-se porque estão em minoria nos Senados, os alunos dizem que a responsabilidade é dos professores, etc etc etc.

Nos anos 70 o Zé-povinho olhava para a Universidade como um boi para um palácio, achando que a Universidade lhe resolveria todos os problemas. Na altura tínhamos 40 mil estudantes universitários, hoje temos 400 mil. No tempo do Salazar não havia problemas. Aliás, os únicos problemas eram a PIDE ir lá buscar um ou outro. (RISOS).

E criou-se aquele problema da universidade napoleónica, dela sentada sobre si mesma… não evoluía! Agora vemos uma universidade que já não resolve os problemas e ainda os cria! Licenciados no desemprego, etc.
E a solução é a criação de conselhos estratégicos nas universidades onde esteja a sociedade civil, empresários, empregadores, etc. Um Conselho que diga: este curso não presta, ou este curso não tem saídas este ano, ou é preciso a vertente x no programa do curso y.
Dirão: mas algumas universidades já têm conselhos consultivos. Pois, mas é preciso que sejam mais que consultivos, têm de ser deliberativos.

Se sair hoje a obrigação de haver no máximo 5 cadeiras semestrais, vocês acham impossível meter todas as matérias nessas cinco cadeiras? Não achem! É possível! Basta que os professores se entendam!
Mais: a ratio professor/alunos está a reduzir e actualmente é de 1 professor para cada 8 alunos! Melhorámos alguma coisa?

Outra coisa: temos de dar outra dinâmica aos Conselhos Pedagógicos, para deixarem de ser poleiros. E temos de ter mais rigor: se o professor é um porreiro e facilita eu não vou dizer que as suas aulas são uma balda; e que dizer dos professores que prejudicam os alunos que pedem revisão da nota?
Criam-se cadeirinhas para certos docentes terminarem teses e investigações e depois os alunos têm 7 e 8 cadeiras para estudar (enquanto que no resto da Europa os seus colegas têm apenas 5) das quais resultam um período de exames dilatadíssimo: 2 meses!
É impossível! E depois para que servem as associações de estudantes, que são os vossos representantes? Só servem para as propinas?

PALMAS

Um outro ponto que me parece importantíssimo: tardamos a nos actualizar face a Bolonha. Já perdemos imenso tempo!
Estamos todos parados!

O problema do financiamento está também a envenenar todo o sistema. Mas então qual é o financiamento que queremos? Queremos dar a todas, só a algumas ou a nenhuma? E depois umas dizem: se não tivermos financiamento queremos 4 anos + 1, se tivermos queremos 3+2.
Isto é o que dizem os meus colegas… Mas como é isto?! Então e os alunos?! Isto não pode ser! Tem de ser denunciado!

Estou quase a acabar, Carlos (RISOS). Falemos também do estatuto da carreira docente. É a coisa mais vergonhosa que pode haver!!!
Todas as propostas de futuro têm esbarrado nos sindicatos. Uma a avaliação feita por outros próprios docentes. Outra é a avaliação feita pelos alunos. Neste campo vocês também têm de “limpar as mãos à parede”, porque dão umas avaliações discutíveis.
Mas a avaliação tem de ser pública.

Outra coisa estranha: os professores que se gabam de ter 90% de reprovações! E os Conselhos Científicos insistem em tê-los a leccionar. Eu costumo perguntar se a burricada veio toda para Portugal… (RISOS)

Sob esse ponto de vista vocês sabem que os senhores reitores não me perdoaram porque eu dizia-lhes tudo na cara!!! Uma das coisas que lhes disse que é ao corpo docente aflige-lhes que voltem de Erasmus com boas notas! Lá fora têm boas notas e aqui são corridos a negativas e notas medíocres. Há qualquer coisa que está errada. É preciso esclarecer.

Finalmente, a última questão, que para mim é a mais importante e que eu sublinhei quando era ministro: o aumento das propinas (usadas para benefício das condições de ensino) e não inviabilizar a progressão nos estudos àqueles que não as podem pagar.

Resumindo e para concluir: Bolonha visa a valorização do capital humano e a exploração eficiente do conhecimento.
Eu sou do tempo em que a riqueza das nações era medida em ouro. Depois passou às armas e ao petróleo.
Agora, e pela primeira vez, estamos a valorizar as pessoas! E é aqui que Portugal se pode afirmar.
E hoje já não se fala só em “ensino” mas sim na aprendizagem centrada no aluno! E hoje a sociedade é alicerçada na velocidade de transmissão do conhecimento. A facilidade de fazer mover a economia, mutações permanentes, soluções rápidas para problemas imprevisíveis. Tudo numa lógica de globalização, é certo, mas nós somos sociais-democratas também de nós se espera que humanizemos o mundo.

Este é o caminho que temos à nossa frente, a não ser que amanhã queiramos ser os criados da Europa. Agora vamos às perguntas!

PALMAS

 
Pedro Afonso
Boa noite. O nosso grupo não pretende fazer uma pergunta sobre educação.
Nós queremos saber o que leva um homem com o seu currículo a candidatar-se a Alcácer do Sal, num distrito tão difícil onde nunca o PSD sozinho ganhou uma Câmara. Obrigado

PALMAS

 
João Heitor
Boa noite, professor. Pediram-nos que lhe preparássemos uma pergunta, mas como o senhor gosta de responder, far-lhe-emos mais que uma.
(UM MINUTO INAUDIVEL)
Outra: qual a diferença de funções entre a Universidade e o Politécnico?
Uma outra pergunta: qual a nota que dá ao Dr. Mariano Gago, seu sucessor em funções?
Finalmente uma pergunta regional: falou na Universidade do Alentejo e eu pergunto se seria viável uma Universidade do Ribatejo, com os politécnicos de Santarém e Tomar e respectivos pólos?
Obrigado.
 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Pedro, a resposta a ti é muito simples: quando nos empenhamos por causas há combates diferenciados. Uns mais fáceis que outros, mas devemos estar preparados para todos e estar neles com a mesma humildade.
Neste caso trata-se da minha terra, o sítio onde cresci, onde aprendi a ler e onde fiz os primeiros amigos. Numa altura em que a situação está tão difícil, eu não podia, por uma questão de solidariedade, dizer NÃO à minha terra.

Eu fazia parte duma turma de 30 alunos dos quais nos formámos dois! Dois! Alguns deles foram tratar de vacas e merecem o mesmo respeito. E é porque eu tive uma sorte diferente que não podia dizer NÃO à minha gente.
E um dos principais objectivos é lutar lá pelo sector da educação.

Mas também não foi só o coração que me fez aceitar o convite mas também a solidariedade dentro do Partido. Eu não podia ser egoísta.

PALMAS

João, fez-me uma série de perguntas, deixe ver se consigo agarrar nelas todas.

O Prof. Mariano Gago é um indivíduo muito “esperto”, muito seguro por isso não acredito que vá criar grandes confrontos. Aliás, foi suficientemente esperto para não mexer naquilo que lá estava… percebe?

RISOS E PALMAS

O financiamento das Universidades tem sido feito com base no número de alunos. É muito criticável mas até à data era natural que assim fosse, porque tratávamos todas as escolas por igual, diferindo apenas no número de alunos. Mas, na altura, tínhamos 40 mil e hoje temos 400 mil.
Agora o número de alunos está a baixar. Não sei se vocês sabem mas antigamente nasciam entre nós 175 mil crianças, hoje estamos nss 110 mil.

Actualmente temos de dar prioridade ao pré-escolar, ao 1º ciclo e ao 2º ciclo. Aqui sim devemos dar tudo. Não pode continuar a haver escolas que não têm dinheiro para colocar um vidro e em que os professores são colocados a más horas.
E eu peço-vos que sejam solidários com isto! Temos de apoiar os miúdos. E estar a formar de modo mais humano e inteligente a rapaziada mais nova é investir na sociedade.
E vejam: eu saí da escola de Alcácer e fui estudar para o superior. O meu amigo Carreira, que não era mais parvo que eu, foi guardar vacas. Não há aqui uma dívida que eu tenho de pagar à sociedade?

João, sobre a minha saída do Governo. Sabe, os homens passam, os momentos passam e não temos de ter mágoas. Eu próprio não sei se, não tivesse havido o incidente que me levou a sair, eu não teria os meus dias contados. Até porque houve um determinado conjunto de dossiers em que me vi travado. A Lei da Autonomia, por exemplo. O estatuto da carreira docente. A criação da Universidade de Viseu. Etc.
Não vi apoios dos senhores Reitores! Estavam todos com o rabinho entre as pernas. Mas quando viram a lei, todos subiram as propinas! E, deixem-me dizer-vos, não estou aqui para vos enganar, que todas estas decisões difíceis são tomadas em Junho/Julho, quando vocês estão em exames e não têm cabeça para pensar em manifs. O PS funciona assim também.

O João falou-nos aqui da minha saída prematura e de facto ela foi prematura. Após a minha saída, estive numa debate moderado pelo Dr. Campos e Cunha e eu falei das várias matéria que tinha ainda em carteira no Ministério e um colega vosso perguntou-me: então se tinha tanta coisa em carteira, porque é que não as realizou. Ora o Dr. Campos e Cunha deu-me um toque debaixo da mesa e disse-me que passava já a outra pergunta para eu ter tempo de pensar no que ia responder. (RISOS) Estas coisas fazem-se e é bom começarem a aprendê-las. Se calhar o Carlos Coelho e o Agostinho Branquinho já vos falaram sobre isso. (RISOS)

E eu respondi-lhe: olhe, se não fiz isso não foi por falta de coragem, até porque já começava a ter os média todos do meu lado. E também opinion makers, como o Vital Moreira. E não foi também pelos professores e pelos alunos. Foi por ter escolhido mal os meus colaboradores.
E penso que nisto fica dita muita coisa.
E não é à toa que quando o Carlos me perguntou a característica que mais aprecio nas pessoas eu disse que é a lealdade. Podemos estar em barricadas diferentes que, quando toca a reunir, os leais aparecem sempre. Os outros desaparecem.

PALMAS

Finalmente, João, já percebi que você é ribatejano. Se você me falasse nisso há 20 anos eu diria que era uma hipótese. Mas hoje o número de alunos está a reduzir e a qualidade dos professores está muito aquém do desejável, e vamos criar mais uma Universidade? Somos a rede mais densa, João!
E temos outro problema, que é o das escolas que têm um ou dois alunos e cujos pais não as querem ver fechadas. Essas crianças nunca se irão adaptar ao mundo competitivo. Mas como explicar isto a um pai que anda com uma enxada e a uma mãe que anda com um xaile?

Voltando à sua questão. Hoje para se formar um doutorado são precisos mais 10 anos (em média) para além da licenciatura. E eu correrei o risco de usar esses recursos para abrir uma Universidade que satisfaça apenas a vaidade regional? Mais importante que atender aos desejos regionais é incentivar a solidariedade regional, unindo instituições. Estabelecendo trabalho entre elas. É o caso de Trás-os-Montes e Alto Douro. Mas quando eu lhes disse isso, iam-me comendo vivo! Mas por que razão os meios naquela região não podem ser geridos em conjunto? Se assim for, aumenta a qualidade. Ou corre-se o risco dos alunos irem estudar para Zamora!

Dou-vos um exemplo. Quando eu era Ministro apercebi-me que num pólo do Politécnico de Leiria, a funcionar em Peniche, estavam matriculados apenas dois alunos. Eu propus que passassem para o Técnico, em Lisboa. Passados uns tempos liguei para a Associação de Estudantes do Técnico a perguntar se a adaptação estava a correr bem e disseram-me que lhes tinha saído a sorte grande. Liguei ao director da sua anterior escola a dizer-lhe isso mesmo e este responde: pudera, aqui as instalações eram más!

RISOS E PALMAS

É por isso que nos digo que não acho que numa escola onde estão dois ou três se criem as condições de excelência e competitividade que há lá fora.

A partir de determinado nível de ensino, este deve ter lugar onde haja meios e competição. E essa vivência é boa. Até para vocês. Agora nem sequer têm tropa. A desmama que vocês fazem agora são os inter-rails!

RISOS E PALMAS

Ou o Erasmus!

RISOS

 
Anne Sylvie Hertgen
Boa Noite.
Eu sou francesa e cheguei a Portugal há um ano. Quando cheguei tive um problema de saúde e houve alguma dificuldade em encontrar um médico para mim. Disseram-me depois que em Portugal não era de admirar porque havia cá falta de médicos.
Em França, por exemplo, nós não temos nota mínima porque a selecção se faz ao final do primeiro ano. E, aliás, não temos faculdades privadas. E pelo que ouvi do nosso convidado de hoje, o senhor não é muito favorável à privadas.

Então, como é que se pode melhorar esta situação da medicina em Portugal? Obrigada.

PALMAS

 
Oriana da Inês
Boa noite. O nosso grupo quer saber que medidas deviam ser implementadas para aproximar as escolas superiores às empresas.
 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Bem, eu espero que vocês não tenham horas para se irem deitar (RISOS).relativamente à qual os Governos nunca se conseguiram impor.

PALMAS

Eu estou a queixar-me contra mim próprio quando fui Secretário de Estado porque nunca me apercebi deste problema. Já enquanto Ministro tentei impor-me.

Sejamos realistas. O aluno de medicina custa por ano 12.500 euros. Portanto, tenho duas alternativas. Eu estou limitado em termos orçamentais e posso fazer uma de duas coisas. A primeira é aumentar as vagas, cortando noutros cursos (não me parece fácil porque os reitores nunca facilitam nada).
A outra hipótese é nas instituições privadas, mas esta é uma área cara. Neste momento haverá cerca de 10 interessados, mas aí falaria mais alto a qualidade.

São estes os dois caminhos.

Oriana, temos aqui alguns problemas por resolver. Criámos um Conselho Consultivo para as Universidades em que estavam representadas as empresas e os privados, mas a única coisa que fazem é um parecer que depois é engavetado. Porém, o que devia acontecer é terem poder deliberativo, nomeadamente na aprovação de cursos, atendendo à margem de absorção do mercado. O que acontece é que as universidades não quiseram abdicar dessa prerrogativa.
E andamos aqui a criar cursos à louca!

Outro problema é o seguinte: há áreas de investigação que são importantes para as empresas e que as escolas desprezam porque dizem que não dá nem para um mestrado nem para um doutoramento.

Estes são pontos que precisamos de ultrapassar. E este segundo é importantíssimo. As metas de 2015 dizem que devemos atingir os 3% de PIB para a investigação (em Portugal estamos nos 0,7%) e desse valor 1% deve ser público e 2% deve ser empresarial.

Era bom que rumássemos de encontro aos dois pontos que referi.

 
Pedro Veloso
Olá boa noite. Obrigado por ter acedido ao convite desta conversa em família. E por estarmos em família, o grupo laranja gostaria que partilhasse connosco alguns episódios da sua vida de professor e político.
 
Bruno Gomes
Boa noite. Não pensa que a reactivação das antigas escolas comerciais e industriais, conjugadas com as escolas profissionais resolveriam parte do problema do nosso ensino superior?
Finalmente, uma curiosidade, em sua opinião quantas universidades de qualidade existem em Portugal?
 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Pedro, lembro-me duma história engraçada. Uma vez um autarca apareceu-me no gabinete a pedir uma universidade na terra dele (RISOS) e eu alimentei a conversa (eu gosto de conversar com as pessoas) e no fim ele pergunta-me: então quando avançamos com este projecto? Eu respondi-lhe: quando eu também fizer uma universidade na minha terra. E qual é a sua terra, pergunta ele. Respondi que era Alcácer do Sal. (RISOS).
Ele foi embora e nunca mais voltou.

RISOS E PALMAS

Bruno, o problema foi precisamente esse. Depois do 25 de Abril achámos que as escolas industriais e comerciais não tinham qualidade, eram de segunda, e vieram os politécnicos. Mas eles em vez de terem alma própria e quererem modernizar-se como politécnicos, quiseram tornar-se universidades.
Eu fazer uma universidade até a faço num ano! Eu não faço é professores qualificados num ano!
Nesta campanha disseram que eu devia defender um politécnico para Alcácer. Eu disse logo que isso não defendia. Defendo bolsas de estudo! Defendo a criação de residências para alunos deslocados em Évora, por exemplo.

Tenham a ideia do erro que fazemos quando descentralizamos as instituições. E depois a mobilidade faz-vos bem! Vocês ficam radiantes quando fazem Erasmus! Os inter-rails fazem-vos muito bem! Vocês comem pedra, dormem no chão e não vos faz mal nenhum! (RISOS)

Peço-vos que tentem levar o ensino superior para vossa casa! É um erro tremendo!

Hoje temos universidade públicas muitíssimo boas, mas também temos das mais fracas que há!

 
Alexandre B. Cunha Pereira
Obrigado ao Magnifico Reitor pela palavra

RISOS E PALMAS

Agradeço ao nosso convidado a sua presença aqui e saúdo a coragem, o desprendimento e a atitude enquanto Ministro. Faço-o do ponto de vista pessoal mas também em nome dos meus colegas de UV. Todos reconhecemos em si um lutador e uma pessoa que ergueu sempre a sua voz em prol dum ensino de qualidade e mais eficiente na formação dos seus alunos.

O senhor é um homem de um currículo notável: professor catedrático e ex-ministro. Se cá está hoje, e se prescindiu do seu tempo, é porque acha que pode ajudar na nossa formação. Se sim, em que medida é que o pode fazer. Que conselhos nos poderá dar?
E como é que nós podemos competir com o ensino fortíssimo lá de fora?
Obrigado.

 
Carlos Vaz Franco
Boa noite a todos.
Em nome do grupo encarnado queria felicitar o Dr. Pedro Lynce pela sua presença aqui.
É curioso termos aqui um ex-ministro entusiasta, que vê-se que adora as questões do ensino, que fala delas com muito à-vontade, pessoa que contrasta absolutamente com um actual Ministro apagado, que poucos conhecem, que raramente fala e muito pouco nos diz.

PALMAS

Queria fazer duas perguntas: uma mais política e outra mais técnica.
A pergunta política prende-se com o facto de hoje estar a ser lançada uma candidatura presidencial, portanto, em seu entender qual poderá ser o papel do Presidente da República em matérias do superior.
A pergunta técnica prende-se com a aposta na investigação: que investigação? Em que moldes?

 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Alexandre, eu estou aqui com muito gosto. Vim aqui ganhar tempo, aprender, ensinar e partilhar.
Qual é a minha obrigação como político num curso da JSD? É mostrar que mesmo em divergência se pode construir um projecto em comum, é mostrar que há valores pelos quais vale a pena lutar. Podemos não pensar da mesma forma, mas podemos trabalhar em conjunto. Por isso é que eu acho que o “politicamente correcto” é um logro! É um mal em si mesmo!

Temos de dizer sempre o que pensamos dentro da parte mais prática da política. Há pouco perguntava-se sobre a criação de uma nova universidade e na sequência devemos começar um debate sério: onde, em que condições, com que dinheiros, com que custos futuros, com que professores, etc etc etc! Isto é que tem interesse. Isto é que nos forma!

Mas o que é que muitas vezes acontece? Acontece que quando estamos na oposição dizemos uma coisa e no poder dizemos outra.

O Alexandre falou do meu currículo. Eu comecei muito ligado ao desporto, comecei por jogar futebol, na mocidade portuguesa era capitão de equipa, depois passei pelas associações de estudantes, depois professor, penso que dei os passos todos, só não fui foi reitor. E nem quero, a não ser que seja de uma Universidade como esta (RISOS).

E nestes passos fui acompanhando a política e integrando-me nela pela parte do ensino. Eu acredito muito na juventude e nesta geração. A vossa geração tem indivíduos espectaculares. Temos de vos dar apoio porque vocês são o fermento.

Eu em casa com os meus filhos sou terrível. Sempre a chatear-lhes a cabeça e a dar palpites! Porque acho que é o confronto que nos faz evoluir. O confronto e, sobretudo, o mérito!

É pelo mérito que devemos subir! E não por sermos filhos de beltrano ou sicrano. Eu na minha terra sou o filho do Dr. Faria e não gosto da ideia. Preferia ser o “não sei quantos” (RISOS).

(UM MINUTO INAUDÍVEL)

Carlos, eu acho que qualquer Presidente só tem um papel: o papel da exigência. Não tenhamos qualquer dúvida. Não é o facilitismo, ou “coitadinhos dos meninos” ou “coitadinhos dos professores”!
No dia em que deixarmos de querer ser exigentes os outros passam-nos à frente!

Eu tenho um pouco de medo daquilo que não fazer os nossos parceiros da Europa sobre Bolonha.
Voltando um pouco atrás à pergunta da Anne, eu não sei se vocês sabem mas um dos problemas que tínhamos é que para se formar um médico era necessário mais um ano que em Espanha. E isso foi alterado há três anos. Vejam se isto nos acontece de novo com Bolonha… Temos de estar alerta! Mais: o secundário tem de vos dar uma formação completamente diferente! Para vos formar para um superior de competição com o exterior!

É que se não estivermos atentos ao que se vai fazer no estrangeiro, eu (se tiver dinheiro) pego no meu filho e meto-o a estudar em Madrid!

Não estou a dizer que temos de copiar, mas devemos harmonizar, caso contrário teremos muitos problemas! Vejamos o caso mais absurdo: um tipo estuda no 5º ano de engenharia no Porto. Se por um motivo qualquer vier para o Técnico, em Lisboa, ele vai para o 1º ano e fica sujeito a que cada um dos professores aprove as cadeiras que ele fez no Porto! Isto não pode ser!!!
É perfeitamente incrível!
Mas então para que servem as unidades de crédito?

Por isso vos digo que o Presidente da República deve ter como prioridade a exigência!

Agora sobre a investigação. É extremamente importante. E deve começar logo no início. Devemos estimular a experimentação logo ao nível do primeiro ciclo. Uma coisa tão interessante é a criação de pequenos museus de ciência viva, que já há alguns pelo País. As crianças adoram aprender coisas novas e ficam maravilhadas com o conhecimento. Nesses espaços podem recriar-se coisas que estimulam os miúdos. E são coisas relativamente baratas.

Devemos obrigá-los a pensar. E estou convencido que o Prof. Mariano Gago é sensível para isso.

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Meu caro Pedro, nós temos a tradição de deixar a última palavra ao nosso convidado por isso antes das últimas duas perguntas eu aproveito para agradecer a presença do orador da noite.
Quero realçar a autenticidade, a amizade e abertura na intervenção e nas respostas.
Obrigado, em nome de todos nós.

PALMAS

 
Carlos Nunes
Boa noite. Renovo os cumprimentos ao nosso convidado.
Ouvimos por vezes chavões tais como competitividade, excelência, qualidade, capital humano, mérito, mercado, ranking, exigência, etc.
Estes chavões avivaram-me a memória a alguns escritos de esquerda que criticam este tipo de chavões. Dizem eles que a ditadura da excelência leva a uma orientação para os resultados. E estes rankings são o resultado disso mesmo, e assim se perde o essencial, que é o processo.
Eles acusam até os mais liberais de verem a Educação como um produto, inserido num mercado global da aprendizagem. Dizem ainda que esta orientação para os resultados leva a uma intensificação do trabalho docente, a uma perda da autonomia e descredibilização do seu trabalho.

Senhor Professor, quero saber como responde aos críticos e académicos de esquerda.

Uma outra questão: qual a relação entre a globalização e a educação. Será que existe uma agenda globalmente estruturada para a educação, como refere Roger Dale? Agenda essa que condiciona as políticas nacionais? Uma agenda neo-liberal que pode redundar na limitação do papel de um ministro da educação. O que pensa disto e da criação de um super-ministério europeu da educação?

 
Dep. Carlos Coelho
O Prof.  Pedro Lynce não me deu nenhum toque no pé para ter tempo de pensar na resposta a esta pergunta. (RISOS)
 
Nelson Sá
Boa noite a todos em especial ao nosso convidado.
Sinto-me num papel um pouco ingrato dadas as boas perguntas que já foram feitas e as boas respostas que teve oportunidade de nos dar.

Mas cá vai a nossa pergunta. Actualmente temos um ensino superior repartido entre politécnico e universitário, que nos últimos anos têm convergido.
Estaremos a caminhar para um sistema único, optimizando recursos e rumando à excelência ou continuaremos no despesismo?

E sendo o último a colocar uma questão, desejo-lhe as maiores felicidades nas próximas eleições autárquicas. Obrigado.

PALMAS

 
Prof. Dr.Pedro Lynce
Ó Carlos, ao responder às suas perguntas eu coloco-me claramente ao centro. Todas essas filosofias são de gente que extremos, desde uma educação extremamente rígida à educação totalmente anárquica.
Sendo eu um social-democrata, quero menos Estado, melhor Estado e que a componente da Humanidade seja bem clara na nossa filosofia.

PALMAS

Quando lhe faço da competitividade eu faço a ponte com o desenvolvimento sustentável e com coesão social. Aí vou muito pelas teorias humanistas de João Paulo II contra o desenvolvimento selvagem e a todo o custo.
É isso que nos diferencia e é nessa margem que nos devemos situar.
Mas também compreendo claramente que se pretendo uma coesão social ela deve ser acompanhada de um desenvolvimento do aspecto económico.

E qual é a minha visão destas coisas no tocante à Universidade? É dar-lhes todos os meios para evoluir mas lembrar-lhes sempre que fazem parte de uma sociedade e que eles têm responder perante ela.

Eu não sei se a globalização é má, mas ela é um facto e temos de lidar com ela. A alternativa é o orgulhosamente sós!

Sobre as palavras dos teóricos de esquerda sobre a competitividade, a imagem é a de um professor de chicote! (RISOS)
Agora, em termos de Agenda Global, se ela existe ou não, não ponho as mãos no fogo, até porque sei que toda a gente quer optimizar os gastos em todas as áreas, não é só na educação.
E quanto a optimizar, acho que não podemos permitir muito mais tempo aos senhores reitores a estarem sempre a pedir mais dinheiro e mais dinheiro. Aliás, a única coisa para que serviu o Conselho de Reitores foi para isso!

Mas oh Carlos, os tipos que escrevem estas coisas são filósofos que gostam muito de escrever coisas que não têm de aplicar na prática.

PALMAS

Sobre o papel do Ministro. A meu ver tem dois muito importantes: regular e fiscalizar!
Regular, muitas vezes com incentivos e não com imposições porque aí tem toda a gente contra si.
Fiscalizar para que os erros e desmandos sejam eliminados.

Finalmente Nelson veio dizer que era o último e que os outros já disseram tudo, e depois pôs aqui um problema dos mais importantes, que é o problema do binómio politécnicos/universidades.

Eu não sei se tenho a solução certa para isto.

Ora bem, o País está a investir muito no ensino. Quer Estado, quer privados, os pais, vocês, etc.
Em média as famílias gastam 120 contos por cada filho no superior. É um esforço muito grande.

Como eu há pouco dizia, noutro tempo a malta que vinha do politécnico parece que era de segunda, que tinha um ferrete. Agora já não se nota tanto, mas ainda existe o estigma.
Pessoalmente eu creio que o melhor modelo, se a questão se colocar, é o da Universidade de Aveiro. Por exemplo: acho que neste momento o melhor seria se a Universidade do Minho absorvesse o Politécnico de Barcelos. Junta-se, melhora-se a qualidade, os alunos saem com um diploma da UM, qualquer que seja a sua vertente de ensino.
Parece-me um sistema que agradaria a todos e pouparia recursos.

É que, respondendo também ali ao Carlos, eu nunca vi a educação como um produto mas atenção: eu tenho de prestar contas a alguém! Quanto mais não seja à minha consciência!

Sobre a “Universidade Politécnica” eu sou totalmente contra! As Universidades são Universidades e os Politécnicos são Politécnicos. Cada um tem a sua função!
Dirão: mas você é contra os politécnicos darem doutoramentos? Eu sou contra as más instituições darem graus académicos! E há neste momentos Universidades sem qualidade para dar doutoramentos!
Criemos um sistema de mérito! Um sistema que retire os ferretes!

Muito obrigado a todos e até qualquer dia.

PALMAS