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Revista de Imprensa
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Jantar-Conferência com o Dr. Vasco Graça Moura
 
Patrícia Mendes

(Brinde)

Boa noite Dr. Vasco Graça Moura. Obrigada pela sua presença no último Jantar-Conferência da UV 2005.

Ao longo desta semana os nossos convidados foram saudados por um brinde de boas vindas. O Dr. Vasco Graça Moura não será excepção, mas preparámos-lhe um brinde diferente. Combinámos com o Director da UV a leitura de uma carta de um pai dirigida aos seus filhos.
Essa carta apela aos valores e representa uma autêntica lição de vida.
“Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya” de Jorge de Sena.

Carlos Coelho – Director da UV (acompanhado à viola por Daniel Carreiras da Silva, ex-aluno da UV 2003)

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando
lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer uma delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu
semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anónimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos,
apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum juízo final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã".
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

PALMAS

Eu agradeço ao Grupo Encarnado e ao Rodrigo Moita de Deus que ajudaram a pensar numa forma diferente de recebermos o nosso convidado e terem prescindido do seu direito a fazer o brinde desta noite.

O Dr. Vasco Graça Moura tem como hobby o Xadrez – não sei se é verdade mas dá sempre um ar inteligente – (RISOS), tem como comida preferida o peixe grelhado e o cão como animal preferido.
Sugere-nos a lírica de Camões e filme “Citizen Kane”.
Aprecia nos outros, acima de tudo, a lealdade.

O nosso convidado foi fundador do PSD, fez parte daqueles que, após o 25 de Abril, ajudaram a erguer o nosso partido. Mas cedo entrou em divergência e abandonou o PSD. Mais tarde, como independente, reaproximou-se e esteve, em termos de intervenção cívica, ao nosso lado.

Hoje é Deputado ao Parlamento Europeu pelas cores do nosso partido, embora como independente. Fá-lo com uma autoridade e com um estatuto de que eu sou testemunha.

Ainda esta manhã, dizia-me o Dr. Eduardo Catroga que era notável a forma de trabalhar do Dr. Graça Moura e a sua produtividade de obras literárias, intervenção política, escritos nos jornais, etc. Não descansa um segundo.

Há um conselho que, como amigo, vos quero dar (ao longo desta semana penso que criámos esta relação de amizade): nunca queiram ser inimigos do Dr. Graça Moura.

RISOS

O Dr. Graça Moura joga com as palavras como os nossos antepassados jogavam com a adaga ou com a espada. São palavras que ferem. Que matam! Nós costumamos dizer que o nickname dele é “pena assassina”: coitado do seu adversário!

PALMAS

Tradutor, ensaísta, poeta, tem dos maiores prémios que existem em Portugal. Este ano foi reconhecida a sua obra como romancista pela Associação Portuguesa de Escritores, que é considerada a distinção mais importante na área do romance.
Já tinha sido galardoado há uns anos, pela mesma instituição, com o Grande Prémio da Poesia.

É um grande vulto da cultura portuguesa e inspira respeito lá fora.
Uma vez, uma grande figura do Parlamento Europeu, o senhor Mendes de Vigo, que foi vice-presidente da Convenção Europeia, perguntou-me: como está o nosso colega que podia ser prémio Nobel mas ainda não foi?

Isto dito por um alemão – note-se que o nosso convidado traduziu importantes obras alemãs para português – compreendia-se, mas vindo do “rival” espanhol sabe melhor!

Não vos posso esconder uma coisa que sinto e vos tomo como testemunhas: tenho muito orgulho em poder representar Portugal ao lado da qualidade, prestígio, inteligência e criatividade do Dr. Vasco Graça Moura.

PALMAS

O PSD tem muito orgulho que uma das referências da cultura portuguesa seja seu Deputado Europeu.

Meu caro Vasco, nós podíamos falar de muita coisa. Você está na política muito antes de mim, escreve coisas que nos deixam desvanecidos, podíamos falar de política cultural, da Europa, etc.
Mas hoje, somo capazes de querer um pontapé de saída diferente.
O senhor, como criador literário, fez de tudo mas é mais reconhecido como poeta. Na política é daqueles que não se acobarda. Escreve o que pensa, escreve com convicção e, muitas vezes, com acidez.

O senhor consegue estar em dois campos que nem sempre andam juntos: a poesia e a política (o concreto). Partilhe connosco os momentos que, numa faceta e noutra, mais o satisfizeram.

A palavra é sua.

PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
Obrigado.
Depois de ter ouvido o que ouviram todos, certamente não estranham que eu esteja de guardanapo na mão.

RISOS E PALMAS

Queria agradecer estas palavras tão amáveis, imerecidas, mas ditadas por uma grande amizade e camaradagem, proferidas pelo Carlos Coelho, Reitor desta Universidade.
Agradeço o convite e, antecipadamente, a paciência que vão ter em aturar-me.

Mas antes de responder à pergunta, gostava de salientar a importância do poema com que, para surpresa minha, abriram os trabalhos.

Jorge de Sena é um autor singular, até na sua própria trajectória humana. Nasceu em 1919, frequentou a escola naval, desistiu da carreira na Marinha e formou-se em Engenharia Civil.
Foi engenheiro da Junta Autónoma das Estradas, começou a publicar nos anos 40, ligado em parte aos surrealistas, e em 1959 tem uma convite para participar num Congresso no Brasil, vai até lá com a família (ele tinha 9 filhos, mas não sei se os teria já a todos na altura) e no Brasil é convidado por um escritor português que já lá vivia – Adolfo Casais Monteiro – e por outros escritores brasileiros a fazer uma carreira de docente de literatura.

Aceita, faz o seu doutoramento em Araraquara, com uma tese sobre Camões, controversa mas em que o seu génio matemático foi usado para estudar a estrutura da poesia camoniana.
Porque teve um convite nesse sentido – e porque não se dava bem com a ditadura dos coronéis no Brasil – ruma à Universidade do Wisconsin e depois para a Universidade de Santa Bárbara, na Califórnia.
Foi lá que morreu a 4 de Junho de 1978.

Um homem com uma obra vastíssima no domínio da investigação, ensaio, romance, teatro, tradução, não há praticamente nenhuma área da criação literária que ele não tenha percorrido.
Tinha uma capacidade inovadora extraordinária.

No livro em que sai esta obra, Jorge de Sena faz uma coisa inovadora: ligar um livro inteiro (“Metamorfoses”) a obras de arte visuais. Depois veio a ligar um outro livro inteiro a obras de arte musicais.

Isto é extraordinariamente moderno na vida e cultura do séc. XX e tem a ver com o chamado ekfrasis – um palavrão grego que designa a discrição verbal de uma obra de arte visual, precisamente isto que ele faz com o quadro dos fuzilamentos. E tem coisas semelhantes, como quando se reporta a um busto de Camões, uma gazela da Ibéria encontrada numa escavações, etc.
Esta visão do Jorge de Sena foi extremamente inovadora. Havia um poema do Jaime Cortesão dos anos 15 ou 16 sobre Boticeli e um poema de Eugénio de Andrade sobre uma pintura de Augusto Gomes dos anos 40 mas não havia praticamente mais nada.

Depois de Jorge de Sena, muitos outros seguiram esses passos.

Ele é muito importante porque também representa a consciência de Portugal vista por um exilado. A partir de 59 viveu fora de Portugal (embora tenha vindo cá em 77 e em 69, quando eu o conheci pessoalmente).

Sendo ele um homem de esquerda e avesso àquele Portugal e ao salazarismo, teve sempre um olhar muito amargo sobre a nossa realidade, porém, extremamente lúcido. Um pouco como aquilo que encontramos em outros pensadores que viveram ou vivem no estrangeiro, já desde o séc. XVIII, os chamados estrangeirados. Ou aquilo que vemos em Eduardo Lourenço, figura incontornável que tem vivido basicamente em França.

Gostava de salientar que o Jorge de Sena se bateu sempre pelo livro e pela cultura portuguesa, não em termos de paroquialismo fechado mas com abertura ao mundo e em contacto vivificante com outras culturas.
Penso que é exemplar ter sido aqui lido um dos grandes poemas políticos da literatura portuguesa.

Este é um dos maiores gritos em favor da dignidade humana que a literatura portuguesa produziu.

Posto isto, vou tentar responder às duas perguntas do Carlos.

Eu comecei a publicar poesia em 1963, já lá vão 42 anos, e portanto é natural que o meu trabalho enquanto poeta (eu não acredito na inspiração, acredito na transpiração, no esforço, na emenda, no voltar atrás, no tentar fazer melhor) se tenha tornado conhecido, visto que tem mais tempo.

É que enquanto ficcionista só me iniciei em 1987, graças à insistência desse instrumento imprescindível que é o computador. É que simplificava imenso o trabalho, dá para fazer montagem dos textos, corrigir imediatamente, tornava mais ágil a escrita, etc.

É, portanto, natural que eu seja mais conhecido como poeta: tenho mais obras publicadas, fiz mais experiências nessa criação que na ficção.

É verdade que gosto muito de xadrez e quando a Federação Portuguesa de Xadrez comemorou os seus 70 anos, eu fui um dos dois únicos dos 30 ou 40 convidados para uma simultânea com o mestre Joaquim Durão que tive a proeza de empatar.

RISOS E PALMAS

E adoro peixe grelhado, mas como tripeiro acho que as tripas à moda do Porto são uma das nossas contribuições para a civilização.

PALMAS

No plano da poesia, aquilo que me realizou mais, visto à distância, foi um poema que publiquei em 1997 (salvo erro) chamado “Carta no Inverno”. Um poema difícil, longo, com 690 versos, muito longo, portanto (enfim, longo à nossa escala, porque “Os Lusíadas” têm 8.108 versos e a Divina Comédia tem 14.231…).

É um poema que tem muito a ver com a consciência individual de um sujeito que não é bom nem mau, é da média burguesia, tem problemas (e tem os dos outros), e sente o embate da construção da Europa e das vicissitudes que a noção de Europa foi sofrendo historicamente (não me estou a referir à UE). Vejam que o poema começa por referir factos ocorridos 12 anos antes da tomada de Constantinopla, por volta de 1439.

A Construção da Europa no sentido dos nacionalismos, egoísmos, identidades, dificuldades de compreensão mútuo e dificuldade de cada um em se reencontrar no mundo e no mundo da cultura.
Fala também de desumanidade. Há no poema uma referência que é retirada da crónica da Guiné (de Zurara) que tem a ver com o Infante D. Henrique a passear a cavalo enquanto ao lado desembarcavam os primeiros escravos trazidos para Portugal. Os maridos apartados das mulheres, as mães dos filhos, etc. e quem é sensível a esse drama humano não é o Infante mas sim o cronista, Garcia da Horta, que fala com alguma comoção acerca da brutalidade que nós, como Europeus, fomos capazes de cometer.

É, portanto, um poema muito ambicioso (não quer dizer que tenha sido bem sucedido) e cuja elaboração exigiu muito trabalho e muita tentativa de adequar o ritmo, as imagens e a linguagem àquilo que eu queria dizer.

No plano político eu não sou uma pessoa que tenha sentido desde novo essa vocação. Meti-me na política a seguir ao 25 de Abril por ter tido a consciência, como outros tiveram, que poderíamos rapidamente passar de um totalitarismo para outro, sombra essa que só passou com o 25 de Novembro.

Eu meti-me na política por causa disso. Tive a sorte de poder colaborar na implantação do PSD no Porto, com uma certa solidez nos anos heróicos de 74 e 75. Desempenhei cargos políticos nessa altura, depois saí do PSD, por discordância (não ideológica) com a metodologia que estava a ser seguida na organização de um determinado Congresso em Aveiro, mas mantive uma intervenção cívica, de natureza muitas vezes política. Essa intervenção acentuou-se nos inícios dos anos 80.

Se eu quiser recordar o que me terá satisfeito nesse percurso, não será a assumpção de cargos como Secretário de Estado dos Retornados, ou Secretario de Estado da Segurança Social mas recordo coisas como, por exemplo, enquanto membro da primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, ter mandado colocar uma tábua no estrado do palco do cinema Nuno Álvares, onde ensaiava a Orquestra Sinfónica do Porto.
O palco era inclinado estava a criar vários problemas de coluna a vários músicos, nomeadamente aos violinistas.

RISOS E PALMAS

Não posso dizer que isso me tenha realizado muito (RISOS) mas foi um gesto útil.

O que me interessou sempre foi aquilo que tem a ver com a cultura. Sempre que podia ter algum poder para elevar o nível de acesso e interesse cultural dos portugueses, agarrei as oportunidades.
Portugal tem tido carências fortes do ponto de vista cultural. Umas decorrentes da degradação no sistema de ensino e outras decorrentes do descaso das comunidades aos valores, às referências, sejam monumentos, seja a paisagem, sejam as obras de arte, sejam arquivos. Combater esta indiferença interessou-me sempre muito.

Foi o que eu fiz, por exemplo, como Administrador da Imprensa Nacional, dando voz a todas as vertentes da cultura literária portuguesa.
Ou quando o Prof. Cavaco Silva me convidou para a Comissão dos Descobrimentos, tentando afirmar as comemorações que fizessem os portugueses aderir a um passado histórico de que estavam divorciados, fazendo-o sem indispor as várias sensibilidades políticas.

Em ambas as tarefas me senti muito realizado. Na Imprensa Nacional pude publicar autores esquecidos, obras que já não se encontravam no mercado há décadas ou séculos. Encomendei estudos, alargámos o conhecimento sobre várias artes, etc. nesse aspecto senti-me muito realizado.

A Comissão dos Descobrimentos era mais diversa quanto a conteúdos. Tanto podíamos apoiar uma iniciativa de restauro de certo tipo de barcos como encomendar uma peça musical ou apoiar um escritor, chamar atenção para a viagem dos estilos na Europa.
Para terem uma ideia, encomendámos um estudo sobre a evolução das espécies de coelhos nos Açores. Isto parece ter pouco a ver com os Descobrimentos, mas imaginem que os investigadores, comparando as espécies de coelhos nas diversas ilhas e locais açorianos com as existentes no continente, estabeleceram as proveniências dos colonizadores dos primeiros tempos!
Era um projecto científico de alta categoria e não uma piada para o Carlos Coelho, mas por vezes a realidade ultrapassa a ficção.

RISOS

No aspecto anedótico da política, posso contar-vos um facto de 1992 quando eu já era Comissário para a Exposição de Sevilha e daí a pouco tempo seriam as Comemorações do 500º Aniversário de Tordesilhas.
O Comissário espanhol disse-me que queria a presença do Presidente Mário Soares em Tordesilhas, mas isso era complicado para nós, porque seria ter o Chefe de Estado ao nível da autonomia espanhola (Tordesilhas está na área de Castilla-León, liderada por Aznar que era oposição ao Governo). Seria igualar Portugal a uma região de Espanha.
Eu disse: sim senhor, mas queremos o Rei de Espanha em Setúbal para as comemorações.

RISOS

E fez-se!

Numa outra ocasião, no mesmo âmbito, esta eu numa cerimónia de Tordesilhas, e Aznar, Presidente da Autonomia Regional de Castilla-León e opositor ao Governo de Espanha (o nosso parceiro), proclama que Castilla-León se associava às comemorações.
Era novamente o problema de Portugal estar associado a uma região. Se a imprensa pegasse nisso era uma chatice.
Levantei-me e disse: acabo de saber, pelos meus serviços, que o Governo Regional da Madeira também se associa às comemorações

RISOS E PALMAS

Era totalmente inventado mas a única forma de colocar uma autonomia no plano de outra autonomia.

Mas enfim, o que me realizou, foi mesmo o trabalho na Imprensa Nacional e nas Comemorações dos Descobrimentos e organização da exposição portuguesa em Sevilha.

Sobre as relações entre a cultura e a política, começaram com o Imperador Augusto. Foi a altura em que a cultura começou a funcionar como veículo de propaganda.
Um exemplo de propaganda é a Estátua Equestre de D. José mandava fazer pelo Marquês de Pombal.

Antes de passarmos às perguntas queria deixar-vos com um episódio. Conta-se que certa vez, querendo o Comité Central Russo homenagear os tempos que Lenine passou em Zurique (de onde saiu para esse triste episódio da civilização chamado a Revolução Russa).

RISOS E PALMAS

Nesses tempos, um dos seus parceiros chegados – depois mandado matar por Estaline – foi Trotsky.
Mas, voltando ao tema, querendo fazer a homenagem encomendou um quadro a um jovem pintor. O jovem, consciente da importância da tarefa, exigiu que ninguém veria o quadro até à sua conclusão.
Foi aceite.

Passados meses, comunicou ao Comité Central que o quadro estava pronto, e os seus elementos foram ao atelier para o apreciar.
O quadro estava tapado. Quando o pinto o descerrou, os membros do PCUS viram que o quadro retratava o Trotsky e a mulher do Lenine na cama.

RISOS E PALMAS

Eles ficaram varados! Furiosos! E perguntaram:
- Mas camarada, onde é que está o Lenine?
- O Lenine está em Zurique!

RISOS E PALMAS

Como vêm, a relação entre a cultura e política dá para tudo.

PALMAS

 
Patrícia Mendes
Boa noite mais uma vez.
Antes de mais, Dr. Graça Moura, parabéns. Parabéns por diversos motivos, um deles por ser a pessoa especial que é. Outro por levar mais longe a cultura portuguesa. E por fim por estar aqui connosco, disposto a partilhar o seu tempo com estes jovens.

O nosso grupo tem uma dúvida: o Dr. Vasco Graça Moura é ou não o “meu Pipi”?

RISOS E PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Oh Patrícia, eu não sei se o Dr. Graça Moura é o “seu” Pipi. O meu não é com certeza!

RISOS E PALMAS

 
João Raposo
Boa noite a todos.
Antes de lhe colocarmos a pergunta, temos uma mensagem para os restantes colegas da UV.
Obrigado pelo vosso companheirismo, pela vossa amizade e pelos vossos ensinamentos.
A vós o brinde do grupo cinzento!

Vozes
MUITO BEM

O Orador
Vamos à nossa pergunta.
O candidato do PSD à Câmara de Santarém teceu duras críticas aos anteriores autarcas do concelho.
Sendo o senhor autarca em Santarém, como viu essas críticas?
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
Eu podia responder a sério à pergunta do “meu Pipi”, mas vou guardar o mistério!

RISOS E PALMAS

Mas já agora, quando surgiu o tal blog do “meu pipi” saiu, houve uma jornalista que disse que só podia ser eu ou o Prado Coelho.
Na altura eu pedi ao Pacheco Pereira que inserisse no blog dele um desmentido meu em verso.

Quanto às declarações de Moita Flores, palavras que não conheço, posso dizer o seguinte.
Sou membro da Assembleia Municipal de Santarém pelo PSD. Na autarquia, o PS tem uma maioria absoluta e trava qualquer iniciativa que não seja ditada pelos seus interesses partidários e isso tem sido a causa do atraso de Santarém há 25 anos!

O meu papel na Assembleia Municipal tem sido o da análise jurídica de algumas coisas que nos são levados para votação e, devido a esse trabalho, já aconteceu a Câmara ganhar votações ao PSD mas não ter tido a coragem de levar as medidas à prática.

Eu não conheço as críticas do Dr. Moita Flores, mas admito que sejam matérias de foro mais interno do Partido. Mas uma das coisas que os nossos adversários não se podem gabar quanto a mim é de terem tido razão quando disseram que se eu perdesse nunca mais poria os pés na Assembleia Municipal. Coisa que foi ponto de honra para mim.

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Se me permitem, queria sublinhar esta dedicação a um projecto assumido pelo Dr. Graça Moura. Foi nosso candidato a presidente da Assembleia Municipal e, durante 4 anos, desempenhou o seu mandato, ajudando a elevar a bandeira do nosso partido!

PALMAS

 
Ricardo Morgado da Costa
Boa noite.
Sendo este o último jantar conferência eu queria fazer três agradecimentos.
Ao Director da UV e ao Presidente da JSD pela organização deste magnífico evento.

PALMAS

É o único evento deste género no País mas, se existissem outros, este seria o melhor seguramente.

RISOS E PALMAS

Vozes
MUITO BEM

O Orador
Em segundo lugar agradecemos ao nosso Conselheiro Ricardo Leite.

PALMAS

E, para terminar a todos os companheiros com quem partilhámos esta fantástica semana.

PALMAS

Dr. Vasco Graça Moura, de facto a literatura é uma pedra basilar na sua vida. A mestria que o senhor coloca na sua obra e acção pela nossa cultura tem-lhe trazido reconhecido mérito.
Podemos dizer que o senhor é um homem da cultura e um homem pela cultura.

O senhor acha que existem apoios suficientes para jovens que se queiram valorizar na arte, na cultura, no teatro, na literatura, pintura, etc. Acha que sim?

PALMAS

 
Carlos Serra
Boa noite.
Queremos reiterar as palavras do grupo anterior e propor ao Deputado Carlos Coelho uma UV de duas semanas.

PALMAS

Agradecemos a presença do nosso convidado e perguntar qual terá de ser o papel do Instituto Camões o futuro.
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
Eu penso que o Estado tem um papel importante na herança cultural (eu prefiro o termo herança a património; património está muito ligado a aspectos materiais).

Esta herança inclui valores e formas de estar que nos permitem a identificação como Povo. A cultura tem um papel de identificação.

O Estado tem a função de preservar a cultura e garantir o acesso dos cidadãos à mesma. Mas não tem a meu ver o papel de subsidiar! Isso é uma invenção da esquerda. Aliás, é primeiro uma invenção dos interessados.

Há uma tendência fácil a uma pessoa se considerar génio e a ter direito a apoio por isso por parte do Estado.

RISOS

E só quem tem uma visão destorcida do papel do Estado é que pode pensar que deve haver subsídios para jovens actores, pintores, escritores, etc. Não deve! Não tem nada que haver.
Cada criador cultural tem de fazer o seu próprio esforço e luta contra as circunstâncias, como sempre aconteceu na história do Mundo.

O Estado só tem de subsidiar se quiser encomendar uma determinada produção. Se eu quiser uma Sinfonia para comemorar o 25 de Novembro, tenho de a pagar, claro!
Se eu quiser erguer um Monumento para celebrar o desembarque no Mindelo, tenho de dizer: eu pago x!

Agora, o Estado não tem nada que subsidiar a criação contemporânea! Não pode hipotecar bens escassos (a política é a arte de definir prioridades) em relação àquilo que não se sabe se vale ou não vale.

Com as coisas do passado é diferente. Não é pelo facto de se decretar que Camões foi um grande poeta que ele se torna grande poeta mas sim pelas concepções sobre ele que já duram 5 séculos.
É um processo quase inexprimível, mas trata-se do papel do tempo sobre a obra. Portanto temos de investir para garantir o acesso dos cidadãos a essa herança.

No plano das coisas que podem vir a ser herança – aquilo que está hoje em criação – se o Estado fosse rico podia fazer o que entendesse; não o sendo, não tem nada de fazer apostas em coisas que são interrogadas.
Eu sei lá se daqui a 50 anos consideram que eu sou um péssimo escritor? E o Estado vai-me pagar alguma coisa para eu escrever?
Não tem nada que pagar!

O Estado tem de me ensinar a escrever português,

PALMAS

Vozes
MUITO BEM

O Orador
Ensinar a ler, a permitir o meu contacto com a literatura, tem de proporcionar conhecimento de outras línguas, tem de me despertar essa vontade.
É uma matéria que envolve as escolas, as famílias, os responsáveis pela educação, etc.
Esse é o papel do Estado! Agora o Estado estar a subsidiar uma menina que resolve fazer uma peça que consiste em as pessoas olharem para dentro dum quarto de hotel para o verem desarrumado?

RISOS

Ou um tipo que faz quatro risco numa tela e acha que aquilo é genial? Ele pode fazer os tais riscos, mas não à minha custa!

RISOS E PALMAS

Não faz grande sentido apostar nisto! Se eu tenho 250 contos por mês para dar durante um ano a 12 ou 20 pessoas, em vez de apostar em criação inédita, deve apostar em pagar para estudos sobre grande escritores portugueses! Esses é que devemos divulgar pela população!

PALMAS

Eu desafio-vos a irem a uma livraria procurar títulos de Camilo Castelo Branco. Vão ter dificuldade em encontrar livros avulsos!
E quando encontram, muitas vezes são péssimas edições, com versões mal fixadas!
Até há um caso conhecido duma edição da Ilustre Casa de Ramires a que se suprimiram dois capítulos porque a obra não cabia no número de páginas que o editor gizara!

RISOS

Edição subsidiada pelo Instituto Português do Livro…

Vejam que não há uma edição completa das obras do padre António Vieira. Há coisas de Camões que não temos.

PALMAS

O Estado tem é de investir nisto, e não só na literatura, claro! Tem de tornar disponível o nosso acervo cultural! Com tantas coisas que hoje a globalização implica, o papel do Estado na divulgação (dentro e fora) é mais premente! Deve apoiar a nossa presença no exterior, na Bienal de Veneza, nas Feiras do Livro, etc.

Por aqui entro no Instituto Camões. Ele foi criado para apoiar bolseiros lá fora, que muitas vezes trabalhavam como leitores em universidades estrangeiras.
Depois foi convertido em estrutura de apoio ao ensino do Português no mundo e a outras valências. Porém, não teve a flexibilidade suficiente e viu aumentar exponencialmente as despesas, ficando em défice.

Houve uma altura em que se tentou conciliar a gestão do ensino do português no estrangeiro com a progressão da cultura portuguesa. Havia uma bicefalia disfuncional porque o IC dependia do Ministério da Educação na área do ensino do português e do MNE na parte da progressão da cultura no estrangeiro.
Isto não funcionava. Depois foi unificado tudo no MNE, mas continuou a não funcionar. Porquê? Porque não têm dinheiro! É que a gestão do pessoal (nomeadamente assistentes em universidades estrangeiras) absorve recursos e meios muito avultados.

Quando Durão Barroso chegou a Primeiro-Ministro, tentei convencê-lo a transformar a Comissão dos Descobrimentos (que na altura estava no fim do seu trabalho) numa espécie de IC. Porquê? Porque um órgão que tem a ver com a promoção da cultura lá foro tem de estar na dependência directa do Primeiro-Ministro. Ou do seu número dois. (Eu não despachava com o Prof. Cavaco, despachava com o Dr. Fernando Nogueira!)

É que se o ping-pong se faz entre gabinetes de Ministros a coisa nunca mais se resolve.

(Mas a minha proposta não pôde ser aceite porque o Dr. Barroso já tinha convidado o Embaixador Martins da Cruz para o MNE, que já tinha gizado a sua estratégia para o IC.)

Vou-vos contar um caso concreto.
Nas vésperas da abertura da expo de Sevilha, fui informado que viriam uns técnicos ver se o pavilhão de Portugal tinha condições para acolher as obras de arte que eu requisitara.
Eu podia requisitar o que quisesse. Tinha autoridade para isso. Podia requisitar a Custódia de Belém. E se eu fosse irresponsável tê-lo-ia feito! Ela é tão frágil que só a viagem daria cabo dela.

RISOS

Estávamos na Páscoa! Os timings para a vinda dos técnicos e sua apreciação colidiram com feriados, pontes e tolerâncias de ponto. Pensei comigo que era uma clara rasteira para eu não ter as obras que queria!
Mandei um email ao Dr. Fernando Nogueira (já era tarde para ligar) a dizer que se as coisas se processassem como eu estava a pensar (que seria uma vergonha internacional), eu não estaria presente na inauguração do Pavilhão e retiraria as devidas consequências.

No dia seguinte o meu chefe de gabinete dá-me conta daquilo que eu já desconfiava: os técnicos informaram que não conseguiriam fazer o seu trabalho a tempo de darem a informação aos serviços dos museus para que as obras que eu requisitara fossem entregues no pavilhão para a cerimónia de abertura. Liguei ao Dr. Fernando Nogueira que, com duas chamadas, resolveu o problema. Ora cá está a importância de centralizar uma coisa destas ao nível da Presidência do Conselho.

Daí que acho que é esse o caminho para o IC.

PALMAS

 
Pedro Ruas
Boa noite. Antes de mais quero dirigir palavras de amizade e reconhecimento a todos os amigos da UV. Foi óptimo ter partilhado convosco esta semana!

PALMAS

Em segundo lugar, queria agradecer ao Deputado Carlos Coelho, ao Daniel Fangueiro e à nossa Conselheira (que tanto trabalho teve devido à nossa indisciplina), bem como a toda a organização.
Esta é uma boa iniciativa que deve continuar para o futuro. A formação é essencial para os jovens possam fazer mais intervenção política e cívica, contribuindo mais para um melhor Portugal.

Em terceiro lugar, quero realçar a honra que sentimos pela sua presença hoje, Dr. Graça Moura.

A nossa pergunta é esta: que partido podemos tirar na nossa relação privilegiada com os Palop?
Obrigado.

PALMAS

 
Telmo Prazeres
Em nome do grupo quero agradecer esta experiência e esta partilha que, esperamos, continue pelos anos.

Dr. Vasco Graça Moura, o senhor é dos escritores portugueses mais consagrados. Se tivesse que escrever um romance que retratasse a nossa sociedade, que facto actual escolheria como tema?
Obrigado.

PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
Bem, eu começo pela segunda pergunta porque é a mais simples: se eu já tivesse escolhido esse facto, já estaria a escrever esse romance!

RISOS E PALMAS

Um romance é coisa que leva muito tempo a escrever. Só para terem uma ideia, um soneto tem 14 versos e um romance tem 180 ou 200 páginas! E o tipo de ocupação que eu tenho não me tem dado para escrever romance. Tenho perto de 30 livros de poesia publicados mas só 7 romances.
A não ser que trabalhe depressa, como o exemplo de Stendhal que editou “A Cartuxa de Parma” em 35 dias…

 

É interesse notar que a portugalidade tem sido tema da literatura actual e da minha também. A saída do 25 de Abril e a inserção nesta Europa é um tema sempre aliciante e tem sido explorado.

Sobre África. A tendência actual é a dos grandes blocos. A EU, a Nafta, o Mercosur, o bloco das novas economias asiáticas (não se sabe bem onde a Rússia se vai inscrever), mas a verdade é que a parceria natural que se poderia tornar importante para a Europa é com África.

É fundamental o nosso estreitamento com os Palop. Temos de saber conjugar todos os valores históricos e culturais para uma boa relação! É preciso continuar a trabalhar nesse sentido, mas atenção: sem neo-colonialismos!

PALMAS

 
Abdel Gama
Boa noite a todos.
Começo por agradecer a sua presença hoje e dizer-lhe que, caso não tenhamos sido bons anfitriães, temos livro de reclamação!

RISOS E PALMAS

Por outro lado, costuma-se dizer que o que é bom acaba depressa

RISOS E PALMAS

E este curso está a terminar

Vozes
OHHHHH

O Orador
E podem começar a fazer as malas hoje à noite

RISOS E PALMAS

Ao longo dos dias aqui temos falado do distanciamento dos cidadãos com a política. Isso também acontece face às instituições europeias.
Os deputados europeus são eleitos por um partido nacional, mas em Bruxelas fazem parte de outro. Como explicar isso às pessoas e aproximá-las?
Obrigado!

PALMAS

 
Tiago Mota
Boa noite.
Queria, antes de mais, salientar o bom que foi viver esta experiência aqui e partilhar com todos a semana em Castelo de Vide.

O texto de Jorge de Sena começa dizendo: não sei meus filhos que futuro será o vosso”, mas há uma verdade que não podemos omitir – os que aqui estão sabem um pouco daquilo que será o futuro, porque gostando tanto de política, haveremos de o influenciar.

É por isso que eu acho que nós, que aqui estamos, saberemos sempre dizer aos nossos filhos que futuro podem esperar!

PALMAS

Vasco Graça Moura: cronista, escritor, romancista, poeta, ensaísta, advogado, político. Com qual destas facetas se identifica mais?
Outra: que livro recomendaria a Sócrates?
Obrigado!

RISOS E PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
Bom, quanto à primeira pergunta, penso que grande parte do afastamento europeu não se deve aos Deputados ou às instituições (algumas delas que fazem muito trabalho de promoção da EU).
Grande parte do distanciamento é culpa dos cidadãos, que pensam apenas na sua satisfação imediata. São muito propensos a olhar para a Europa como a proveniência de tostões e a reclamar quando eles não vêm. É um problema que está dentro de cada um de nós.

Os Deputados, os portugueses sobretudo, fazem bastante trabalho de alerta e informação sobre questões europeias. Eu tenho dezenas de artigos sobre a temática. E tenho a consciência de que não tenho enjeitado muito do que está ao meu alcance fazer.

Do que não tenho a certeza é que os restantes 9.999.999 habitantes do meu país estejam preocupados com a Europa. E esse é um problema em que podemos tentar transformar as pessoas mas são elas que têm de manifestar vontade em se manifestarem.

Isto tem muito a ver com as pessoas, não tanto com as instituições. Tem a ver com a tropia das pessoas. Não tenho uma solução para lhe dar. Espero que as pessoas se sintam alertadas e se não estão não será por falta de comunicação social ou empenho das instituições.

Em relação ao Eng. Sócrates eu não lhe recomendaria nenhum livro. Recomendaria que viesse a esta Universidade de Verão.

RISOS E PALMAS

Vozes
MUITO BEM

A Sala
JSD! JSD! JSD!

 
Dep. Carlos Coelho
Eu agradeço ao Tiago ter trazido aqui de novo a prosa poética do Jorge de Sena. Durante o debate eu disse-vos que vocês ainda ouviriam esta semana alguém dizer-vos que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
Cada um de nós faz o que quiser com o tempo que nos é dado, mas se soubermos viver segundo este princípio, já não se perdeu tudo!

PALMAS

Vocês, ao longo destes dias, fizeram algumas sugestões e recomendações. Grande parte delas muito interessantes.
Tomei a liberdade de dar conhecimento das mesmas ao Presidente do PSD, Luís Marques Mendes. Ele disse-me há pouco que amanhã, no seu discurso de encerramento, queria responder às vossas opiniões.

Vozes
MUITO BEM

PALMAS

Carlos Coelho
Eu sei o que ele vos dirá quanto a isso, o Dr. Marques Mendes teve a amabilidade de o comentar comigo, mas acho mais justo que vocês o ouçam em primeira-mão da boca do líder do vosso partido.

PALMAS

Informo também que esta noite haverá a festa de despedida da UV, com karaoke.
Diz a tradição que depois da festa haverá um desfrutar da esplanada e daquela coisa com água que está a um canto da varanda do hotel.

RISOS

No ano passado houve dois tipos de frequentadores da piscina: os que tinham fato de banho e os que o não tinham

Vozes
AHHHHHHHHHHH

RISOS

Carlos Coelho
Honni soit qui mal y pense !
É que os que não tinham fato de banho estavam vestidos !

RISOS E PALMAS

A palavra para a Magda Borges.

 
Magda Borges
Boa noite Dr. Graça Moura.
É uma honra, em nome do grupo bege poder cumprimentá-lo.
Queremos cumprimentar a organização e o nosso Conselheiro – tanto que teve de nos aturar.
Cumprimentamos também os nossos colegas: nós éramos o grupo mais pequeno, os “5 magníficos” mas aguentámo-nos. Como coordenadora do grupo, quero também agradecer às 4 mentes irrequietas que me acompanharam.

Os jovens são tendencialmente irreverentes, vivem o sonho e a ilusão. Mas não é preciso de ter menos de 30 anos para viver assim e o Dr. Graça Moura é um exemplo disso.

Terei a ousadia de citar um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, poema que há muito me acompanha:
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

PALMAS

Penso que todos os que aqui estamos somos jovens com ilusões e queremos fazer o melhor pelo nosso país. Não gostava de acreditar que alguém aqui está por outros motivos.

A si, Dr. Vasco Graça Moura, quero perguntar se ainda é um homem de ilusões e qual é a sua grande ilusão?

RISOS E PALMAS

 
Jorge Fonseca Dias
Antes de mais o nosso grupo quer agradecer tudo a todos! Esta semana foi excepcional e ficará sempre nas nossas memórias.

Já estamos com saudades da UV 2005. É com muita honra que fazemos a última pergunta da UV ao Dr. Graça Moura, um homem da cultura e das letras.

O que devemos nós, jovens cívica e politicamente activos, fazer para nos elevarmos do ponto de vista cultural e levar o nosso país a crescer a esse nível?

Obrigado e vemo-nos por aí.

PALMAS

 
Dr.Vasco Graça Moura
À primeira pergunta eu gostaria de responder começando com duas citações.
Uma também é da Sophia. Ela tem um verso pouco citado que procura exprimir as relações entre o espírito e a mão, entre o poder e a prática. Entre a capacidade de pensar um projecto e de o executar.
“Ulisses rei de Ítaca carpinteirou seu barco”. Ou seja, ele fabricou a própria nave em que se navegava.
E falar de Ulisses aqui é dar uma dimensão de mundo ao poema e aproximar-nos de uma figura tão distante (da Grécia).
Ulisses vem a morrer cerca de 2 mil anos depois de Homero, como conta a Divina Comédia. Ele, na morte, diz que “nem o amor da mulher, nem a piedade devida ao pai, nem o amor do filho puderam vencer nele o ardor de querer conhecer os vícios e o valor humanos”.
Nada venceu esse seu impulso.

Outra citação é de Camões, naquele que é talvez o mais belo verso da língua portuguesa. Tem a ver com o relato do Adamastor que revela o seu insucesso amoroso com a ninfa Tétis. Diz ele:
"Ó Ninfa, a mais formosa do Oceano,
Já que minha presença não te agrada,
Que te custava ter-me neste engano,
Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?”

PALMAS

As ilusões são isso mesmo. São o motor que deu para muita e magnífica literatura, mas hoje são aquilo que pode estimular em nós o combate.
Vivemos num mundo extremamente difícil, que perdeu os seus valores. Perdeu ou está a perder grande parte do sistema que o estruturou. Vivemos num em que a competição selvagem e o egoísmo tendem a reduzir a nada os valores em que crescemos e que permitem que nos identifiquemos quer como seres humanos quer como membros de um grupo.

Se não formos capaz de ter ilusões não conseguiremos combater pela melhoria desse mundo. Temos de as ter com sentido tão idealista quanto pragmático, até em abono dos nossos filhos que terão um futuro mais difícil do que o que temos.

Sobre a cultura, temos de reconhecer que nós temos necessidade mais profundas que o futebol.
Se a isso chamamos cultura, penso que os jovens deverão compreender que essa é uma dimensão sem a qual não há democracia nem vida decente.

Está ao alcance de todos nós entrarmos, nem que seja, na dimensão mais pequena da cultura. Podemos ler um livro, um ensaio, visitar um museu, levar alguém a ver um monumento.

Eu creio que os jovens, para além do exercício das suas funções escolares, académicas, profissionais, etc, têm de consagrar mais tempo a actividades ditas culturais.
Saibam que a cultura não é nem um luxo nem um desporto! É muitas vezes um sacrifício pessoal.

Quanto maior a “bagagem” cultural, maior a compreensão do mundo! É como viagem sem levar pasta de dentes ou cuecas! A cultura é aquilo que me permite circular melhor, relacionar-me melhor e ter melhores resultados naquilo que for fazer.
Obrigado!

PALMAS

Obrigado.

 
Dep. Carlos Coelho
Agradeço ao nosso convidado desta noite a amabilidade com que partilhou connosco a última noite desta UV 2005.
Antes da festa, deixo-vos umas notas finais.
Amanhã, em questionário escrito, vocês me dirão o que acharam desta semana. A meu ver, tudo o que correu mal é da minha responsabilidade. Tudo o que correu bem é mérito dos vossos colegas de 2003 e 2004 que nos ajudaram a melhorar a UV.

PALMAS

Se vocês tivessem assistido a 2004 teriam visto as diferenças. Temos uma equipa de avaliadores porque fazemos uma avaliação séria e lutamos por melhorar cada vez mais.

Muitas das inovações e melhorias decorrem da avaliação que amanhã farão. Vocês não ganharão nada com isso, mas os vossos colegas de 2006 ganharão com a vossa opinião!
E isto é o essencial na vida!

PALMAS

Cada um de nós pode, à sua medida, à sua escala, deixar uma semente.

PALMAS

Conto com a vossa ajuda, empenho e sinceridade.

PALMAS