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Revista de Imprensa
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Falar Claro
 
Dep. Carlos Coelho
Como sabem, este tema “Falar Claro” estava previsto para outro dia, mas fruto das circunstâncias, estamos a fazê-lo hoje.
O Rodrigo Moita de Deus e eu vamos tentar o impossível, que é dar em 40 minutos um conjunto de informações que, em circunstâncias normais, justificaria mais tempo.

Falar Claro permite-nos um jogo de palavras, de semântica. “Falar, claro”, porque não há política sem comunicação. É uma evidência que é necessário falar no exercício da política. E falar “claro” porque devemos fazê-lo de forma eficaz, para que os outros nos percebam.
Recordem-se do que nos dizia o Dr. Agostinho Branquinho: uma coisa é o que nós dizemos, outra o que queremos dizer e outra é o que as pessoas entendem.

Este tema terá quatro partes diferentes.
A 1ª chamada “Comunicar bem”, a 2ª “Escrever claro”, a 3ª “Contactos com a comunicação social” e a 4ª “15 conselhos para falar bem em público”.

Comunicar bem.
Primeira ideia simples: fazer política é comunicar. Nós podemos ser os melhores, mas se ninguém souber, isso de nada nos vale! Porquê? Porque em democracia quem decide é o Povo. Aquilo que determina, em última instância, se temos ou não temos razão, são os eleitores através do voto.
São eles que nos julgam.
Daí que não faz sentido pensarmos na política sem a constante comunicação com o Povo, com aqueles que decidem.

Mas comunicar não é só falar. Tem dois sentidos, é também escutar, perceber o que está a acontecer, o que é se está a fazer, e quais são os anseios e problemas das pessoas.

Há uma equação comunicacional básica, que diz que se estabelece uma ligação entre o Emissor e o Receptor. Essa ligação estabelece-se através da Mensagem: é ela que une o emissor ao receptor.
Ela tem de ser eficaz, caso contrário não há comunicação.

Se eu vos falasse em chinês, não se estabeleceria a comunicação, pois presumo que nesta sala não há quem entenda chinês. Se eu soubesse chinês, poderia até estar a dizer as mesmas coisas e a ser muito mais eloquente. Mas a mensagem não estabeleceria a ligação entre emissor e receptor.

Há alguns graus de sofisticação na mensagem que nos dizem se esta tem eficácia de 100%, 90%, 70%, 50%, por aí fora. Como? No tipo de linguagem, nos exemplos, nas metáforas, na estrutura do discurso.
Falar para uma audiência da terceira idade não é o mesmo que falar para jovens; falar como pessoas dum grande centro urbano não é o mesmo que falar para pessoas duma pequena comunidade rural; e nem sempre falar para um auditório do norte é o mesmo que falar para um auditório do sul.
Um exemplo: durante uma discussão numa reunião da JSD, um companheiro do norte disse que era preciso por um “testo” no assunto, e eu perguntei: que texto? Só então percebi que “testo”, em muitos sítios (nomeadamente no norte) é a tampa da panela.
RISOS
É um regionalismo.

A mensagem tem de ser claro para haver ligação entre emissor e receptor.
Portanto vale a pena que dediquemos algum tempo à mensagem e como construí-la. Passo a palavra ao Rodrigo.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bem, chamo a vossa atenção para o seguinte, o Carlos, como viram, fez uma coisa importante - meteu uma graçola pelo meio, cativando a vossa simpatia. Mais do que isso, parece-me que quer ter mais votos que eu na avaliação final.
RISOS

Bem, vamos à mensagem: parece simples construir a mensagem, mas não o é. A mensagem é como a lição moral de um livro: se não houver lição moral não há livro. É um mau romance, uma má história, não serve de nada.
A melhor maneira de passar uma mensagem é tirando notas daquilo que queremos dizer, sintetizando, progressivamente, até ficar só uma frase: a frase é aquilo que vocês querem dizer. E depois “desconstroem”. É tão simples quanto isso!

Já vi que aqui alguns grupos conhecem o conceito de sound-byte. Sound-byte significa “excerto de som” (RISOS).
Costumava ser utilizado pelos realizadores quando queriam seleccionar o melhor trecho de som, depois entrou na gíria da comunicação social, especialmente no que toca aos políticos: em vez de transmitir uma hora de um discurso, escolhem uma pequena frase.

Há um bom exemplo: no último Congresso do PSD a disputa era entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, mas aposto que ninguém aqui se lembra duma única frase de um deles e estou em crer que todos sabem a frase de Santana Lopes: o “vou andar por aí” é talvez dos melhores sound-bytes deste ano.

Há outros casos de sound-bytes igualmente famosos.
O Prof. Cavaco tinha um interessante: “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”. Não está provado que ele tenha dito isso. O que nos conduz a um alerta: a comunicação social raramente faz uma tradução “ipsis verbis”. O pior que vos pode acontecer é ficarem associados a algo que nunca disseram.

Há uma outra frase, recordada ontem pelo Agostinho Branquinho, que é “publicitar políticos é como vender sabonetes”. Não é uma frase mas sim um conceito, de alguém que disse que os políticos são como os sabonetes: gastam-se depressa e o que interessa é o rótulo.

Portanto, o sound-byte é a melhor forma de vender a mensagem.

Vamos agora aos meios: que meios estão ao nosso dispor e de que forma passamos a mensagem?
Vejam, eu tenho um blog e posso ter um tema interessantíssimo, mas não vou escrever um texto longo! Porquê? Porque a comunicação em Internet exige que se seja rápido e haja uma série de sound-bytes.
Mas também não vou falar acerca do meu percurso no PSD, não é esse o meu target, até porque a maior parte das pessoas que acedem ao blog é de fora.

Ou seja, cada mensagem tem um target, um público e é preciso saber como usar esse público.
Quando o Dr. Barroso ganhou as eleições, o Dr. Morais Sarmento, passado algum tempo de ser empossado Ministro, deu uma entrevista na SIC Notícias. A entrevista foi muito desinteressante à excepção de 3 minutos.
Foi uma parte em que ele disse que já tinha tido graves problemas com drogas e que com a ajuda da família e amigos resolveu o problema e agora está refeito.
O que é que ele fez? Foi à SIC Notícias (um canal de pessoas que gostam de política), deu uma entrevista à Maria João Avilez (uma senhora, que não lhe ia fazer perguntas difíceis nem o ia achincalhar) e matou por completo a notícia.
Este assunto que era do campo do rumor e do boato, passou a ser banal e, mais importante, ele transformou numa enorme mais-valia aquilo que seria uma fraqueza. E ele fez tudo isto com a escolha adequada de um meio.

Outro ponto: o que é que os outros percebem das nossas mensagens? O que os outros retiram resulta da imagem que têm de nós. O efeito da imagem pode distorcer por completo a mensagem. Se o Carlos disser uma coisa e eu disser exactamente o mesmo, é possível que vocês entendam coisas diferentes, pois a pergunta que a vossa cabeça formula é esta: o que é que ele quer?
E isto é não só válido nas conversas de um para um como nas entrevistas de televisão. Daí a importância de nós gerirmos a nossa imagem, a imagem que os outros têm de nós.

Vejam este exemplo: o político inglês mais cinzento era John Major, tinha uma imagem desastrosa. E vejam que em Inglaterra os Primeiros-Ministros foram sempre pessoas conhecidas. Churchill era famosíssimo, cheio de sond-bytes, etc.
E a John Major sai na rifa o Governo de Margareth Tatcher. Quando ele vai a eleições, pela primeira vez, a campanha estava a correr muito mal. Ele não empolgava ninguém com os seus discursos.
Entretanto, eles tiveram uma magnífica ideia. Colocar no palco uma cadeira, uma só cadeira. O homem entra, tira o casaco, senta-se e arregaça as mangas. E em vez de discursar falou!
Como era um bom comunicador (embora péssimo orador) sabia explicar as coisas. E explicou lindamente o que tinha feito nos últimos quatro anos. E explicou o que poderia fazer mais.

Foi um sucesso: ele foi eleito!

Por falar em arregaçar as mangas, deixem-me dar-vos outro exemplo extraordinário: Carrilho vs Carmona.
O primeiro é uma superstar, casado com outra superstar. Cheio de tiques, tem pinta, bom comunicador, etc. Carmona será um dos políticos mais cinzentos de Portugal. Sem dúvida.
Portanto, quando eles fazem este cartaz [o orador mostrou o cartaz de campanha de Carmona Rodrigues onde o candidato aparece de mangas arregaçadas], o que estão a fazer é dizer que ele não é político. Mas este cartaz é tudo menos pouco político, pois pegam numa fraqueza de Carmona para a transformar numa arma de arremesso contra Carrilho.

Se tivesse sido Santana Lopes contra Carrilho teriam sido duas campanhas iguais: Lux contra Lux, Caras contra Caras (RISOS) e aquilo não saía dali…

E vocês têm alguma dúvida de que será Carmona a ganhar as eleições? É que eu não tenho!

PALMAS

Outra nota adicional, a pessoa responsável pela imagem de campanha do Prof. Carmona é o Júlio Pisa, e quando passarem por ele aqui na UV dêem-lhe os parabéns que ele merece.

PALMAS

O próximo tópico é sobre “saber escrever”
Não se pede a nenhum político que escreva como o Lobo Antunes, mas um político que não saiba escrever, mais cedo ou mais tarde é apanhado.
Mas atenção que escrever bem não é uma ciência transcendente. Há regras muito simples que podem ajudar.
Primeira: sejam directos. Quanto mais tentarem complicar uma frase, pior vai sair da frase. Coisas cheias de vírgulas, travessões, etc.
Portanto, uma linha não deve exceder as 15 palavras, um parágrafo não deve exceder as 5 linhas e um texto não deve exceder os 5 parágrafos.
Assim são claros, directos e a mensagem passa.

Uma das coisas que dizia o Carlos Carvalhas era “deixemos os léxicos pomposos”. Uma das razões que impede que a mensagem passe aos cidadãos é o facto dos políticos gostarem de complicar a mensagem. Estão mais a falar para os seus pares e menos para as pessoas.
Vejam: vocês ouvem um discurso do Presidente americano e não há uma única palavra difícil. Uma única! É tudo limpinho. Porquê? Porque ele quer passar a mensagem para o povo e não para o adversário.

Assim, não se excedam na linguagem, quer falada quer escrita.

Tipos de texto: está agora a ser-vos distribuído um conjunto de textos-base com exemplos dos três tipos de documentos que normalmente nos são pedidos para redigir. Convocatórias para conferências de imprensa, comunicados e press-releases. Cada um deles tem uma estrutura diferente.
 (notem que estas coisas impessoais de textos nem sempre resultam, o vosso melhor amigo para o sucesso é sempre o telefone, mas isto não deixa de ser um pró-forma necessário)

A estrutura da Convicatória requer “onde”, “quando” e, de preferência, o “tema”. Não se pode abrir muito o tema, senão perde o interesse.

Agora o comunicado. Quando não querem dar conferência de imprensa, ou querem mas preferem limitá-la ao texto do comunicado, a estrutura é esta:
Uma ideia por linha, e com uma estrutura descendente (as principais ideias no início, depois algumas críticas e termina naquilo que é importante).
Não sei se repararam mas os textos têm a ver com as Assembleias de amanhã…

A estrutura de um press-release é totalmente diferente. Imaginem que deram a vossa conferência de imprensa mas alguns jornalistas (que são naturalmente preguiçosos, até a pensar) contactam-vos a pedir um documento escrito, ou houve algum jornal que não esteve presente e solicita o texto da conferência.
Assim, um bom press-release é uma notícia prontinha a publicar. Não há melhor elogio a um press-release do que ele ser publicado na íntegra como se fosse uma notícia do próprio jornalista.
Portanto, quanto mais aproximado do estilo de jornalista melhor.
E isso implica outras coisas, como ter o contacto do jornalista, telemóvel e email.

Assim, o press-release tem de ter um bom título. Este tem de conter já o espírito da notícia. E o primeiro parágrafo deve abrir o apetite e, também no início, deve haver coisas como o “onde”, “quando”, etc. Eles não lerão muito mais que os primeiros dois parágrafos, portanto sejam directos.

Há uma dica particularmente útil: os olhos comem, por isso tenham atenção à formatação. Quem é que lê um texto com fonte 10, sem parágrafos alinhados, com pouco espaçamento?
Têm aí na vossa um exemplo de uma boa formatação e outro de má formação. Se fossem jornalistas, qual é que liam?

Eu trabalhei num semanário que não era muito abonado, e a certa altura pediram-nos que aproveitássemos as costas do papel. Posso dizer-vos que as resmas que eram compradas reduziram-se para metade, pois os press-releases mal formatados e não lidos passaram a ser folhas de rascunho.

Contactos com a imprensa.
Tenho duas notas sobre isso: o jornalismo de fontes por vezes é prejudicial, pois ninguém se serve do jornalista impunemente, ele mais cedo ou mais tarde vai-nos cobrar.
Mas também não têm de ter medo, pois também há bons políticos com má relação com a imprensa. Vejam o Rui Rio.

É óbvio que se eles forem vossos amigos vocês terão vantagens, mas notem que um político que seja bom orador, tenha conteúdo, etc, vende mesmo que a imprensa não goste dele.
Por isso cair nas boas graças dos jornalistas não deve ser a vossa prioridade. Até porque se aparecerem muito, podem começar a ficar queimados.
Façam essa gestão com cuidado.

 
Dep. Carlos Coelho
Voltando à questão da conferência de imprensa, a primeira pergunta que devem fazer é esta: ela é mesmo necessária? Se o não for, não a convoquem.
Muitas vezes, nas secções há muito a ideia de “vamos fazer uma conferência de imprensa e aparecer na comunicação social”.
Notem que se banalizarem este instrumento estão a desencorajar os jornalistas de aparecerem na próxima vez.
Segunda pergunta: os jornalistas vêm? Isto é: em função da matéria é expectável que haja interesse deles? Não há nada mais desmoralizante do que fazer uma conferência de imprensa e ter 2, 1 ou zero jornalistas na sala.
Eu já passei por essa experiência.
Terceira pergunta: fizemos ontem? É que se fizemos ontem ou há dois dias uma conferência de imprensa, ainda que sobre outro assunto, não vai haver espaço para outro tema nosso, por muito interessante que ele seja.
Até porque os jornalistas não acharão que vocês tenham alguma coisa muito importante para dizer num tão curto espaço de tempo.
Quarto: escolher bem o dia e hora, sobretudo quando lidam com jornais locais e regionais (que são semanais). Escolher no dia: se for dia de fecho é complicado porque os jornalistas estão no jornal a fechar a edição se for a sete dias de antecedência possivelmente não aparece nada porque já não é notícia quando o jornal sair.
Assim, escolham o dia em função da imprensa que têm.

Timing da convocatória: 5 dias de antecedência. Se for muito antes pode ficar esquecida pois as redacções nem sempre são muito organizadas, se for em cima do acontecimento correm o risco de já estarem comprometidos todos os jornalistas.
Ao enviarem a convocatória, não se esqueçam de confirmar com as redacções sobre a presença dos seus quadros. Vejam que nada é mais eficaz que o contacto telefónico.

O tamanho da sala: se for muito grande torna pindérica a conferência, uma sala pequena pode dificultar a logística (cenário, púlpito, bandeira e recolha de fotos).
Atenção à luz: a luz é muito importante, até por causa da recolha de imagens.
E agora a decoração: deve haver um elemento decorativo. Uma bandeira da jota, da associação, algo que dê uma imagem institucional ou política.
A estrutura que tenho aqui por detrás é perfeita: fácil de montar, tem boa imagem nas fotos e televisão, etc.
Pode facilmente mudar-se a imagem desta estrutura de fundo. (O ORADOR EXEMPLIFICOU DIVERSAS FORMAS DE MUDAR A IMAGEM DA ESTRUTURA DE FUNDO)

E vejam fundo: “o grupo surpresa descobre a careca do Rodrigo Moita de Deus” (RISOS POIS O QUE ESTAVA ESCRITO ERA “GRUPO SURPRESA DESCOBRE A CARECA DE CARLOS COELHO)

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Isto é um image-byte

RISOS

 
Dep. Carlos Coelho
Ainda sobre a conferência, algumas coisas breves.
Por exemplo, quem responde? Devem preparar antes quem responde a quê. Se estiverem 5 pessoas na mesa e só um falar dá a ideia que os restantes são atrasados mentais, (RISOS). E se não se entenderem antes, à mínima pergunta de um jornalista corre-se o risco de se acotovelarem a ver quem responde.
Distribuam o jogo antes!

Segundo ponto: falem para o público. Não interessa os jornalistas que estiverem à vossa frente, eles são mediadores da vossa mensagem, não são os seus destinatários.

Terceiro, se houver medidas impopulares ou difíceis, não lhes fujam. Enfrentem-nas.

Quarto: responder directa, clara e brevemente. Uma coisa muito comum é enterrarmo-nos naquilo que dizemos. Quanto mais falarmos mais oportunidades teremos de dizermos disparates, imprecisões, cairmos em contradição etc.
E respondam sem exasperação, com classe. Nós sabemos que certos jornalistas já vêm com uma “agenda” própria, com perguntas difíceis na manga. Ou porque não são da nossa simpatia política ou porque vêm “brifados” pelos nossos adversários.
E fazem perguntas que nos deixam a pensar: este tipo parece do PS ou do BE! Mesmo que achemos que as perguntas vêm com veneno, respondam com classe! Fica sempre bem a quem responde. Pode ser com ironia, pode ser com sarcasmo, mas sem dar o braço a torcer.

E nada de respostas evasivas, pois elas revelam fragilidades e insegurança.

E pensem nos tais sound-bytes, quais são as mensagens e frases que os jornalistas gostam e podem apanhar. Algo que retenha a vossa mensagem principal.

Cuidados a ter em geral.
Entrevistas: só dêem uma entrevista se tiverem algo a dizer. Às vezes são os próprios jornalistas a pedir, mas ninguém liga às entrevistas sem nada de novo!
Fotografias: tenham-nas à mão para uso dos jornalistas. Uma entrevista sobre a poluição do rio sairá melhor na imprensa se tiverem uma foto que possam dar ao repórter.

Na rádio tenham voz firme. Levem notas mas não leiam as notas, pois perceber-se-á isso lá em casa!
E cuidado com as pausas. As pausas em rádio, duma forma geral, são momentos de não comunicação. Em televisão é diferente pois com a imagem também se comunica!

 

Na televisão, respostas igualmente rápidas, pois os momentos em TV são geralmente curtos, gravata vermelha sobre camisa azul, camisas sem riscas nem brilho.

Quanto ao som em geral, atenção a ele. Uma das coisas boas da UV é o nosso som.
Faz toda a diferença ter um bom som. Ainda há dias estive numa iniciativa autárquica com 1000 pessoas. O som estava projectado apenas para 500. A partir de metade da sala não se ouvia nada: 500 pessoa que não nos ouvem não ficam em silêncio – falam entre si, obviamente, e fazem barulho. Ora das 500 pessoas que normalmente ouviriam o discurso, só 250 ouviram, pois as restantes estavam incomodadas com o barulho das 500 que não ouviam nada.
E cuidado com o feed-back.

A vamos agora aos 15 conselhos para falar em público.
1 – Não ter medo do medo!
Há uma grande história da Sarah Bernard, uma diva americana. Uma vez, ela estava à beira de entrar em cena e, num acto de simpatia, perguntou a uma corista: a menina está nervosa?, ao que esta respondeu: eu nunca estou nervosa no palco! E a Sarah respondeu: há-de estar minha filha, quando tiver algum talento!

RISOS E PALMAS

Todos têm algum medo. A primeira vez que eu falei em público fi-lo com voz firme, mas com as pernas a tremer (felizmente não se viam).
Todos têm medo, ou porque há uma audiência que não conhecemos bem, ou há uma circunstância que nos faz temer. Mas não temos de recear o medo, o medo (controlado) até pode ser bom pois previne uma coisa má em política que é o excesso de auto-confiança. A vaidade é perigosa.

2 – Não atrair os abutres. Ser firme
Como as moscas são atraídas pelo sangue, numa assembleia muitos são atraídos pela nossa fraqueza. É mais fácil atacar quem tem dificuldade em se defender. Isso sucede na natureza também, os predadores vão atrás dos mais fracos.
Sejam firmes! Nem que tenham de aparentar mais firmeza do que a que sentem!
Há vários truques para enfrentar audiências. Um deles é não nos afundarmos no papel! Mas para quem não gosta de enfrentar os olhares dos outros, outro truque é olhar um palmo acima da última cabeça.
Dá a aparência de estarmos a olhar para a audiência.

3 – Não começar a falar sem definir o objectivo e intuito da intervenção.
Imaginem que quero fazer uma intervenção sobre transportes. Mas qual é o meu objectivo? Eu posso querer ser racional e dizer qual é o meu modelo de transportes para Portugal. Ou posso querer transportar emoção, aí tento lançar uma campanha sobre determinada medida. O intuito é diferente. A estrutura do discurso não é a mesma.
Outro exemplo: num pedido de esclarecimento há vários objectivos.
Posso querer apanhar o orador em falso/contradição ou posso querer apenas enervá-lo/desestabilizar. Reparem que é totalmente diferente a minha intervenção em qualquer dos casos.

Outro tipo de intervenção é a “resposta a um pedido de esclarecimento”. É a figura onde temos menos liberdade, pois estamos vinculados ao que é perguntado.
Vejam esta simulação:

 
Dr.Alexandre Picoto

(com uma mascara de José Sócrates)
Senhor Deputado Carlos Coelho, eu ouvi-o com toda a atenção mas acha que é possível melhorar o combate aos fogos florestais?

 
Dep. Carlos Coelho
Sim, Senhor Primeiro-Ministro, não só é possível como é necessário. Podemos e devemos ser mais eficazes no combate aos incêndios florestais. Precisamos de mais e melhores meios de combate, de brigadas florestais, de mais eficácia na detecção de focos de incêndio e de um esforço redobrado na limpeza das matas.

PALMAS

(O que é que eu fiz? Respondi, esclareci a ideia, esclareci o que é que eu queria dizer com esta minha preocupação. Sublinhei o tema.)

 
Dr.Alexandre Picoto
(com uma mascara de José Sócrates)
Senhor Deputado Carlos Coelho, eu ouvi-o com toda a atenção mas acha mesmo que é possível melhorar o combate aos fogos florestais?
 
Dep. Carlos Coelho
Sim, senhor Primeiro-Ministro, mas neste momento, em que o pior já aconteceu, o que é urgente é apoiar quem tudo perdeu na voragem das chamas. E, se para tanto houver fundamento, obter da UE um fundo de solidariedade e a ajuda financeira que permita reforçar os meios e recursos que o Governo tem a obrigação de colocar à disposição dos que precisam.

(O que fiz agora? Lancei uma nova questão. Ele perguntou sobre combates aos fogos mas eu disse que isso já passou. Agora temos de apoiar os que precisam de ajuda. Mas imaginem que o outro orador insiste…)

 
Dr.Alexandre Picoto
(com uma mascara de José Sócrates)
Senhor Deputado Carlos Coelho, eu ouvi-o com toda a atenção mas acha mesmo que é possível melhorar o combate aos fogos florestais?

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Sim, senhor Primeiro-Ministro, é possível e desejável, somo teria sido desejável e seguramente possível que, enquanto o País ardia, o Primeiro-Ministro estivesse onde os portugueses sofriam e não algures no Quénia entretido num safari.

RISOS E PALMAS

(O que é que eu fiz? Eu “marimbei-me” para a substância! Eu ataquei-o. Peguei numa resposta e ataquei violentamente o interlocutor. Portanto, mesmo numa situação em que dependemos do impulso de um terceiro, temos uma paleta de reacções: esclarecer, levantar uma questão conexa ou atacar.)

4 – Não ignorar a audiência.
Olhem para as pessoas. Comunicar não é falar para mas sim falar com. Temos de ir sentido a reacção das pessoas, que é coisa que não acontece se estivermos afundados no papel.

5 – Não esquecer que (excepto em rádio) os outros vêem o discurso.
Não se “ouve” um discurso, normalmente “vê-se” um discurso. Vê-se o orador, os seus gestos, a expressão, o nervosismo, etc.
Urge “representar” o discurso, ter linguagem gestual. Nada de gestos exuberantes. É que, para lá do discurso, as pessoas focalizam-se apenas no acessório, na rábula.
Isto é muito importante porque temos aqui exemplos de bons comunicadores que falharam.
Vejam os tiques. Quando eles são habituais ou muito exuberantes tendem a desviar as atenções.
O eng. Guterres tinha o tique de compor o cabelo. Quando ele falava, muitos já só estavam atentos ao momento em que ele se descuidaria e faria o gesto de novo.
(MOMENTO ACOMPANHADO DE TRANSMISSÃO DE IMAGENS)
Era o seu gesto mais que comum.

Outro exemplo: Marcelo Rebelo de Sousa, outro grande comunicador. Quando foi presidente do PSD deu uma entrevista ao Miguel Sousa Tavares e à Margarida Marante. Fez a brincadeira de ora tomar notas com a mão esquerda ora fazê-lo com a direita. E fazia desenhos.
A determinada altura as pessoas deixaram de atentar nas suas palavras para passara a atentar nas suas mãos.
Era uma coisa que desviava as atenções do essencial. (MOMENTO ACOMPANHADO DE TRANSMISSÃO DE IMAGENS)

Repito, cuidado com os gestos. Dizemos que uma imagem vale mil palavras. Ora um gesto também vale mil palavras:
(MOMENTO ACOMPANHADO DE TRANSMISSÃO DE IMAGENS)
RISOS

6 – Não falar sem se sentir o que se diz
Recusem o discurso monocórdico. As pessoas sentem quando acreditamos naquilo que estamos a dizer. Isso faz toda a diferença.
Ilustrem o que dizem com as vossas experiências, sintam o que dizem. Se não o fizeram, as pessoas percebem-no.

7 – Ganhar a simpatia do público.
Sobretudo quando se é jovem.
Costuma dizer-se que não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira impressão.
Notem que a simpatia abre muitas portas.
Vejam este vídeo de uma suposta primeira intervenção parlamentar, aqui com uma simulação do Rodrigo.

(CLICAR AQUI)

Reparem que o Rodrigo ao disse nada (RISOS) mas deu uma imagem simpática. A sua primeira imagem foi simpática.

8 – Não sejam chatos.
Sejam breves e concisos, não falem demais, cuidado se falarem sem papel (podem perder-se) e não falem depressa demais.
Uma vez um Deputado nosso teve de abreviar a sua intervenção, em vez de cortar no texto (escrito), disparou a sua intervenção a ler. Ora não se percebeu nada.
E recusem o discurso redondo.
Temos aqui uma coisa bonita, sofisticada, que vale enquanto texto escrito mas não surte efeito na oralidade. Vejam o exemplo:

(CLIQUE PARA VER)

RISOS

Viram que foi bonito e sofisticado. Mas qual foi a mensagem? Perceberam? Foi esta:

(CLIQUE PARA VER)

RISOS E PALMAS

9 – Nunca falar do que não se domina.
Isso permite erros crassos, situações caricatas, disparatadas.

10 – Nunca decorem um discurso escrito.
Até porque as linguagens são diferentes. E caso venham a ter uma branca, foge-vos o resto.
Há um exemplo clássico, Churchill uma vez decorou um discurso mas a meio perdeu-se e foi incapaz de o concluir. Foi um embaraço monumental.

Também não devem pedir a outro que vos escreva o discurso. Caso isso acontecer, corrijam-no primeiro e mudam-no para o vosso estilo. Ou pelo menos leiam-no antes.

Vejam o que pode acontecer quando isso não se faz.

(CLIQUE PARA VER)

11 – Nunca descurem as defesas.
É útil introduzir alguns bons princípios (que todos subscrevem) no vosso discurso, até porque isso previne que vos digam: não há nada na sua intervenção com que eu possa concordar!
Assim, introduzam coisas do género: não há progresso em Portugal sem que ele se fala sentir em todas as regiões do País. Etc.
Há sempre qualquer coisa que poderão dizer que é seguramente subscrita pelos adversários.

12 – Nunca responder se não se sabe
Eu já assisti a situações embaraçosas de pessoas a gaguejarem e com ar apatetado.
Sejam firmes na ignorância, não há que ter vergonha e não saber tudo.
E há formas elegantes de manifestar que não se sabe.
Uma delas é dizer: nunca tinha visto esse problema sob esse ângulo!
Outra: gostaria de pensar um pouco melhor antes de responder.
Se quisermos dar graxa: bem, você invocou aí argumentos novos que merecem reflexão. Se eu respondesse já não lhe faria justiça.
RISOS
 Não tenham receio de assumir que não sabem! Porque ninguém sabe tudo!

(UM MINUTO INAUDÍVEL NA GRAVAÇÃO)

13 – Atacar protegendo a retaguarda.
Construam o vosso discurso tendo em atenção os possíveis ataques. Não digam coisas sem provas, não se coloquem em falsas posições.
Costuma dizer-se: “parece-me que”. Ora a mim parece-me que isso não é uma forma muito segura!
Dou-vos 3 exemplos de alguma subtileza:
A – A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e politicas.
A palavra responsabilidade é muito forte. Outra coisa forte em política são os adjectivos.
Bem mais forte seria se eu dissesse “consequências jurídicas e criminais”.
Mas ninguém nos pode acusar de nada, pois estamos a dizer “A confirmarem-se os rumores”…
B – Estamos preocupados com as informações que circulam que, a confirmarem-se, são prova da mais grave irresponsabilidade e aproveitamento de recursos públicos.
Isto tem força! E mais uma vez não nos podem acusar de nada.
Podemos ser ainda mais subtis. Imaginemos que somos oposição numa Câmara e o presidente tem imensas histórias altamente reprováveis, etc.
Vejam como podemos ser incisos sem cair na lama (quem cai na lama emporcalha-se):
C – Boatos com a gravidade como aqueles que correm nas nossas ruas têm de ser desmentidos, sob pena de minarem a credibilidade de autarcas que, até prova em contrário, devem merecer a nossa consideração.
O que é que se ganha aqui? Trouxemos os boatos a uma reunião oficial sem nos mancharmos. E em nome da dignidade das instituições.

14 – Nunca atacar com maldade. Dosear a agressividade.
Evitar ataques pessoais mas representem a vossa indignação, envergonhando o adversário.
Eu tinha aqui três exemplos mas vou suprimi-los porque já estamos um pouco atrasados

OS PARTICIPANTES
ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

 
Dep. Carlos Coelho
Pronto, ok, vamos ver as imagens

RISOS E PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Bem, poderiam sempre sacar isto da intranet…

(CLICAR PARA VER)

Mas nem sempre temos de nos defender. Por vezes temos de atacar.
E podemos fazê-lo de forma educada. É aquilo que eu chamo um “filho da mãe educadinho”. RISOS
Temos aqui dois exemplos:

(CLIQUE PARA VER)

15 – Este é o último conselho. Nunca admitir ser inferiorizado por factores como cor/sexo/idade (são os grandes factores de discriminação)
Há que recorrer à defesa da honra se isso acontecer.
Temos dois exemplos. Também do Gonçalo e do Rodrigo.

(CLICAR PARA VER)

Imaginemos uma situação múltipla, em que há varias discriminações. Uma mulher, preta, jovem, fala numa assembleia de velhos, brancos, racistas. E ela é amesquinhada.
É difícil pormo-nos da situação de quem quer que seja, mas eu reagiria assim:
Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado (esta acusação normalmente inquieta o outro. Porque foi capaz de um acto de discriminação, deve achar-se o maior). Não sei o que perturba mais (quando uma pessoa ataca pensa que perturba o outro, portanto aqui nós invertemos), se o facto de eu ser mulher, preta ou jovem. (sentir-se-á então um frio na assembleia) Qualquer destes receios (o senhor é um medroso) só por si já o deveria embaraçar. Concentre-se no que eu aqui disse e na razão que me assiste. Tudo mais é preconceito que o deveria envergonhar!

 
Dep. Carlos Coelho
Claro que para isto é necessária firmeza. Isso valorizará a reacção.
E nunca se esqueçam, em qualquer situação, o sangue frio!
Obrigado.

PALMAS

 
Daniel Fangueiro
Comecemos com as perguntas. Grupo Castanho, Ricardo Costa.
 
Ricardo Morgado da Costa
A confiança é uma coisa fundamental na relação entre os média e a política.
Na segunda-feira ouvimos o Dr. Rui Rio falar da enorme influência da imprensa e do carácter prejudicial que a mesma pode ter.
Mas também temos o reverso da medalha: o caso dos que se servem da imprensa para passar a sua mensagem e vender a sua imagem.

Eu pergunto se os políticos não terão também de mudar a sua postura para que a relação media/política seja mais séria.

PALMAS

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu tenho contactado muito convosco e aquilo que vejo é que a opinião é um pouco esta: se o jornalista é nosso amigo é um tipo fixe, se não for nosso amigo é um imprestável (não é isento, não é rigoroso, etc).
Olhem para estes nomes de jornalistas famosos: Mussolini (director de jornal), Paulo Portas (director de jornal), Marcelo Rebelo de Sousa (director de jornal), José Saramago (director de jornal), alguém tem dúvidas que nenhum deles era isento?

Eu estou a falar para uma audiência de futuros governantes, portanto aquilo que vos quero dizer é que é muito difícil a um jornalista deixar à porta da redacção as suas convicções.
E que tal, em vez de exigir a tal isenção dos jornais, fazermos ao contrário? Os nossos amigos dizem que são nossos amigos e os inimigos dizem que são inimigos!
Porque é que eu hei-de ser atacado por um jornal apenas porque o jornalista é socialista mas não diz? Porque é que eu hei-de ser elogiado pelo Luís Delgado?

A solução é simples: é pedir aos jornalistas que se assumam!

 
Carlos Serra
Parabéns por este excelente painel.
Quase todos nós aqui estamos a dar os primeiros passos no que toca a falar em público.
Devemos estudar todas estas técnicas, o que levaria a uma postura de certa forma artificial, ou começar por pegar só em algumas regras e tentar aperfeiçoar à medida que adquirimos o nosso próprio estilo?
 
Dep. Carlos Coelho
O pior que podem fazer é decorar os 15 conselhos e antes de começarem a falar fazerem uma check-list vendo se estão a cumprir todos os requisitos. RISOS

Isso não funciona assim. Até porque cada um de nós é diferente.
Esses 15 conselhos são um catálogo e só devem dar atenção aos que correspondem aos vossos defeitos ou insuficiências, pois o resto é normal.
E há defeitos que nós descobrimos por nós mesmos.
A primeira vez que ouvi uma intervenção minha na rádio ia caindo para o lado quando a minha mãe disse que não tinha percebido nada do que eu disse. Isso é um péssimo indicador: se a minha não percebe (RISOS) vejam bem os outros!
É que eu estava tão nervoso que falei rápido de mais e comia as palavras.
Portanto há coisas que podemos ver por nós mesmos e outras que só através dos nossos amigos. Os que são mesmo nossos amigos dizem-nos: aqui estiveste mal! É melhor fazeres assim e não assado!

 
Sofia Cavaco
Poder-se-á considerar que os políticos falam, falam e não dizem nada?
Obrigada.

RISOS E PALMAS

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Bem, há um pouco essa mania…
Em minha opinião pessoal há um problema da linguagem usada.
Cada vez mais se fala da distanciação entre políticos e eleitores e a verdade é que linguagem política continua a mesma há anos!

Esse é também o sucesso do BE: eles sabem comunicar! Não estão preocupados em nada mais que isso: passar a mensagem e fazê-lo bem!

 
Tito Silva
Em primeiro lugar queria agradecer este tema.
Nas últimas legislativas vimos uma recorrente fuga do PS aos debates, nomeadamente do seu líder, que fugia ao confronto com Santana Lopes.
Gostaria de saber o que acham de políticos que recusam esclarecer as suas ideias.
Gostaria também se ter mais conselhos vossos para pessoas como eu que ficam um pouco nervosas por falar em público
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Oh Tito, o corpo humano não é feito para estas tensões! Temos é de lhe dar alguns escapes.
O Prof. Marcelo, como não sabe o que há-de fazer às mãos, está sempre a mexer no relógio. Não é de certeza porque gosta.

Só um super-homem não sente a tensão.
Aquilo que podem fazer antes de falar em público é arranjar o vosso próprio tique. Eu por exemplo, tremo a perna debaixo da mesa.
Este é o meu escape.

 
Dep. Carlos Coelho
Debruçando-me sobre a postura do líder do PS, aquilo que ele fez foi uma estratégia de marketing: fugir pode ser uma boa táctica eleitoral.
Ou porque não estamos firmes do que estamos a dizer ou porque receamos o adversário. Ou outra razão qualquer.

Nós, nessa campanha, tentámos reiteradamente trazê-lo para o debate, porque estávamos convictos que o nosso líder lhe venceria no frente e frente. O nosso adversário sabia disso e fugiu o mais possível.

Isso é uma questão de estratégia e não de princípio.

O Zeca Mendonça está ali ao fundo a dizer que o Prof. Cavaco adoptava a mesma postura: ele dizia que não falava com quem não queria! Ele não aceitava debates e colocava-se noutro patamar.
E isso resultou, pois as pessoas olhavam para ele de outra forma, com outro respeito.

 
André Almeida
Queria agradecer-vos por esta apresentação que tão útil nos vai ser no futuro.
Ouvi dizer que os japoneses começam as intervenções por pedir desculpa e os americanos com uma piada.
Gostava de saber qual será a melhor forma de iniciar um discurso, para chamar a atenção para o que queremos dizer.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
São dois mercados diferentes: um japonês não tem a mesma reacção que um americano.
O presidente Bush, uma vez tinha de falar para um auditório mas estava cansado. Pediu desculpa pelo facto, sobretudo porque isso o ia obrigar a ter de ler um discurso. Passadas algumas palavras, olhou para a audiência e disse:
- Sim, eu sei mesmo ler!
E ganhou ali a simpatia e a atenção da assistência.
É importante saber as regras, tudo o resto é uma questão de adequação. Depende do público.
Se vais fazer uma apresentação de um ensaio sobre cultura clássica diante de Professores, é importante não fazer graçolas; se estão a falar numa reunião da associação de estudantes e estão todos a falar para o lado e a mandar sms’s, o melhor é dizer uma piada…
 
Dep. Carlos Coelho
Concordo com tudo isso e acrescento algo que faltava também dizer ao Tito: um orador jovem poderá captar a simpatia da assistência começando por reconhecer que está nervoso.

Pode, em alguns casos, ser um truque: desculpem o meu nervosismo mas é a primeira vez que falo em público.
Isso permite descarregar uma pressão, confessando a situação, ganha-se a confiança (pois confessada a coisa, sente-se que o pior já passou) e ganha-se a simpatia das pessoas.

 
Nuno Ferro
A pergunta é simples: o que fazer quando nos dá a chamada “branca”?
O que fazer nesse caso para retomar a linha de pensamento e o discurso?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu não sei responder a isso, tem mesmo de ser o Carlos porque eu atrapalho-me imenso (risos).
 
Dep. Carlos Coelho
Primeira coisa: não caiam no pânico. Eu sei que isto é muito bonito de dizer e complicado de fazer…
Já me aconteceu várias vezes porque eu tenho a mania de falar sem papel.
Aí tenho de decidir em segundos o que faço, em função da assembleia.
Vejam que eu há pouco tinha três coisas para vos dizer: disse a primeira e a segunda e não me lembrei da terceira. O que fiz? Assumi que não me lembrava porque nesta assembleia o melhor é mesmo fazer jogo limpo. Não tenho de disfarçar.

Para além de confessar o que é que se pode fazer? Pular! Imaginem que eu estou a falar de transportes: falei de carros, aviões, comboios, e depois ia falar de bicicletas mas tive uma branca e não me conseguia lembrar das bicicletas! Nesse caso “pulo” para as motorizadas.
Muitas vezes acontece que, falando de outra coisa, nos lembramos de algo que estava em falta. Nesse caso voltamos atrás com normalidade ou então dizendo: há pouco não vos falei das bicicletas e sobre isso é importante dizer que…

E se a branca for total e completa? Podem optar por reconhecer ou fazer o seguinte: eu há pouco falei de comboios e podeis pensar que esse tema não é relevante, mas atenção que (e discorrem sobre coisas que já tinham dito, de forma não terminarem mal a intervenção ou como tentativa de vos voltar o raciocínio).

Em qualquer caso, não se esqueçam de duas coisas: controlem o pânico e levem notas escritas. Até o Prof. Marcelo não as dispensa e ele é um dos melhores comunicadores que os portugueses conhecem.

 
Magda Borges
Antes de mais o Grupo Bege agradece a vossa disponibilidade de estarem connosco esta tarde (RISOS).
Partindo do princípio que nós aqui estamos em condições de igualdade porque todos somos excelentes estudantes, porque o somos

PALMAS

E vamos estudar tudo o que nos disseram, e que estamos todos em igualdade de circunstância, o que é que fará a diferença? Porque é que há políticos que passam e outros que não passam?

PALMAS

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Voltamos ao chavão dos políticos serem todos iguais.
Mesmo os que são iguais têm bons momentos, ou porque são eleitos ou aparecem em alturas de poder, mas a superficialidade gasta-se, como os sabonetes!

Agora os meus fortes vão ficando, não desaparecem.
Vejam o Marcelo! O Marcelo não é um orador teatral, que faz grandes discurso, empolgantes etc (e quando o tenta fazer a coisa corre mal), mas quando fala consegue deixar-nos de queixo caído, prende a nossa atenção como nenhum outro!

Eu lembro-me de um Congresso do PSD em que o Santana Lopes faz um discurso magnífico, com emoção e muito carisma, conquistando a sala. De seguida o Marcelo pede a palavra e eu pensei: vai ser um desastre, ele não devia falar a seguir ao Santana senão vai ser comparado directamente!
Ele chega ao púlpito e fica a falar durante 40 minutos. E as pessoas ouvem-no!
Perguntam-me: o que é que ele disse? Não me lembro (RISOS), mas ele ganhou o Congresso, portanto alguma coisa interessante deve ter sido dita!

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Magda, a única coisa que eu não concordo na sua pergunta são as condições de igualdade pois não as há.
Não há duas pessoas iguais! Há os que são muito bons no discurso e outros noutra forma de comunicação.
E mais do que isso, as coisas também dependem do momento! Eu hoje posso ter um impacto sobre a sua atenção e amanha não ter impacto nenhum pois a Magda amanhã pode não estar minimamente interessada em ouvir-me.

Não depende apenas de mim: depende de si, na minha mensagem e de mais factores. As circunstâncias podem mudar.
Umas vezes os povos querem líderes autoritários (pois pretendem estabilidade), e assim tivemos Cavaco, outras pretendem líderes que lhes falam ao coração. Tudo é fruto das condições e das pessoas.

Há uns anos, era ainda o João Bosco Mota Amaral presidente do Governo Regional dos Açores e as pessoas perguntavam-se como é que nas ilhas havia manutenção do poder com duas pessoas com estilos tão diferentes (na Madeira estava Alberto João Jardim). Mas o que é facto é que a convicção de muitos de nós é que o Mota Amaral não ganharia nenhuma eleição na Madeira e o João Jardim não ganharia eleições nos Açores. Porque os povos são diferentes.

 
Dionísio Mendonça
Boa tarde a todos, especialmente ao Deputado Carlos Coelho e ao Dr. Rodrigo Moita de Deus.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu tive de vir de propósito para aqui.
RISOS
 
Dionísio Mendonça
Eu estou nervoso. É a primeira vez que intervenho aqui na UV.

RISOS E PALMAS

Aquilo que o grupo amarelo quer saber é se é possível que um político que fale claro, seja objectivo, tenha propostas concretas será que só por isso consegue ser eleito.
Obrigado!

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Excelente pergunta!
O Rodrigo dará a opinião dele, a minha tem a ver com aquilo que eu disse à Magda: depende do momento!
A minha convicção é essa!
Hoje, se alguém se apresentar a Portugal com um discurso de verdade, ainda que com medidas impopulares, ganha o respeito dos portugueses!
Mas amanhã pode não ser assim! Tudo corresponde a um ambiente específico!

Nós temos um Sócrates que nos impostos disse uma coisa e fez outra, com as nomeações da Caixa Geral de Depósitos não está a fazer corresponder a prática aos princípios que sempre apregoou. A palavra em política está depreciada! Por isso é esta a altura certa para os que falam com rigor, ainda que com medidas duras, ganhem respeito.

Não sei se isso basta para ganhar eleições, mas basta para ganhar simpatia, repito, neste momento em que a credibilidade está tão maltratada.

O bem mais importante de qualquer actor político é a credibilidade. Eu posso ser o melhor orador do mundo que de nada serve se as pessoas pensarem que eu as estou a enganar; posso ser o melhor técnico do mundo mas terei problemas se as pessoas pensarem que estou a meter dinheiro no meu bolso. A credibilidade é um valor difícil de conquistar e fácil de delapidar.
Não a percam!

PALMAS

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Vejam uma coisa: o mercado é de tal forma exigente (aqui a palavra mercado soa horrivelmente, mas estou a falar da opinião pública, da comunicação social, das expectativas das pessoas), e a pressão é tanta que deixa muito pouco espaço para que não saiba manobrar!
Por muito que tenha as tais qualidades referidas pelo Dionísio!

Uma pessoa tem de se saber mexer, tem se meter na cabeça alguns conceitos importantes, como a falibilidade de uma grande parte das coisas que se escrevem nos jornais, porque sabemos que há muita contra-informação e notícias “marteladas”!

Têm de saber coisas básicas tais como a importância de lermos tudo o que nos metem na mão para assinarmos, pois gente para nos tramar está em todo o lado!

Há muito mais para além de se ser bom, é preciso saber estar. E é preciso agarrar bem firme aquilo que o Carlos disse: a vossa credibilidade.

 
Ricardo Rato
Normalmente os governos tentam controlar a comunicação social, algo que nem sempre tem bons resultados, como se viu agora com Santana Lopes.
Qual é a melhor forma de se estabelecer uma boa relação Governo/média?
Obrigado.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
De facto, os governos de Durão e de Santana ficaram com a fama e o de Sócrates vai ficando com o proveito, o que é incrível!
É uma ingenuidade pensar-se que essa tentação está arredada dos políticos no poder.
Em conversas que fui tendo com alguns de vós, ouvia-vos dizer que foi patetice não termos sido capazes de controlar a informação, pois o Estado tem muitos meios à sua disposição: a RTP, RDP, tinha-se a Lusomundo, e depois tantas e tantas empresas controladas pelo Estado que poderiam fazer informação e propaganda, como a Caixa Geral.

Mas nem todos são capazes de usar os meios que têm. Os socialistas são bons a fazê-lo e nós somos poucos discretos!

Qual é a melhor maneira de agir? É arredando a tal isenção e o rigor! Em Inglaterra, os jornais dizem antes das eleições quem é que apoiam! Nos EUA também!

Essa é, para mim, a melhor forma de dar a volta ao problema.

 
Adelina Cabral
Eu, por momentos, achei que já não estava na UV mas sim no meu local de trabalho, atulhada de comunicados, press releases e conferência de imprensa. Já agora, devo partilhar convosco uma das minhas grandes frustrações: convocar uma conferência de imprensa e ter zero jornalistas – é o pior que pode haver!

A nossa sociedade não é toda igual, não somos todos esclarecidos, não somos todos interessados, há desníveis enormes em termos de acesso e vontade de acesso aos meios e à informação.

O Deputado Carlos Coelho disse-nos que não há política sem comunicação, mas eu pergunto: há verdadeira comunicação na política portuguesa?

Obrigada.

 
Dep. Carlos Coelho
Vou tentar ser sintético pois a questão levava-nos longe.
Eu acho que há um défice.
Falando nas nossas próprias culpas, o PSD e os nossos governos nem sempre souberam gerir bem a informação, a comunicação e a propaganda!
As pessoas desconfiam da propaganda, pois ela é suspeita.
Por isso uma coisa é informar e outra é propagandear.
Na maior parte das vezes nós não soubemos explicar porque é que tomávamos determinadas medidas e muitas vezes caímos em excessos.
Vejam os outdoors da Câmara de Lisboa: começaram por ser uma boa solução de comunicação, mas a determinada altura passou a ser propaganda pura, pois já havia tantos cartazes a dizer “estamos a melhorar Lisboa”, “estamos a lavar os prédios”, “já viu como o passeio está limpo?”, etc, que as pessoas começaram a sentir-se agredidas.
Passou a ser propaganda pura.

Assim, é necessário perceber-se as diferenças entre informação, comunicação e propaganda e chegar à conclusão que não estamos a ser muito eficazes.

Agora, uma das condições de sucesso de uma boa informação é ela não ser feita pelo actor principal. Ex: estamos no governo e tomamos uma medida difícil na Educação. O que é mais eficaz: o Primeiro-Ministro falar em 15 segundos (em sound-byte) no telejornal, ou os quadros do partido ligados ao sector explicarem quais os argumentos a favor a medida?

O PSD e a JSD não têm feito debate temático. A nossa estrutura tem estado mais entretida nos factores de legitimação interna do que com a discussão séria das políticas!

Vozes
Muito bem

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
Vejam que há outras e melhores formas de comunicação (para além do sound-byte simples) que nós não estamos a saber usar!
E temos o melhor partido português! Temos o partido com maior base de militantes, muito acima do PS.
Temos gente com valor e não estamos a usar esses recursos.

Há um défice de informação, há um défice de comunicação e eu acho que você tem razão na pergunta que colocou.

 
Daniel Fangueiro
Bom, agora vamos às perguntas livres.
Vou tomar conta dos vossos nomes (pausa)
 
Alexandre B. Cunha Pereira
Eu venho dum concelho socialista há 16 anos e corremos o risco de chegar aos 20 anos de PS em Guimarães.
Nós até cumprimos mais ou menos os conselhos que aqui nos foram dados, até temos uma boa relação com a imprensa, só que aquilo que acontece é que encontramos quase toda a imprensa presa ao poder vigente e eu não sei como se pode alterar isso!
É sempre tão difícil às oposições autárquicas passarem a sua mensagem!
Eu também já tive zero jornalistas na sala e sei que é muito difícil viver com isso, sobretudo na noite que se segue a esse zero!

Vozes
Muito bem!

 
Alexandre B. Cunha Pereira
Para além de outras questões que eu gostaria de colocar sobre esta matéria, aproveito que tenho à minha frente um líder distrital e pergunto: para que serve uma Distrital?
 
Nuno Piteira Lopes
A minha pergunta tem a ver com a “amizade” com a comunicação social.
Como é que nos conseguimos proteger, por exemplo, do “excesso de amizade” do Luís Delgado face ao nosso partido, que eu acho que foi um factor de desgaste.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Vamos à imprensa regional.
Primeiro temos a questão do critério jornalístico: o Poder é sempre notícia.
Segunda: a questão do critério financeiro – quem é que tem dinheiro para publicar anúncios? É o Poder!

Quem é oposição regional tem sempre a imprensa contra si!
Eu já fui director de um jornal regional e sei bem como era!

Mas você tem sempre uma solução interessante: abra você um jornal! É permitido por Lei! Nem que sejam duas folhas A4 bem feitinhas! Não é tão complicado!

Vocês têm a noção do peso da imprensa regional no nosso País? É zero! Pouquíssimos leitores! Vocês lêem-se entre si.
A própria imprensa nacional vale pouco!
O jornal mais vendido é a Bola, o jornal não desportivo mais vendido é o Correio da Manhã, depois o 24 Horas! Só depois vêm o DN e o Público, com 40 mil exemplares vendidos por dia…
E nós somos 10 milhões!!!

O que é que vocês têm de pensar? Onde é que os outros milhões que não lêem nada vão buscar a informação?

PALMAS

Sobre a questão da amizade, não sei se repararam que depois da vitória do PS, o Luís Delgado passou a elogiar o Sócrates!!! Tinha o seu lugar de administrador em risco…

Como se pode dar a volta às amizades e poderio da imprensa? Com imaginação! O PP espanhol tinha a imprensa controlada e mandava dizer que os atentados eram da ETA e quando fora de Espanha se começou a dizer que afinal era o fundamentalismo islâmico, a mensagem começou a circular por SMS!
Felizmente vivemos num País onde a informação não é controlada! Qualquer um liga a CNN e confirma, ou vai à net!

E o PP perdeu e é bem feita! Mentiu descaradamente! Fez a pior coisa que poderia ter feito!

PALMAS!

 
Rita Pato
Falámos em credibilidade e em timing.
Imaginemos o seguinte: o candidato propõe-se, a sua intenção é boa, mas a sua postura deixa a desejar. Perde. Mas volta de novo, tentando corrigir os erros, mas perde novamente.
Não é um pouco forçado continuar a tentar?
Temos o caso de Pedro Santana Lopes que tentou várias vezes ser líder do PSD sem nunca conseguir. Depois, um dia, lá conseguiu. Não foi um pouco humilhante ter tentado tantas vezes?
 
Duarte Alves Brito
Obrigado Rodrigo pela tua dica, porque assim já fico a saber que não sou o único a tremer debaixo da mesa (RISOS) para desespero do meu grupo.
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Mas olha que não se nota nada! Quem te vê daqui estás muito composto!
 
Duarte Alves Brito
Muitas vezes, sobretudo em conversas (não tanto em plenários pois esses têm as suas regras) acontece sermos atropelados pelos mais velhos.
Há alguma forma de controlar essas agressões à nossa tentativa de expor ideias?
 
Dep. Carlos Coelho
Rita, a história de democracia está cheia de pessoa que só ganharam à terceira e à quarta!
E até melhoram a imagem! A memória que temos das imagens é muito efémera! Eu não se recordo da imagem que o Pedro Santana Lopes tinha há 4 anos, e confesso já ter dificuldade em me lembrar da imagem que ele tinha antes de exercer funções de PM.
Hoje somos muito bombardeados com informação que a nossa memória é muito selectiva e só retém coisas mesmo importantes.

Portanto é perfeitamente possível a qualquer pessoa melhorar a imagem!
Há dias recordava com alguns amigos histórias antigas da JSD e alguém falou da minha barba. Eu usei barba durante três anos e gente que fazia política comigo nesse tempo já nem se lembrava disso e duvidava até da situação.
A memória é selectiva. Por isso ninguém que perca deve ter medo de voltar a concorrer. Tem é de saber onde falhou para melhorar!

Duarte, duma forma geral as pessoas com mais idade é menos activa e menos criativa que a malta nova. E sabemos que muitas vezes quem ganha é quem propõe coisas novas para a agenda. Esses são os que dominam o debate.

Agora, se a coisa chegar ao ponto da discriminação, se alguém disser: você é demasiado novo ou a sua opinião não conta ou você não tem experiência de vida, então não se calem!
Digam logo que a vossa legitimidade é semelhante! Que o outro se devia envergonhar por usar argumentos tão baixos!

PALMAS

 
Ricardo Morgado da Costa
O Deputado Carlos Coelho disse que devemos falar de forma directa, concisa e breve. Eu peço que todos analisemos o exemplo do Dr. Alberto João Jardim. RISOS
Quando o Dr. Jardim nos chama de cubanos, está a ser directo, conciso e breve! RISOS
Isto leva muitas vezes ao seu descrédito! Na vossa opinião qual é o seu segredo para a longevidade política?
 
Bruno Ribeiro
Pego também na questão do falar de forma directa e clara.
Muitas vezes, na actividade política, sobre obrigados a falar o chamado “politiquês”. Dou o exemplo da Assembleia Municipal onde o colega do lado, por muito nosso amigo de infância que seja, devemos tratá-lo por Senhor Deputado, até pela própria dignidade do órgão.
Pergunto-me se não estamos com isto a estabelecer mais um entrave entre nós e as pessoas para quem queremos falar, que são os eleitores que seguem os debates parlamentares na televisão e os cidadãos que assistem às assembleias municipais.
Não devemos nós adaptar-nos aos novos tempos e aos públicos?

PALMAS

 
Dep. Carlos Coelho
O Bruno disse uma coisa importante: nós devemos falar para as pessoas que queremos influenciar!
Eu, quando falava no Parlamento, não o estava a fazer para os outros Deputados mas sim para os cidadãos que iam ouvir a intervenção na televisão ou lê-la nos jornais se ela tivesse repercussão.
Porém, temos de seguir as regras, embora não devemos exagerar as liturgias.

Ricardo, eu não gosto do estilo do Dr. Jardim, portanto você notou uma insuficiência na minha exposição: para além de sermos claros, concisos e tudo o mais, devemos ter igualmente bom-senso.

Muitas das declarações do Dr. Alberto João falham neste requisito. Porém, é um estilo que a população madeirense gosta! E devemos respeitar isso.
De qualquer forma, tenho a ideia que não é um estilo exportável.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
É minha opinião que o estilo que Dr. Jardim não é espontâneo nem ingénuo! Muito menos genuíno. Ele sabe o que está a dizer e sabe para quem está a falar!
E vejam que ele é popular na Madeira pela reacção que provoca no continente: “vês como eles têm medo dele?”.
Isso dá votos!

PALMAS

 
Nelson Sá
Quando uma pessoa está nervosa, a sua respiração fica descontrolada.
Numa das minhas primeiras intervenções públicas, num Encontro de Dirigentes Associativos, senti que a minha voz estava muito diferente (como a sinto agora), senti-me nervoso e sem controlar a forma como soava.
Como se consegue controlar este factor?
 
Adelina Cabral
A minha questão prende-se com a gestão de uma crise, numa empresa, por exemplo.
Como se gere uma crise? Quem é que deve falar? Devemos ser reactivos ou pró-activos? Devemos ser transparentes ou guardar informações para tempo oportuno?
 
Pedro Veloso
Uma ideia que retire hoje é sobre a objectividade – falar-se apenas quando se tem algo a dizer, ideias a transmitir.
Veio-me logo à cabeça a imagem do nosso Presidente da República.
Eu nunca tive afeição pessoa por ele, já antes de ele ter feito o que fez ao nosso último governo.
A minha pergunta é simples: como é possível alguém de cujos discursos não se consegue extrair uma única ideia, chegar a um cargo tão elevado e gozar de tanta popularidade?
 
Vasco Rosa da Silva
Houve uma mentira do Eng. Sócrates sobre os impostos, porém as sondagens não reflectem o impacto dessa mentira sobre a opinião pública.
O que é que se passa?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
A voz é uma coisa importante.
Com a tua pergunta descobri que faltava uma coisa na nossa apresentação: o treino!
Quando não se tem talento genuíno pode-se sempre treinar! Deve-se treinar!
A primeira vez que me vi na televisão passei-me! Sempre que ouço a minha voz fujo!
Porque não há nada como o treino! Ensaiem, repitam, gravem a vossa voz! Assim, pelo menos não ficam assustados quando a ouvirem!

Sobre a gestão de crises. Eu há pouco falei de Espanha. Nos últimos tempos, as grandes crises foram as de Espanha e da Rússia e em ambos os casos o que correu mal foi terem mentido!

Se o Aznar tivesse dito: eu não sei quem foi!, possivelmente a coisa teria corrido de forma diferente!

A transparência é uma boa expressão, mas não temos de dizer aos outros tudo o que sabemos, agora nada justifica que se minta! Até porque as pessoas não são estúpidas. As pessoas até poderão perdoar uma mentira se a mesma for reconhecida, mas se insistirmos é o nosso fim.

 
Dep. Carlos Coelho
Adelina, na gestão duma crise política o essencial é o tempo.
Nos nossos dias, a resposta mais inteligente e mais elaborada não tem qualquer eficácia se for tardia.
A gestão de tempo é crucial. Às vezes a rapidez compensa algo que é menos bem feito.
Acção ou reacção? Um pouco das duas coisas. Quando estamos debaixo de fogo temos de reagir, mas também é usual agir, criando outro facto para desviar atenções.

Pedro, o Sampaio chegou lá porque as pessoas votaram nele.
Há várias razões: é mais fácil termos um Presidente de esquerda que de direita, porque muitos portugueses se reconheceram naquele estilo meio desengonçado, meio emocional, etc, não sei explicar.
O que sei é que os portugueses votaram nele! É a democracia!

Vasco Silva, mentiram nos impostos e não baixam nas sondagens. Porquê?
Há uma coisa em política e na vida que é gerir as expectativas. O que é isso? É lançar objectivos mais baixos do que os que pretendemos atingir: assim o que vier a mais é vitória.
Qual é a relação disto com o caso dos impostos? É que eu estou convencido que os portugueses sabiam que isto era inevitável!
Mesmo contra as promessas fáceis, os eleitores sabiam que os impostos teriam mesmo de subir.
Ou seja, o eleitor não votou no PS pelas promessas de não subir os impostos. Foram outros os factores que deram a vitória ao PS e alguns deles são da nossa responsabilidade.

Agradeço muito a vossa atenção e as vossas perguntas.
O Rodrigo e eu vamos sair para vocês fazerem a vossa avaliação.

Não se esqueçam que às 17.00h recebemos nesta sala o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

PALMAS